A primavera chegou, mas outubro continua amarelo

A cada 40 segundos, uma pessoa se mata no mundo. Isso é mais do que guerra e homicídios juntos. No Brasil, a taxa de homicídios é maior, mas o número não deixa de ser assustador: são 32 casos por dia. Apesar de ser chamada de “epidemia silenciosa”, há informações disponíveis que são muito úteis para prevenção. Precisam ser divulgadas e colocadas em prática.

Já escrevi aqui sobre o aumento alarmante de suicídio, principalmente entre idosos. E não custa retornar ao tema quando se dedica um mês inteiro, e um tantinho a mais, voltado a sua prevenção. A Universidade de São Paulo está com várias atividades abertas ao público até outubro.  O Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) promove simpósios para ajudar os profissionais da Saúde a lidarem com a situação, tratada como epidemia silenciosa. E eu aproveito para recomendar a leitura de um livro incrível, que muito me ajudou durante a fase mais aguda da depressão que tive, há pouco mais de 15 anos. Chama-se “Demônio do meio-dia: Uma anatomia da depressão”, de Andrew Salomon.

Leitura para ser feita a qualquer tempo e em qualquer estação. Afinal, a Primavera está aí para florescer é dentro da gente! Eu gosto muito de uma letra do Ney Matogrosso (ele de novo, sim!!!!) – da época do Secos & Molhados. É uma poesia maravilhosa sobre resistência em qualquer circunstância:

“Quem tem consciência para ter coragem

Quem tem a força de saber que existe

E no centro da própria engrenagem

Inventa a contra-mola que resiste

Quem não vacila mesmo derrotado

Quem já perdido nunca desespera

E envolto em tempestade decepado

Entre os dentes segura a primavera”

Primavera Nos Dentes

E para resistir, o primeiro passo é reconhecer a doença. E admitir que se é portador de algo que precisa ser tão controlado como diabetes ou hipertensão. Precisamos de um novo olhar para os transtornos mentais, que nada mais são que disfunções no funcionamento da mente. E sim, podem afetar qualquer pessoa e em qualquer idade e, geralmente, são provocados por complexas alterações do sistema nervoso central.

Existem diversos tipos de transtornos, que são classificados em tipos, e alguns dos mais comuns incluem aqueles relacionados à ansiedade, depressão, compulsão e alimentação, para citar alguns dos meus velhos conhecidos. E quanto mais informação divulgada maior a chance de prestar assistência a quem precisa. Então, vamos lá!

Debates e assistência psicológica

Até o dia 10 de outubro, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo promove atividades do Setembro Amarelo, uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio. Desde 11 de setembro tem sido realizadas palestras, mesas-redondas, oficinas e atividades culturais, voltadas ao debate e ao acolhimento sobre saúde mental.

Professores da FFLCH e de outras unidades da USP e especialistas de instituições de ensino e saúde vão discutir o assunto de uma forma interdisciplinar. Todas as atividades são gratuitas, mas é preciso inscrição para as oficinas. Interessados devem acessar a  página Setembro Amarelo FFLCHpara se cadastrar.

Plantão de atendimento

No Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), serão oferecidos plantões de atendimento psicológico, sob coordenação da psicóloga Margareth Labate. Eles são promovidos pela Comissão de Apoio à Comunidade (CAC) do instituto. Os atendimentos são gratuitos e acontecem nas salas 205 e 206 do prédio ICB IV, das 10 às 18 horas, às terças e quintas-feiras do mês de setembro.

São Carlos

Em São Carlos, a programação começou no dia 13 de setembro e foi desenvolvida conjuntamente entre a Prefeitura do Campus USP de São Carlos (Serviço Social, Centro Cultural e Cefer), Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), Teatro da USP (Tusp), Centro Acadêmico Armando de Salles Oliveira (Caaso) e Sanca Social.

Os eventos são destinados a toda a comunidade (alunos, professores e funcionários técnico-administrativos). Não é necessário realizar inscrição prévia. Informações podem ser obtidas pelo telefone (16) 3373-9111.

Ribeirão Preto

Serviços de rotina em saúde mental são oferecidos para todas as unidades do campus pela equipe do Centro de Orientação Psicológica (COPi) – setor especializado no atendimento clínico a alunos e funcionários, mantido pela Prefeitura do Campus da USP em Ribeirão Preto (PUSP-RP). A sede do COPi fica na Rua Clóvis Vieira, casa 32, no campus. Medicina, Direito, Administração e Educação Física também programaram atividades.

Rio Preto

Setembro RP

Em Rio Preto, o Centro de Vigilância Epidemiológica, da Secretaria Estadual de Saúde, promove, no dia 27 de setembro, o 1º Simpósio Regional de Prevenção ao Suicídio, com diversas palestras voltadas aos profissionais da área. Confira.

Com Portal Plena.

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Desconstruindo o colágeno

A busca para manter uma aparência jovem leva cada vez mais pessoas a consumirem colágeno como se fosse o elixir mágico da beleza. E, de fato, ele tem sua importância. Mas será que é usado da maneira correta? E qual é sua parcela de culpa no processo de envelhecimento?

Não existe receita pronta e generalizada na prescrição nutricional para repor todas as perdas que ocorrem com o passar dos anos. Um programa alimentar e a suplementação precisam ser individualizados e reavaliados regularmente, de acordo com o estilo de vida de cada um. Mas a busca para manter uma aparência jovem leva cada vez mais pessoas a consumirem colágeno como se fosse o elixir mágico da beleza.

De fato, o colágeno é de extrema importância para a saúde ao garantir força e mobilidade para diferentes partes do corpo. “Trata-se de um composto de proteínas presente na estrutura humana, mas que deixa de ser produzido gradativamente com o passar dos anos”, explica a dermatologista Adriana Caldas, professora da Faculdade de Medicina Estadual de São José do Rio Preto.

Sua produção é realizada por células chamadas fibroblastos e sua  principal função é dar suporte e sustentar a estrutura da pele, prevenindo a flacidez e o aparecimento de rugas. “Além de deixar a pele mais firme e bonita, o colágeno também é importante para a função de sustentação das células, atua na cicatrização e contribui para a integridade e o funcionamento normal dos ossos, músculos e cartilagens”, completa a nutricionista Adriana Lima, da Clínica Fares.

De repente 30

Mas a derrocada começa cedo:  a partir dos 30 anos a produção pelo organismo cai, em media, 1% ao ano. E depois dos 50 anos a perda é mais acelerada, principalmente nas mulheres.

O médico Jardis Volpe, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, explica que é possível identificar que o processo começou porque o contorno do rosto muda. As rugas aparecem e as bochechas e pálpebras parecem cair.

Não à toa, produtos com colágeno já abarrotam as gôndolas dos supermercados. Há opção para todos os gostos e bolsos: balas, capsulas e bebidas prometem rejuvenescer, hidratar, purificar e até aliviar o estresse. Só que funcionam em pouquíssimos casos.

“Na maioria das vezes não há uma dosagem suficiente para fazer com que você rejuvenesça, principalmente para aqueles pacientes com idade mais avançada”, afirma o dermatologista.

Alimentação é coadjuvante

Tanto Adriana quanto Jardis destacam que para que o colágeno seja bem aproveitado, é preciso  associá-lo com uma alimentação balanceada porque o organismo precisa de outros nutrientes para que o efeito seja eficiente.

“É necessária a participação de zinco, cromo, silício, selênio, cobre, das vitaminas A , E e C além de vitaminas do complexo B, como a piridoxina, a biotina e o ácido pantotênico”, explica a dermatologista. E, em cada pessoa, essa necessidade é diferente.

É possível ainda encontrar colágeno em alimentos de origem animal como carnes e gelatinas. O que ainda não está comprovado é se ele pode ser absorvido apenas pelo seu consumo.

Principais tipos e suas funções

Existem pelo menos 16 tipos de  colágenos, mas o tipo I e tipo II são os mais utilizados nas reposições.

O colágeno tipo I representa 90% do total do nosso corpo. Ele fornece estrutura para a pele, ossos, tendões, cartilagem fibrosa, tecido conjuntivo e dentes. Recomenda-se o uso de 10g por dia junto com as refeições e com um alimento rico em  vitamina C

O tipo II é feito de fibras frouxamente empacotadas e é encontrado na cartilagem elástica, que servem de “almofadas” para as articulações. É indicado para doenças como osteoartrite de origem autoimune e artrite reumatoide. Recomenda-se 40 mg por dia em jejum .

Com 15 anos, Estatuto do Idoso ainda é ineficiente

Perdi a conta de quantas ligações da Caixa Econômica Federal meu pai, de 76 anos, recebeu com a oferta de um empréstimo consignado de R$ 10 mil. Um assédio a insistência. Importante contar isso porque nem sempre um idoso compreende o que de fato está acontecendo. E nem sempre haverá um cuidador para colocar os pingos nos is, como tive de fazer com a atendente ao telefone, diante da contundência da oferta.

Prestes a completar 15 anos em primeiro de outubro, o Estatuto do Idoso apresenta falhas e tem muito a ser atualizado, principalmente se for levado em conta esse novo consumidor idoso. Por isso, as alterações recentes sancionadas pelo presidente Michel Temer são positivas, mas insuficientes diante do Brasil Sênior que se desenha.

Basta levar em conta que apesar de ainda jovem, essa legislação não previu quando nasceu que os cidadãos fossem alcançar, e ultrapassar, os 80 anos. Com isso se fez necessário mudanças para priorizar as necessidades dos 80+ em relação aos demais idosos.

“Os idosos 80+ são muito diferentes dos idosos 60+. São mais sensíveis, mais vulneráveis, têm mais problemas físicos, têm (ou não) mobilidade reduzida. Em troca, têm mais conhecimentos acumulados e mais pressa em compartilhar esses conhecimentos”, escreve Vovô Neusa, do alto de seus 85 anos.

Favorável à alteração,  Neuza Guerreiro de Carvalho é um dos Talentos da Maturidade, e a responsável pelo Blog  Vovó Neuza. Professora aposentada, memorialista e pesquisadora, ela tem uma incrível agilidade para conduzir esse trabalho. “Estou saudável, integra o quanto se pode ser nessa idade, ativa, ainda entusiasmada e motivada a procurar projetos e atividades”.

As novas regras definidas representam, sem dúvida, um marco legal na proteção de uma parcela da sociedade brasileira representada por Vovó Neusa e cada vez mais numerosa. Mas isso não significa que os direitos definidos são, na prática, respeitados, conforme apurado por Ana Vargas, gestora do Portal Plena. O canal é o mais novo parceiro do Casa de Mãe. O objetivo  ao unir forças é ampliar e melhorar a cobertura sobre o tema proposto.

“O que se percebe é que o Estatuto do Idoso não tem sido eficiente na proteção dos interesses individuais e coletivos dos idosos brasileiros”, diz o advogado Everson Prado, especialista em Direito Contratual e Consumerista da Barbero Advogados.

Para ele, ainda que a legislação atual detenha instrumentos que impeçam os abusos cometidos contra as pessoas mais velhas, é comum o surgimento de casos de infração contra idosos que necessitam da intervenção do Poder Judiciário para que a legalidade se estabeleça. As políticas abusivas de cobrança de planos de saúde para idosos, bem como situações nas quais ocorre o endividamento destes devido a políticas agressivas de concessão de crédito consignado, são alguns exemplos.

Prado destaca que a oferta ‘facilitada’ de crédito aliada à omissão das reais condições do negócio e do fato de que o desconto das parcelas é feito diretamente na folha de benefício previdenciário, são os principais instrumentos usados pelas empresas deste setor para agir de forma abusiva. Não é razoável exigir que o consumidor idoso, dentro de suas limitações, detenha condições mínimas para compreender todas as informações do crédito ofertado, bem como domine os canais de atendimento, cada vez mais dinâmicos e digitais”.

Não à toa, o Estatuto do Idoso se comunica diretamente com as normas protecionistas do Código de Defesa do Consumidor. E é a grande vulnerabilidade dos idosos diante das investidas cada vez mais abusivas das empresas, combinada com a falta de fiscalização,  que contribuem, segundo Prado, para a judicialização dos casos.

Ele cita, como o exemplo, o julgamento decorrido de uma Ação Civil Coletiva que tramitou perante a 11ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais e  que resultou no impedimento de uma prática bastante conhecida por todos nós: a promoção de cartões de crédito via telefone.

Nesta prática muito comum, atendentes ligam para os idosos oferecendo cartões de crédito e estes, munidos de boa fé e ingenuidade, aceitam as propostas feitas e, a partir daí, costumam ficar endividados a ponto de não poderem manter o próprio sustento.

“A ação civil coletiva adveio de denúncia sobre abusividade na concessão de crédito para aposentados e pensionistas com limites superiores em até duas vezes o valor do benefício e com desconto direto em folha de pagamento. Caso flagrante de política agressiva que contribui para o descontrole financeiro dessa fatia da população que demanda atenção especial”, conta Prado.

Por esses e outros motivos, o especialista afirma que o Estatuto doIdoso ainda não alcançou a efetividade esperada.  Veja abaixo os principais pontos desta entrevista:

O Estatuto do Idoso funciona de forma efetiva ou se trata de mais um documento bem intencionado que, na prática, deixa a desejar?

O Estatuto do Idoso, desde sua criação, trouxe importantes avanços na proteção dos interesses individuais e coletivos dos idosos. Acesso ao transporte público gratuito, vagas de estacionamento marcadas, a implementação do benefício assistencial do LOAS [Lei Orgânica de Assistência Social] e a tramitação privilegiada em processos judiciais são exemplos práticos em que o documento alcança alguma efetividade. Todavia, em alguns segmentos específicos, o documento não tem a efetividade esperada, como no caso da exposição exacerbada dos idosos ao crédito facilitado e seus reflexos no cotidiano dessa fatia da população.

Poderia citar algum caso em que sua atuação como advogado beneficiou um idoso que o tenha procurado por ser vítima de algum abuso previsto no Estatuto?

Estamos atuando em um caso em que um casal de idosos teve a contratação de plano de saúde negado em razão da chamada “sinistralidade” e em razão de sua idade avançada.

Quais são os principais abusos cometidos contra os idosos?

Reajuste desproporcional em mensalidades de planos de saúde, cancelamentos de planos de saúde empresarias compulsoriamente após a aposentadoria do idoso e superendividamento do idoso são ocorrências que sempre se repetem.

Em relação ao endividamento, é comum vermos que algumas empresas chegam a ligar insistentemente para idosos/aposentados oferecendo ‘facilidades’ relativas à oferta de crédito e muitos continuam caindo nesse golpe. Não haveria uma maneira legal de impedir isto?

Apesar de um projeto de lei visando beneficiar o consumidor exposto ao assédio típico das empresas desse segmento ter sido aprovado na Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara de Deputados, efetivamente não há uma maneira legal de impedir essa prática. O que ocorre é que os benefícios são pagos por meio dos bancos, que tem acesso a esse tipo de informação e a partir disso passam a classificar o idoso como potencial usuário destes serviços de crédito, sem se preocupar, muitas vezes, com a forma que as condições e a contratação do negócio é disponibilizada.

Em relação aos reajustes abusivos dos planos de saúde: como o idoso deve proceder diante disso. O que ele pode fazer, de forma prática e legal, para não aceitar esse tipo de abuso ?

O idoso tem que verificar se o reajuste encontra-se em acordo com a previsão do órgão regulador, que no caso é a ANS. O reajuste do usuário que superou a faixa dos 59 anos não pode ser superior a seis vezes o valor do usuário enquadrado na primeira faixa do plano de saúde, que é aquele que tem idade de 0-18 anos. Caso se verifique o reajuste desproporcional, o idoso pode fazer reclamação junto ao Procon, procurar a Defensoria Pública ou advogado, bem como realizar denúncia ao Ministério Público para averiguar as irregularidades que detém as prerrogativas necessárias para apurar e levar o caso adiante.

A maior parte dos idosos brasileiros é formada por pessoas de classe média/baixa que, em caso de abusos, não teria como arcar com despesas legais. O que pode ser feito?

Não só em relação aos idosos, mas toda a população hipossuficiente economicamente pode valer-se dos benefícios da assistência judiciária gratuita, antes regulada pela Lei 1.060/50 e atualmente enraizada no Código de Processo Civil, o qual garante à parte a isenção de custas e despesas legais aos cidadãos que fizerem prova dessa condição.

Qual sua opinião sobre alteração realizada no Estatuto ano passado?

A alteração traz entendimento que, dentre a população idosa, também há diferenciação em razão do agravamento do risco de saúde pelo avanço de sua idade e diante disso adotou critério objetivo para tratar as urgências em uma camada da população que já deveria ter, em tese, prioridade de atendimento. Do ponto de vista técnico, apesar de não existir ilegalidade na alteração, o que se demonstra é a ineficiência das instituições em garantir uma prioridade que já deveria estar sendo observada.

Com Portal Plena.

Decifra-me ou te devoro

AEstou hospedada na casa da amiga Patrícia Oliveira que é nutricionista e com quem sempre aprendo muito. Essa estada trouxe à tona um assunto bastante importante, que não depende da idade, mas que pode ficar mais complicado à medida que os anos passam. É que a leitura do rótulo dos alimentos não exige somente uma lupa para enxergar as letrinhas miúdas. Requer também sabedoria para decifrar as entrelinhas.

Como sempre a pauta veio de Casa. Depois de anos de insistência, meus pais se convenceram de que alimentos integrais merecem destaque à mesa. Mas ainda pecam por achar que são  totalmente livres numa dieta para perda de peso. Falta-lhes compreensão sobre o que estão ingerindo. Não são os únicos, por certo, diante da crescente preocupação com a saúde e da busca por hábitos mais saudáveis.

Assim, se ler os rótulos dos alimentos deve ser regra, por trás dessa mudança de comportamento existe outro problema significativo: nem todo mundo compreende o que está escrito.

Estudo feito pelo Disque Saúde, do Ministério da Saúde, aponta que apenas 38% das pessoas que fazem leitura das embalagens entendem as informações. A pesquisa não é recente, mas ainda reflete a realidade, segundo Patrícia, à frente da Nutripon Clínica e Consultoria. “O que as pessoas mais olham é a quantidade de calorias”, diz.

Isso, porém, não é nem de longe o mais preocupante. Para uma alimentação saudável, é preciso observar as informações nutricionais e a relação de ingredientes presentes no produto, ou seja, o que cada um deles faz pelo organismo – de bom e de ruim. “O rótulo é uma forma de comunicação da indústria com o consumidor”, explica.

De acordo com ela, esses dados não são equivalentes ao produto como um todo, e sim de uma porção. E aí é que mora o perigo. Na soma, pode estar oculta uma quantidade prejudicial de substâncias como os açúcares acrescentados, considerados ruins, e os açúcares presentes naturalmente, que não são ruins, mas em excesso comprometem a dieta.

“O grande problema é que o açúcar pode estar com outros nomes, como invertido, mascavo, orgânico, demerara. Além disso, sua forma molecular composta por glicose e frutose aparece em outros componentes, como o xarope de glicose, o xarope de milho, a maltodextrina, a dextrina e o mel”, diz Patrícia.

Ela destaca ainda que se o açúcar aparece em primeiro lugar na lista, o produto certamente conterá porções elevadas desse composto. Explica-se: a ordem em que os ingredientes são apresentados obedece ao seu peso no alimento.

As gorduras trans e a interesterificada – mistura de gordura hidrogenada e óleos vegetais – também são ingredientes que costumam ser camuflados. Isso porque a legislação brasileira abre essa brecha.

No caso da trans, encontrada em gorduras hidrogenadas, em frituras e em alimentos de origem animal, se o produto tiver até 0,2 grama, pode ser declarado como isento. Logo, se o consumidor consumir mais que uma única porção ou mesmo consumir outros produtos declarados como isentos, pode passar da quantidade de 2 gramas diárias permitida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (órgão regulador de medicamentos e alimentos) deu prazo até 2018 para retirar essa gordura dos alimentos. A Europa também trabalha nessa questão por causa da Síndrome Metabólica (conjunto de doenças que aumenta o risco de problemas cardiovasculares), da diabetes e da hipertensão.

A gordura na forma interesterificada não é declarada apesar de trazer enormes prejuízos, como diminuição do HDL (o “colesterol bom”, que retira gordura dos vasos e artérias) e aumento do LDL (o “colesterol ruim”, que deposita gordura nos vasos e artérias).

Outro ponto de observação é que o sódio declarado no rótulo é apenas o presente nos alimentos. O que está embutido em aditivos como corantes, por exemplo, não é discriminado no rótulo.

A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda que adultos consumam até 5 gramas por dia de sal e de cerca de 50 gramas por dia no caso dos açúcares. No entanto, um estudo do Ministério da Saúde mostra que 70% dos brasileiros estão extrapolando esses limites e consomem ao redor de 12 gramas de sal, mais do que o dobro do recomendado.

Patrícia ainda destaca que os alimentos processados receberam sal e açúcar para durar mais. Os ultraprocessados – como refeições prontas, feitas com extratos dos produtos naturais – são abundantes em conservantes.

O que é importante observar na hora de comprar um produto?

– Veja a proporção de nutrientes nos ingredientes, como farinha integral, açúcar e sódio, principalmente em dietas que têm restrição destes alimentos ou nutriente;

– Evite alimentos com corantes artificiais ou muitos aditivos;

– Atente a alimentos light: há uma redução de no mínimo 25% em alguns dos seus ingredientes –gordura, açúcar ou calorias –, mas preste atenção, pois ao reduzir a gordura, por exemplo, pode-se aumentar a quantidade de carboidratos;

– Avalie alimentos diet: destinados para uma população com controle específico de algum alimento ou nutriente, como açúcar, mas que podem ter alto teor de gordura ou outro tipo de carboidrato;

– Pacientes com pressão alta devem observar outros ingredientes que contêm sódio, como ciclamato de sódio, bicarbonato de sódio.

– Pessoas em situações de restrição de glúten, lactose ou alérgenos, como castanhas, devem observar se há informação adicional deles da composição do produto.

Fonte: Nutripon Clínica e Consultoria

O que você tem que saber para comprar sem erro

  • Lista de ingredientes

Devem constar em ordem decrescente, conforme a proporção no produto.

  • Aditivos

Estão listados logo após os ingredientes. São substâncias adicionadas aos alimentos com o propósito de manter ou modificar o seu sabor ou de melhorar a sua aparência.

  • Origem do produto

Deve especificar o fabricante e o local de produção.

  • Prazo de validade.

Deve ter dia, mês e ano.

  • Conteúdo líquido

É expresso em unidades como gramas e mililitros.

  • Lote

Deve estar impresso para que o produto seja rastreado e analisado rapidamente em caso de problema.

  • Informações nutricionais:

Elas devem trazer:

a) Porção do alimento: quantidade que deve ser ingerida, considerando uma dieta saudável. Refere-se à porção indicada na embalagem, não ao peso total do produto.

b) % VD: Percentual de valores diários, indicando o quanto o produto apresenta de energia e nutrientes em uma dieta de 2.000 calorias. As calorias, os carboidratos, as proteínas, as gorduras totais e saturadas, a fibra alimentar e o sódio devem ser obrigatoriamente declarados, exceto quando o produto não tiver algum desses nutrientes. Informações complementares como colesterol, cálcio e ferro, além de vitaminas e outros minerais são opcionais.

  • Instruções sobre o modo apropriado

A embalagem deve trazer como fazer reconstituição, descongelamento ou outro tratamento adequado para consumo do produto.

Sem velhos tabus, sexualidade se aprimora na maturidade

O envelhecimento é um  processo indutivo de transformação individual nas esferas física, mental e social. Tais mudanças tendem a afetar a expressão da sexualidade e forma como lidamos com ela. A boa notícia é que pode ser para melhor, conforme declarou Jane Fonda, de 79 anos, na estreia do filme “Nossas Noites”, no festival de cinema de Veneza. “Quando se trata de amor e sexo, envelhecer é uma coisa boa”, disse a atriz, que queria que a cena picante com o par Robert Redford, de 81 anos, durasse mais.

O longa-metragem é uma adaptação do livro de Kent Haruf e conta a história de um casal de viúvos que faz um acordo para superar a solidão.

Quem me deu a dica cinematográfica foi a pedagoga N.S., de 64 anos, para quem diferentemente do conceito de sexo, puro e simples, a sexualidade engloba muito mais. “É libido, energia de vida, que leva a fantasiar, desejar, amar, expressar afeto, apaixonar-se, inclusive por nós mesmos.”

Tudo está, segundo ela, relacionada à autoestima. “É um círculo virtuoso: passei a me cuidar mais e a fazer mais sexo”, conta. “Quanto mais regular, melhor fica.”

O primeiro casamento aconteceu aos 21 anos, quando os filhos vieram, mas foi na segunda união, aos 45 anos que ela diz ter descoberto o amor e realizado a sexualidade plenamente. “O autoconhecimento te dá mais liberdade para aceitar o seu corpo e direcionar o parceiro, que precisa estar na mesma sintonia”, diz.

No caso do homem idoso, a ereção demora a estabelecer-se duas a três vezes mais. “Mas uma vez obtida conserva-se mais tempo sem necessidade de ejaculação. Importa salientar também que para cada década regista-se uma diminuição progressiva na resposta sexual. Contudo, nunca se verifica o seu completo desaparecimento”, segundo os relatórios Masters & Johnson, editados originalmente nos anos de 1966 (A Resposta Sexual Humana) e 1970 (A Inadequação Sexual Humana).

Os relatórios produzidos nos Estados Unidos tiveram repercussão mundial e foram elaborados a partir de uma minuciosa investigação científica das respostas fisiológicas e anatômicas da sexualidade masculina e feminina. Os autores, em decorrência, utilizaram esses conhecimentos para a formulação de técnicas e tratamento em terapia sexual utilizadas até hoje por profissionais da área clínica.

Menopausa pode ser aliada

Outro ponto abordado é a questão da reposição hormonal na menopausa. “É como um renascimento, pois minha libido voltou juntamente com a lubrificação”, explica. “Isso tem de deixar de ser um tabu para a mulher e para o homem, que precisa ser compreensivo e mais parceiro nessa fase da vida.”

A psicóloga Margherita Cassia Mizan, de 57 anos, concorda. Para ela, a menopausa foi um alívio.  “Veio como sinônimo de liberdade porque eu pude exercer minha sexualidade de forma plena sem me preocupar com gravidez, que era um temor para minha geração”, conta.

Atualmente no terceiro casamento, ela fez mestrado em Gerontologia e lida diariamente com situações que mostram que a erotização continua a existir, apesar da desqualificação do corpo da mulher que tende a se anular com o envelhecimento.

“Sexo faz parte da vida e é tão natural que chegamos ao ponto de vivenciar, principalmente entre mulheres, a homossexualidade em centros para idosos”, diz. “Não que elas sejam homossexuais, mas ficam no estado de homossexualidade pela falta de acesso ao sexo oposto.”

É justamente para quebrar estereótipos que a jornalista Denise Ribeiro, que não gosta de se mensurar pela idade, planeja criar uma comunidade – presencial e na internet – para discutir a sexualidade na maturidade.

Inicialmente batizado KD VC, o site lançado durante a Virada da Maturidade, cujo tema da última edição foi qualidade de vida. “A prática sexual é um dos indicadores de qualidade de vida e a gente tem como proposta discutir alguns temas tabus para a maioria da população como masturbação, ejaculação precoce e relação virtual”, diz.

Questão cultural

Com três filhos e dois netos, adepta do poliamor, Denise acredita que o problema vai além da idade. “É cultural e precisa ser desnudado”, afirma. “Estou separa há 16 anos e minha vida sexual é muito mais ativa agora, com o marido alheio”, brinca.

Para ela, o que mudou é que conseguiu enxergar que não existe um grande amor, mas sim grandes amores. “Precisamos reconstruir os códigos morais e os modelos com essa nova geração madura.”

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Depressão é principal causa de suicídio entre idosos

Suicídios de celebridades americanas Kate Spade e Anthony Bourdain alertam para casos crescentes entre os mais velhos.

Acabei de ver a segunda temporada da série 13 Reasons Why, na tradução livre Os 13 porquês, baseada no livro homônimo de Jay Asher. Ela trata de um tema recorrente no Ensino Médio que é o bulling, a angústia existencial e o suicídio. Os casos de suicídios cometidos entre jovens crescem e soam um alarme. Trata-se da quarta causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos.  Embora estejamos lidando com seres humanos e não com estatísticas, o que me chamou atenção é que os indicadores são muito maiores entre idosos.

Trata-se de um quadro resultante de várias causas – e até coincidentes com as dos jovens – como a depressão não diagnosticada, não tratada e inadequadamente conduzida, de acordo com o geriatra Ulisses Cunha. “São justamente os mais velhos que mais chegam às vias de fato, tirando a própria vida”, diz.

Dados do Relatório Global para Prevenção do Suicídio da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que as taxas mais altas de suicídio estão entre as pessoas acima dos 65-70 anos de idade, sendo 80% homens.  Em segundo lugar estão os adultos com idades entre os 30 a 49 anos.

Esses indicadores alertam para a necessidade urgente de se tomar medidas práticas para atender estes idosos antes que eles se sintam tão pressionados, infelizes, solitários e depressivos que decidam tirar a própria vida. “Algo em torno de 70% dos casos de suicídio nesta fase da vida podem ser atribuídos à depressão”, avalia Cunha.

Vide o caso do chef e apresentador Anthony Bourdain, de 61 anos, dependente químico, que sofria de depressão. A segunda celebridade numa semana a cometer suicídio por enforcamento.

Poucos dias antes, a estilista Kade Spade, de 55 anos, sucumbiu porque recusou tratamento para depressão por medo de afetar a imagem de sua marca, associada à alegria e ao entusiasmo.  Segundo a irmã mais velha conta, ela se automedicava com álcool.

Abuso de drogas como álcool, psicoses e demências também são apontadas como causas. Existem ainda os suicidas passivo-crônicos, que são aqueles que cometem um suicídio lento, não manifestado, como recusar alimentação, se negar a seguir prescrições médicas e deixam de tomar os remédios.

Ciente desse cenário, o Ministério da Saúde lançou ano passado, durante o setembro amarelo, o primeiro Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Brasil. O estudo mais recente confirma a alta taxa de suicídio entre idosos com mais de 70 anos por aqui.

Nessa faixa etária, foram registradas média de 8,9 mortes por 100 mil nos últimos seis anos. A média nacional é 5,5 por 100 mil. Também chamam atenção o alto índice entre jovens, principalmente homens, e indígenas. O diagnóstico inédito pretende orientar a expansão e qualificação da assistência em saúde mental no país.

Com base nesses dados foi elaborada uma agenda estratégica para atingir meta da OMS de redução de 10% dos óbitos por suicídio até 2020. Entre as ações, destacam-se a capacitação de profissionais, orientação para a população e jornalistas, a expansão da rede de assistência em saúde mental nas áreas de maior risco e o monitoramento anual dos casos no país e a criação de um Plano Nacional de Prevenção do Suicídio.

Desde 2011, a notificação de tentativas e óbitos é obrigatória no país em até 24h. “A notificação de casos é muito importante para que consigamos visualizar onde se encontram as regiões com maiores indicadores e reunir esforços para diminuir as taxas de suicídio. Já trabalhamos com ações de prevenção nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) que, em breve, devem chegar às áreas de maior incidência”, diz Maria de Fátima Marinho, do Departamento de Doenças e Agravos Não-Transmissíveis do Ministério da Saúde.

A ideia é reforçar nossa rede de atenção psicossocial junto aos gestores locais, visando fortalecer e ampliar a assistência a todos os indivíduos que necessitam de atenção e cuidado neste momento, segundo o secretário de Vigilância em Saúde, Adeilson Cavalcante.

Assistência é o melhor remédio

Os serviços de assistência psicossocial tem papel fundamental na prevenção do suicídio. O Boletim apontou que nos locais onde existem Centros de Apoio Psicossocial (CAPS), uma iniciativa do SUS, o risco de suicídio reduz em até 14%. Existem no país, 2.463 CAPS e, no último ano, foram habilitadas 146 unidades, com custeio anual de R$ 69,5 milhões do Ministério da Saúde. Por isso, a agenda estratégia prevê a expansão dessas unidades nas regiões de maior risco.

Outro ponto para ampliar o atendimento é a parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV).  Desde o ano passado, o Ministério da Saúde tornou gratuita a ligação para a instituição que faz o apoio emocional por para prevenção de suicídios. Além disso, a entidade também presta assistência pessoalmente, via e-mail ou chat.

Também está prevista a divulgação de materiais de orientação para ampliar a comunicação social e qualificar a informação aos jornalistas, profissionais de saúde e a população.  Todos os documentos estão disponíveis para download no Portal da Saúde. 

Brasil lidera ranking de depressão

A depressão afeta 322 milhões de pessoas no mundo, segundo dados divulgados pela OMS referentes a 2015. Em 10 anos, de 2005 a 2015, esse número cresceu 18,4%. A prevalência do transtorno na população mundial é de 4,4%. No Brasil, 5,8% da população sofre com esse problema, que afeta um total de 11,5 milhões de brasileiros.

Ainda segundo os dados da OMS, o Brasil é o país com maior prevalência de depressão da América Latina e o segundo com maior prevalência nas Américas, ficando atrás somente dos Estados Unidos, que têm 5,9% de depressivos.

Nos acostumamos a representar os papéis distribuídos pela sociedade, que impõe ao jovem ser alegre, ativo e sorridente. Do idoso, espera-se o recolhimento, a melancolia e a tristeza. É esse estereótipo dificulta a identificação de um problema que tende a se intensificar ainda mais com o aumento da longevidade: a depressão.

Além da associação que se costuma fazer entre velhice e desânimo, um dos sinais mais clássicos da doença nem sempre está presente na terceira idade. “A depressão no idoso pode, às vezes, ser subdiagnosticada porque a tristeza não é seu principal sintoma”, explica a epidemiologista Gabriela Arantes Wagner, professora-assistente do Departamento de Ciências Fisiológicas da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

“Além disso, os idosos, muitas vezes, não estão dispostos a falar sobre seus sentimentos, o que prejudica o diagnóstico. Por essa razão, a abordagem de um profissional especialista e experiente com essa população é tão importante”, destaca a médica, autora do artigo “Tratamento da depressão no idoso além do cloridrato de fluoxetina”, publicado na Revista Saúde Pública.

Com informações do Portal da Saúde. 

OLHE debate abuso contra idosos

O dia 15 de junho marca o Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa. A data foi instituída em 2006, pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Rede Internacional de Prevenção à Violência à Pessoa Idosa. “O objetivo é criar uma consciência mundial, social e política da existência da violência contra a pessoa idosa, e, simultaneamente, disseminar a ideia de não aceitá-la como normal”, diz a assistente social Marilia Berzins, presidente do Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento – OLHE.

Nesse caminho, o OLHE promove no dia 14, na Faculdade de Saúde Pública, em São Paulo, o evento As diversas faces da violência contra a pessoa idosa. Inscrições podem ser feitas a partir do dia 7 aqui.  “É aberto ao público em geral porque é importante entender que muitos sofrem abuso da própria família e, mesmo de fora, não podemos fechar os olhos a esse fato”, informa Marilia, que será uma das palestrantes.

OLHE

Na maioria dos casos, os filhos são os maiores agressores (aproximadamente 60%) e as mulheres são as maiores vítimas (64%). A faixa etária mais atingida é aquela que vai dos 60 aos 69 anos, com 38% dos casos. Os principais tipos são a negligência, violência psicológica e o abuso financeiro; filhos ou netos se apoderam de cartões de benefícios dos idosos e os deixam na penúria.

Relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) publicado na revista Lancet Global Health, revela que um em cada seis idosos é vítima de algum tipo de violência em todo o mundo. Segundo o estudo, 16% das pessoas com mais de 60 anos sofreram algum tipo de abuso. Entre os casos, estão negligência e violência psicológica, física e sexual.

Os dados foram coletados em 28 países e indicam que a violência contra idosos está aumentando. E a OMS destaca que, para os mais de 140 milhões de pessoas idosas no mundo que sofrem com o problema, isso tem um custo individual e coletivo sério.

A organização estima que, em 2050, o número de idosos vai dobrar, chegando a 2 milhões. A grande maioria estará vivendo em países de baixa e média rendas. Se a proporção de vítimas continuar como atualmente, o número de idosos afetados por abusos ou violência pode alcançar 320 milhões até lá, de acordo com o relatório.

Disque 100

A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República mantém à disposição do público o “Disque 100”. Ao chamar, é a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos que receberá e examinará as denúncias e reclamações de atos que envolvam violações ao Estatuto do Idoso. As denúncias poderão ser anônimas ou, quando solicitado pelo denunciante, é garantido o sigilo da fonte das informações.

É a Lei 10.741 que regula e assegura direitos às pessoas maiores de 60 anos.

O poder da economia prateada digital

Retrato do consumidor sênior realizado pela Hype60+ em parceria com a Mind Miners  mostra que nossos idosos estão cada vez mais digitais, comportamento esse que já influencia na decisão de compra. Hoje 85% desse público tem no Google a principal ferramenta de pesquisa na hora da aquisição de um produto. E as compras pela internet já somam 47%.

A pesquisa Hábitos de Consumo dos 50+, porém, revela que a maioria dos entrevistados (57%) se sente invisível para o mercado. Trata-se de uma parcela de quase 15% da população brasileira – o Brasil possui quase 30 milhões de pessoas acima dos 60 anos – que buscam atendimento específico.

“As marcas perceberam essa onda, mas não tiveram tempo de se planejar ainda e não sabem como incluir essa parcela da população nos seus negócios”, diz a coordenadora da pesquisa e co-fundadora do Hype60+, Layla Vallias. “Há grandes oportunidades para as empresas entenderem e atenderem melhor esse segmento que só cresce no País”.

O Hype60+ é um núcleo formado por um grupo de profissionais de marketing especializados no consumidor sênior e que juntos, ajudam empresas e organizações a desenvolverem melhores produtos, serviços e experiências para o público maduro.

Sem estereótipos

Layla destaca que os 50+ estão longe do estereótipo do velhinho de bengala ou tricotando sentado numa cadeira de balanço que fazem parte do imaginário popular. “Em meados século passado chegar a maturidade parecia um milagre, hoje ela é um novo ciclo cheio de oportunidades e isso se reflete nos hábitos de consumo”, afirma.

Daí o termo Economia Prateada, que surgiu no Japão – país com maior número de idosos no mundo – na década de 1970, e se espalhou pela Europa, a começar pela França. “Hoje se houve muito falar sobre ‘silver economy’ e ‘gray dollar’ nos Estados Unidos também”, conta Layla. Na prática, é a economia alimentada pelos consumidores com 60 anos de idades ou mais. Os grisalhos, em bom português.

Em 2010, a quantia gasta por essa faixa etária foi de 8 US$ trilhões. A previsão é de que alcance US$ 15 trilhões até 2020. Um imenso mercado, de acordo com o Movimento Mundo Prateado.

Um sinal dessa tendência é indicado pelo artigo publicado pelo The Fiscal Times de 2015 que chama atenção para o fato de a famosa Selfridges londrina  lançar uma campanha orientada aos consumidores grisalhos, pela primeira vez naquele ano. Suas vitrines, antes sempre ocupadas por jovens, abriram espaço para os sonhos de consumo bancados pela economia prateada. “É o reconhecimento de que eles agora são protagonistas no mercado”, avalia Layla.

Conectados ao mundo digital

Os consumidores brasileiros desta faixa são igualmente ávidos por bens e serviços que aumentem sua qualidade de vida e sejam desenhados levando em consideração suas necessidades.  De acordo com a pesquisa, que analisou o que os maduros mais consomem e do que sentem falta, os sites de notícias (85%) e redes sociais (83%) são os principais meios utilizados pelos 50+ para se manter informados. Veículos tradicionais como o jornal e televisão tem perdido espaço na busca por informação.

O serviço mais consumido, no geral, é a TV paga, mas isso pode mudar por faixa etária. Para quem tem entre 50 e 59 anos, serviços de entretenimento, como Netflix e Spotify são os mais acessados, enquanto para quem tem mais de 60 anos mobilidade e saúde figuram nos serviços mais procurados.

Apontou ainda que Educação está entre as prioridades: 55% dos 50+ sentem falta de cursos no geral (fora línguas), seguido de vestuário e roupas adequados a sua idade (47%). Para 42% faltam alimentos que atendam necessidades específicas, enquanto serviços de turismo e cursos de idiomas/ intercâmbio aparecem com (37%) e (34%), respectivamente. As soluções para adaptação/ acessibilidade da casa foram apontados por 32% dos entrevistados e produtos de beleza por 30%.

De acordo com o estudo, alimentação (46%) e plano de saúde (39%) são as principais despesas pessoais citadas pelos entrevistados. Os gastos com a casa representam 67% da renda e 19% são destinados aos gastos pessoais.

Das 863 pessoas de todo o país entrevistadas, 73% afirmaram ter casa própria, 14% moram em casa alugada. Outros 7% moram em casa própria em pagamento e 6% em moradia emprestada ou cedida. Os 50+ estão vivendo cada vez mais sozinhos, seja por viuvez, ninho vazio ou separação. No entanto, 33% moram em duas pessoas, em geral o cônjuge e são responsáveis pelas próprias compras.

É um retrato que revela o tamanho do desafio das empresas para incluir esse público na sua estratégia de negócio.

Sem remédio

Aqui em Casa enfrentamos um sério problema do descontrole no uso de fármacos. Embora eu tente alertar e manter tudo em ordem não há muito remédio para conscientizá-los de que é preciso uma mudança de comportamento.  Não raro, meu pai deixa de tomar o que devia. Ou toma duas vezes a mesma medicação. Falta de memória, ele alega… Também já usou colírio para desentupir o nariz. Esses são só alguns exemplos da batalha que é organizar a rotina dos idosos.

Minha mãe, por sua vez, toma em média 10 comprimidos ao dia. E junta tudo numa caixinha de sorvetes. Não há controle, inclusive, sobre a data de validade. E aí enfrentamos outro perigo que coloca em risco a vida de terceiros.

Por desconhecimento, o descarte de medicamentos vencidos ou sobras é feito por grande parte das pessoas no lixo comum ou na rede pública de esgotos, o que pode causar a contaminação da água e do solo, provocando sérios danos ao meio ambiente. Além disso, atinge públicos vulneráveis, como aqueles que manejam resíduos nos lixões.

Agente de intoxicação

Números do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) indicam que os remédios ocupam no Brasil – sétimo país do mundo em venda de medicamentos – desde 1996, o primeiro lugar entre os agentes causadores de intoxicações.

Embora os efeitos sobre o meio ambiente ainda sejam pouco conhecidos, há preocupação especial em relação aos antibióticos, aos estrogênios e a algumas substâncias da quimioterapia, como os imunossupressores.  Para o ser humano, um dos principais problemas está no desenvolvimento de bactérias resistentes a antibióticos, devido à exposição a eles no ambiente.

Quanto aos estrogênios, hormônios ligados ao desenvolvimento de características femininas, o temor tem a ver com o potencial das substâncias para afetar o sistema reprodutivo de organismos aquáticos, como os peixes. Já os quimioterápicos requerem atenção diferenciada pela possibilidade de produzir mutações genéticas.

Descarte correto

Assim, o ideal é que o descarte seja feito em pontos de coleta específicos, conforme obrigatoriedade da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), para serem posteriormente encaminhados à destinação final ambientalmente correta, prevista pela norma ABNT NBR 16457:2016, complemento a um acordo setorial que a indústria costura e que deve regulamentar todo o processo de logística reversa.

Dessa iniciativa do setor, nasceu o Programa Descarte Consciente administrado pela Brasil Health Service (BHS), especializada na gestão de logística reversa para descarte ambientalmente correto de medicamento.   “Existem hoje 750 pontos instalados por todo o país”, diz Antonio Carlos da Silva Pedro, diretor da BHS.

No portal do programa é possível encontrar de forma didática informações como o tipo de produto que pode ser depositado nas estações e, inclusive, localizar o endereço do posto de coleta mais próximo de casa.  “Já incineramos perto de 200 toneladas de fármacos desde o início do programa em 2010, mas cerca de 20% do que se consome ainda é descartado incorretamente”, avalia Pedro.

Na dúvida, o ideal é procurar o posto de saúde da cidade, que serve como escape.

FONTES: eCycle, Fiocruz, FecomercioSP, BHS

A dor dos outros

Não se preocupe.  Um dia você vai sentir a sua. A ocorrência de algum tipo de dor, e com maior frequência, torna-se algo cada vez mais comum com o passar dos anos.  Isto é um processo natural, previsível e inevitável, conforme explica a gerontóloga Neusa Pellizzer.

De acordo com ela, o processo de envelhecimento traz como consequência, em diferentes graus, a degeneração das estruturas do organismo. “Da mesma forma que surgem as rugas e cabelos brancos, ocorre o envelhecimento dos tecidos e estruturas dos órgãos e sistemas internos. Como consequência disso, podem surgir processos dolorosos relacionados aos sistemas musculoesquelético e neurológico”.

Sem idade

Pode-se dizer que as dores decorrentes de processos agudos, inflamatórios, podem ocorrer em qualquer idade. “Se o organismo já estiver mais comprometido por comorbidades [doenças que predispõem o paciente a desenvolver outras doenças]”, diz.

As dores relacionadas a processos degenerativos, entretanto, estão relacionadas ao envelhecimento e podem se tornar crônicas. Aí é que mora o perigo porque esse fator pode levar à redução da qualidade de vida e até à depressão.  São muito comuns as dores musculares e articulares, as neurites e polineurites, entre outras. “A maior parte dos processos dolorosos na velhice será provocada por doenças crônicas”.

Mente sã, corpo são

Mas esse processo se dá de maneira diferente para cada pessoa, e depende diretamente da qualidade de vida, segundo o psicólogo  Roberto Debski, especialista em Acupuntura e Homeopatia. Aqueles que cuidam da saúde tendem a sentir menos dor e ser menos afetados pelo inevitável processo de envelhecimento.

“Para controlar as doenças crônicas é preciso manter o corpo e a mente em movimento, cultivar os relacionamentos afetivos e redes de apoio social, amizades e família, além da espiritualidade”, diz Debski.

Mudança de hábito

Grande parte dos fatores de risco ao adoecimento são os chamados fatores modificáveis, ou seja, são influenciados pelos nossos hábitos e comportamentos, concorda Neusa.

Ela destaca que o fator emocional pode potencializar e/ou desencadear os episódios de dor. “O impacto na qualidade de vida pode ser muito grande, pois limita a capacidade funcional, levando os pacientes à redução de atividades, associado ao comprometimento da autoestima, num círculo vicioso contínuo e progressivo”.

Dentro de casa

Tenho acompanhado esse processo com a minha mãe. Ela convive com uma dor no joelho que a incapacita de ter uma vida normal. A cirurgia para a implantação de uma prótese foi adiada por causa da necessidade da troca da válvula do coração. E nesse caminho, ela foi acometida por uma infecção hospitalar que a deixou quatro meses no hospital entre a vida e a morte.

Ela sobreviveu, mas a nossa vida nunca mais foi a mesma.Um dos fatores que provocaram a minha volta foi o estado em que meu pai ficou após esse episódio.

Muito da dificuldade que ambos enfrentam em se recuperar está na dificuldade em mudar velhos hábitos. Eles são muito resistentes as mudanças e às transformações do mundo. Meu pai foi criado na roça com mais 12 irmãos e teve uma vida meio selvagem, mas nunca se esforçou muito para evoluir.

É complicado porque ao tentar alertá-los sou interpretada como a filha má. A implicante que não tem paciência ou amor  pelos pais. Se os deixasse se matar aos pouquinhos eu seria uma filha melhor?

O livro “Triumphs of Experience” (Triunfos da Experiência, em tradução livre), resultante do mais longo estudo realizado sobre o assunto na Universidade de Harvard, demonstrou que há alguns fatores fundamentais para o envelhecimento saudável.

São eles: parar de fumar, beber álcool moderadamente (o álcool foi um dos fatores de maior perda de qualidade de vida, doenças e problemas familiares), controlar o peso, fazer atividade física regularmente, manter a mente ativa, viver relacionamentos afetivos saudáveis, e aprender a gerenciar o estresse.

São essas pequenas mudanças que podem fazer grandes diferenças no enfrentamento do tempo com independência e qualidade de vida.