Efeitos colaterais, do modo off, em 2021

A avalanche de dados e informações que nos soterram todos os dias tem tornado mais frequente a necessidade de pausas. A tecnologia nos deu mais tempo, inclusive de existência, mas será que esse tempo a mais tem sido aproveitado para melhorar nossa qualidade de vida? É notável ao redor, que as pessoas estão sendo cada vez mais vítimas de crises de ansiedade e de uma busca infinita por produtividade. Óbvio que não existe qualidade de vida sem dinheiro, mas será que não dá mesmo para viver com menos?

Neste 2021 que começa todo torto me obriguei – pelos limites do próprio corpo – a me desconectar e entendi que nada foi aprendido ou compreendido com a pausa imposta pela tal da pandemia. O mesmo pode ocorrer com o envelhecimento.

Tem gente que não aprende nada. E não adianta querer ser reflexo do que se vê desse movimento todo que aflora na internet. Garotos-propaganda existem desde que o mundo é mundo. Só ganharam um nome pomposo agora: influencers. Isso não muda nada. Mais do que ser reflexo é preciso reflexão. E isso requer pausa.

Por isso, minha promessa de ano novo é gastar meu tempo mais devagar. Menos rede social e mais social na rede. De balanço. De preferência com um bom livro desses que não seja de autoajuda, mas que tanto me ajudaram nos meus dias off, como as batalhas quixotescas; a distopia da República de Gilead, o realismo fantástico de Macondo.

Foi nessa cadência de pensamento que veio à mente dois casos reais, de conhecidos, que devem se tornar objetos de estudos, e que me inspiraram a trazer à tona algo que pouco vejo. Não que não admire a revolução prateada e todo o ativismo que a longevidade e os maduros promovem principalmente online por conta da pandemia.

Mas é preciso banir estereótipos e ter em mente que nem todo velhinho é legal. Nem sempre a velhice será uma coisa bacana, bela e produtiva. Trata-se aqui de entender que é um processo construtivo.

Que em 2021 todo ativista do envelhecimento se lembre também das famílias que se desestruturam e precisam de apoio diante de idosos que perpetuam o mal que carregam dentro de si. Não é porque a idade chega que a pessoa de repente fica boa.

Não acredito em redenção só pelo correr dos anos.

E quando é a família a agredida? Apesar de ser muito gratificante oferecer cuidados, essa entrega também tem efeitos negativos. Que ações podem amenizar o estresse e consequente problemas de saúde, isolamento, cansaço e frustração que levam a uma sensação de desesperança e exaustação, impelindo ao desgaste de quem cuida e chegando até aos maus tratos da pessoa idosa?

Então, a longevidade é um processo que requer cuidado desde sempre?  Exato. E a gente que se cuide para não se tornar um daqueles velhos gagás e ranzinzas, e não transformar a vida da família num inferno. Basta parar de olhar um pouco para fora e para os outros e olhar para dentro de si para perceber que nem cem anos podem mudar certas coisas.

Eu andei meio perdida, confesso, com tanta tarefa, sem saber quais eram minhas prioridades, mas de uma coisa eu tive certeza durante meu modo off. Eu não quero ser uma velha desqualificada em prol do domínio da velocidade e das redes sociais. Nem tampouco apegada a quinquilharias sem valor. O desapego começa agora.

Outra coisa. Gente ruim existe. Jovem ou velha. E gente imbecil e fútil também. A internet está aí de prova, escancarou essa ferida, e não me deixa mentir.

 

 

 

 

Idoso conectado: um alvo fácil de golpes na internet

Época de Natal e todo mundo quer dar aquela lembrancinha para confraternizar e celebrar mais um ano com a família e os amigos. O tempo é curto e já não há aquela disposição para enfrentar a multidão. Então você abre aquele vinho especial, pega uma tacinha e senta confortavelmente na sala para fazer as compras pelo computador porque seu neto já te ensinou tudo. Bendita internet!

Opa… Cadê meu saldo? A ideia era proporcionar conforto e comodidade, mas se tornou um pesadelo.

Cada vez mais conectados, os idosos estão mais expostos aos riscos do ambiente virtual. São considerados alvos fáceis de crimes cibernéticos e, por isso, se tornaram os preferidos de golpistas, que têm aperfeiçoado fraudes para confundi-los.

Mais idade e pouco conhecimento de segurança online dão a deixa para algumas das táticas para criar fraudes envolvendo a Previdência Social, pesquisas de emprego, cartão de crédito e Receita Federal. Há ainda golpes capitalizados na generosidade das pessoas, que costumam transferir doações para instituições supostamente idôneas.

Estima-se que no Brasil e no mundo, as perdas sejam bilionárias, embora ainda subestimadas. Muitas vezes os casos são subnotificados porque os idosos têm vergonha de denunciar. Em outras ocasiões, simplesmente não têm ideia de que algo está errado até que uma agência de cobrança ligue para dizer que um pagamento é inadimplente. 

É claro que pessoas de todas as idades estão sujeitas a perdas, mas a média é de US$ 2 mil para menores de 70 anos; enquanto para os maiores, a cifra chega a US$ 9 mil, conforme reportagem do NYTimes.

Outro dado interessante vem do levantamento global da fabricante de softwares de segurança Kaspersky: 33% dos internautas acima de 55 anos não têm sequer ciência de que pode estar sendo espionado pela webcam sem consentir. Além disso, apenas 25% dos usuários mais velhos desconfiam em compartilhar sua localização.  A pesquisa foi realizada com 12 mil usuários em 21 países, incluindo o Brasil.

Diante disso, e após algumas leituras, deixo aqui alguns cuidados que podem amenizar os ataques no universo digital e dar mais tranquilidade ao idoso que pretende fazer suas compras online, sem deixar de apreciar sua taça de vinho. Mas tudo com moderação!

Vamos lá!

Importante saber que o phishing é um dos principais ataques feitos hoje no Brasil. Chega à vítima por uma plataforma digital, como e-mail ou rede social, e os criminosos se fazem passar por uma empresa, banco ou marca de confiança.

Nesta mensagem, a vítima é convidada a preencher dados pessoais, por meio de uma isca, como uma promoção, por exemplo. Eles costumam criar ataques direcionados, por isso é importante sempre estar atento ao que se compartilha e se acessa online.

Nunca. NUNCA mesmo preencha seus dados, e sempre desconfie de ofertas tentadoras. Além disso, vale lembrar que nenhum banco pede confirmação de dados pessoais via e-mail ou Whatsapp. Quem dá o alerta, e as dicas abaixo, é o Daniel Barbosa, pesquisador de Segurança da Informação da ESET Brasil.

#No e-mail

Evite abrir links sem a certeza de que é um e-mail oficial. De novo: nunca preencha seus dados. Além disso, fique atento ao remetente, empresas oficiais costumam ter o formato “areadaempresa@empresa.com.br”, e não apresentam números e símbolos. Caso a ameaça seja de cancelamento de alguma conta, busque um telefone oficial para contato e esclareça suas dúvidas.

#No Whatsapp

Geralmente o golpe começa por uma mensagem que contém um link, e é enviada por um contato que a compartilha apenas por acreditar que é algo legítimo. Ao clicar no link, você será redirecionado para um site onde é convidado a preencher seus dados. A dica aqui é ficar atento aos links e não clicar caso esteja em dúvida da veracidade do que foi recebido, mesmo que tenha sido enviado por alguém de confiança. No caso de promoções, entre sempre no site oficial da empresa e verifique se a oferta é real.

#No Facebook

Nesta rede social, os golpes podem chegar por mensagem privada ou por um post na timeline. Os golpes costumam ter títulos chamativos, então fique atento a ofertas tentadoras, avise quem compartilhou, caso você perceba que é um golpe, e não clique em links suspeitos.

Na dúvida, a ESET possui o portal #quenaoaconteca. Lá você encontra mais informações úteis para evitar que situações cotidianas afetem a privacidade online.

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Movimento para inclusão do idoso no mundo digital ganha força

Todo dia quando encontro minha mãe ela reclama de algo no smartphone porque não sabe mexer direito. O fato é que ela fuça pra caramba e acho isso bom. Além de distrair-se com o WhatsApp, o ato estimula suas funções  cognitivas como memória, velocidade de resposta e raciocínio. E isso já é comprovado cientificamente.

Mas antes da minha mudança aqui pra perto, ela sequer tinha acesso a internet. E além de pegar no seu pé pela alimentação e prática de atividade física, a estimulei a desbravar esse mundo novo de possibilidades, como acessar o internet banking para controlar o seu orçamento.

Embora tenha sido difícil no começo (e ainda é), é um dever da gente ajudar nessa transição. É claro que nem todo mundo tem paciência e eu mesma já perdi a minha zilhões de vezes, mas já há um movimento inteirinho destinado a inclusão dos 60+ nesse admirável mundo digital. O Senior Geek tá aí pra isso é a prova de que muita coisa bacana pode render a partir dessa boa vontade.

“Acreditamos que tecnologia serve para conectar e não para excluir. Ajudamos os 60+ a desenvolver habilidades no mundo digital de forma simples e divertida por meio de cursos, workshops e bate-papos”, conta o idealizador do projeto, Dudu Balochini, da Totalidade Produtora e Consultoria.

Sinal de que o movimento tem dado resultado vem do Google, que elegeu a Senior Geek como startup zone de 2019. Trata-se de um programa realizado no Campus de São Paulo em que o próprio Google oferece mentoria a iniciativas como a de Balochini.

Foi lá que aconteceu o encontro do qual participei no finalzinho de abril. Os assuntos tratados foram os mais diversos. As pautas incluíram desde a postura adequada para usar celular e o papel do influenciadores seniores, até o potencial do mercado prateado e a telemedicina.

Batizado Business for Senior, B2S, os negócios digitais para e idealizados por maduros têm ganhado espaço em todos os cantos. No final de abril também, a Vila Mariana, o bairro que me abrigou por mais de duas décadas em São Paulo, acolheu também o primeiro hub de inovação do Brasil especializado no público sênior.

Para quem está no limbo dos 50

De acordo com os sócios do projeto, um trio de professores egressos da ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing, a NEXTT 49+  chega para auxiliar profissionais em transição de carreira e até mesmo aposentados que desejam empreender, investindo em um negócio próprio.

Um público que está em crescente ascensão na sociedade brasileira e que anda desassistido, seja como empreendedor, seja pelo próprio mercado, que lentamente vem descobrindo seu enorme potencial.

Embora não tenha acesso aos benefícios dos 60+, é um grupo que padece de atendimento. Os 49+ representam cerca de 50% da renda bruta familiar e não encontram produtos e serviços desenvolvidos especialmente para seu perfil.

E das 2,6 milhões empresas criadas no País no ano de 2018, 34,2% delas tem por trás pessoas acima dos 50 anos, de acordo com o Sebrae – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. É aí que a NEXTT 49+ pode ajudar, com metodologia desenhada para gerar valor e oportunidades para startups, envolvendo grandes empresas e investidores, em uma iniciativa que vai além de um local compartilhado de trabalho.

Além dos empreendedores, a NEXTT 49+ também vai atender executivos seniores que precisam se adaptar ao mercado de trabalho e às transformações digitais e, ainda, empresas de qualquer porte que desejam criar produtos ou serviços para o público maduro.

Tecnologia como aliada da longevidade

A terceira edição do Simpósio de Envelhecimento Ativo da USP – Universidade de São Paulo, é outra iniciativa que este ano dedicou dois painéis inteirinhos para o assunto ao tratar da revolução tecnológica como aliada da longevidade.  Realizado hoje, 16 de maio, o evento reúne profissionais da saúde, estudantes e pesquisadores interessados na área da longevidade.

De acordo com o professor Egídio Lima Dórea, coordenador do Programa de Envelhecimento Ativo da USP, estamos vivendo uma revolução da longevidade que é fundamentada pelo aumento significativo da população idosa mundial. E pela ruptura de vários padrões relacionados ao idoso e do seu papel na sociedade.

“É de fundamental importância que seja criada uma cultura de saúde e bem-estar na maturidade, que inclua, pelos brasileiros, a adoção de hábitos mais saudáveis e atitudes preventivas para que se possa chegar a idades mais avançadas em boas condições física, mental, psicológica e espiritual”, destaca.

As palestras foram desenvolvidas tendo como base o conceito dos quatro pilares – saúde, segurança, participação e aprendizado continuado – desenvolvidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2002, quando lançou o alerta “Envelhecer bem deve ser prioridade global” ao constatar que a população de 60 anos será maior do que os menores de cinco anos em 2021.

O número de idosos cresceu 18% em cinco anos, superando a marca dos 30,2 milhões em 2017, segundo pesquisa nacional realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. As mulheres são maioria expressiva nesse grupo, com 16,9 milhões (56%), enquanto os homens idosos são 13,3 milhões (44%). Outro estudo, realizado pelo Sistema Estadual de Análise de Dados – Seade, aponta que a população idosa do Estado de São Paulo representa 14,8% dos 44 milhões de habitantes.

Importante destacar que quando se tem boa vontade sempre dá pra ajudar. O nosso papel é incluir aqueles que estão mais próximos. E nessa hora é preciso uma geropedagogia que eduque o idoso para ele seja o protagonista do próprio envelhecer.

Faça sua parte!

Deixo como exemplo o caso do estudante de Direito Alexandre Drabecki, de Curitiba. Ele criou um tutorial para a avó da namorada aprender a usar o WhatsApp no primeiro smartphone da senhorinha.

Desenhado a mão, o manual traz os ícones da rede social e explica o significado de cada um em detalhes. Os comandos vão desde como abrir o aplicativo no celular até ouvir e gravar áudios.

As pessoas curtiram a postagem em que ele conta o feito e logo começaram a pedir para compartilhar o material disponibilizado por ele aqui.

Que tal ensinar algum amigo ou parente mais velho também?

Com Proxxima e Jornal da USP.

Já parou para pensar como é envelhecer por dentro?

Estou de volta depois um tempinho ausente. É que estava trabalhando no novo Casa de Mãe, que acaba de completar um ano. Pode ser que não se note tanta diferença estética, mas o “backoffice”, como se diz, está mil vezes melhor.  Agora não é o que tempo faz do lado de dentro da gente. O “backoffice” do nosso corpo se transforma automaticamente com o passar dos anos. É o natural da vida, já que não inventaram nenhum tipo de botox pro pulmão, pro coração ou pro intestino.  Ainda!

Eu trago esse assunto porque participei no último sábado de um congresso de Radiologia, em São José do Rio Preto. Os organizadores trouxeram um painel inteirinho dedicado ao envelhecimento.  Pra quem não sabe, a Radiologia é a área médica que usa imagem para diagnosticar e tratar doenças.

Nem preciso dizer que foi muito produtivo porque é sempre gratificante ter acesso ao conhecimento. Espero conseguir compartilhar um pouco desse aprendizado.  

Que tal começar observando a diferença entre um pulmão de 25 anos e um de 75 anos, na foto abaixo:

Sim! É isso que você está vendo. O envelhecimento modifica  anatomicamente e fisiologicamente nosso interior. Mas eu nunca tinha parado para pensar sobre o meu lado de dentro – nossa retaguarda.

Esse é um desafio que foi apresentado aos novos profissionais, que precisam entender as modificações dos órgãos nos idosos. Como tudo muda de forma, a mecânica de coisas simples, como respirar, por exemplo, fica naturalmente diferente.

Reconhecer essas mudanças é fundamental para não tratá-las como patologia e realizar um diagnóstico preciso.

Sim, porque o diagnóstico por imagem ganhou precisão com equipamentos como ultrassonografia, tomografia computadorizada, medicina nuclear, radiologia intervencionista e ressonância magnética. Mas é óbvio que tudo isso exige qualificação profissional.

De nada adianta tanta tecnologia sem formação adequada.  Porque um monte de dados não vale de nada se não houver um bom analista para interpretá-los.

Taí um lado bom do envelhecimento da população. A gestão de pessoas idosas abriu um campo de especialização em diversos setores da cadeia produtiva.  A Gerontologia é hoje uma das áreas de maior crescimento.

Agora, sem investir em Pesquisa & Desenvolvimento também, muito pouco se poderia fazer em prol do bem-estar do idosos. É preciso entender que a tecnologia é uma ferramenta fundamental para as diversas condicionalidades e demandas inerentes ao processo de envelhecimento.

Tecnologia em favor da longevidade

Um exemplo disso é o tomografo da GE Healthcare que consegue capturar imagens detalhadas do interior do corpo humano na velocidade de um único batimento cardíaco. Para se comparar, os modelos tradicionais precisam de cinco a 13 batidas.

Por ser mais rápido, com maior cobertura, permite fazer exames mais precisos em pacientes como crianças que se mexem muito ou idosos que não conseguem prender a respiração.

O que essa dobradinha – profissionais gabaritados e tecnologia de ponta – proporciona?

Simples: maior longevidade, melhor qualidade de vida, detecção precoce de doenças, tratamentos mais eficazes, menos invasivos e mais seguros, além da redução do tempo de internação hospitalar e da mortalidade.

A Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde (Abimed) destaca ainda os transplantes realizados aqui, que deram respeitabilidade mundial ao Brasil. E o sistema de neuronavegação, um conjunto de tecnologias assistidas por computador que possibilita a ressecção de tumores cerebrais permitindo cirurgias com maior segurança em locais do cérebro de difícil acesso.

Outros avanços importantes como produtos para audição, medidores de insulina e marcapassos, para citar alguns apenas, revolucionaram a saúde fora do ambiente hospitalar. E novos players devem continuar trazendo mudanças no mercado de saúde.

Os serviços de monitoramento remoto de pessoas deverão ser ampliados. A radiologia intervencionista tende a ser a nova cirurgia. A robótica ganhará espaço assim como a genômica.  A telemedicina deverá se intensificar.

A minha dúvida é: será que só quem tem dinheiro terá acesso? Espero que não! Como a internet que hoje beneficia quase 4 bilhões de pessoas no mundo, espero sinceramente que milhões de pessoas de áreas mais distantes do País possam ser atendidas remotamente e ganhar qualidade de vida.

Que assim seja!

Maturidade que inspira inovação

Estive sumida e não atualizo o Casa de Mãe faz um tempinho.  Mas juro que foi por uma boa causa. Fui buscar aprendizado, me atualizar e trocar ideias com gente que pensa diferente. Sair da minha bolha. E esse movimento é vida!

Se movimentar é necessário até mesmo na solidão para se confrontar consigo mesma. Mesmo em silêncio, sozinha, em busca de reforma íntima, é preciso suar muito para alcançar equilíbrio, no trato com a diversidade dos fatos, de pessoas e de situações.

E, em tempos tão sombrios como o atual, faço minhas as palavras de Paulo Freire. “É preciso esperança. É preciso esperançar. E esperançar é se levantar, é construir, é não desistir.”

É por isso que mesmo podendo atualizar o blog, não o fiz. Faltou-me inspiração para coisas realmente relevantes, do meu ponto de vista, é claro. Ia ser só mais conteúdo num mundo já repleto de informação inútil. E ia ser só mais um canal sem a minha identidade.

“Casa de ferreiro, espeto de pau”, muitos dirão. Mas não acredito nesse ditado. O exemplo é sempre o melhor caminho. E uma palavra pode mudar tudo. Mudar uma palavra pode mudar a vida de alguém. Está tudo integrado: pensamento, vibração, palavra e atitude. Somos seres múltiplos e plurais.

E aí está a dificuldade. Escrever por escrever não faz mais sentido.  Eu acredito que cada palavra transmite uma frequência que pode te elevar ou te derrubar.  E é justamente por acreditar no que prego que fui buscar conhecimento e, consequentemente,  elevação.

Social Media Week e o eterno aprendizado

Participei de diversas atividades do Social Media Week, que esse ano abriu espaço para a Economia Prateada. Sim, havia palestra e palestrante para nossos longevos! O que me deixou bastante feliz.

Também li alguns livros, tomei uns bons vinhos com amigos e ouvi histórias. Não tem coisa melhor… Principalmente se você enfrenta dificuldades em lidar com a rotina de pais idosos e com a própria vida. Não é fácil para ninguém, porque os problemas vão tomando proporções descomunais quando não se está sereno.

Em busca de inspiração também estive falando com alguns empreendedores, que têm impulsionado a inovação no Brasil ao buscar soluções para melhorar nossa perspectiva de vida diante da longevidade. Entre eles encontrei gente bacana, como a Mônica Perracini e seus três sócios.

Eles criaram uma plataforma de conteúdo para ajudar a melhorar a qualidade de vida dos cuidadores familiares de idosos. Só quem passa pelas dificuldades de tomar decisões todos os dias sabe o quanto a informação se torna um ativo dos mais valiosos. Sempre foi, mas o que esse time fez foi reunir tudo num único lugar. Conteúdo de qualidade e com respaldo de especialistas. Confere aqui  que vale muito a pena.

Um baita exemplo de como tecnologia e inovação são aliadas de quem cuida e de quem é cuidado. “A ideia é criar um market place com fornecedores capazes de suprir todos os tipos de necessidades, além de manter uma rede de compartilhamento de experiência”, conta Mônica.

A tecnologia e a inovação têm proporcionado a criação de uma ampla gama de produtos e serviços cada vez mais customizados para consumidores de faixas etárias mais avançadas. Por apostar em novos modelos de negócios, as startups têm tirado melhor partido das oportunidades sinalizadas pelo mercado 60+.

Foi assim que nasceu a ISGAME, uma escola de games inovadora que fortalece a saúde mental. E cá entre nós, a gente sabe como isso é importante.

Lá, o Fabio Ota desenvolveu uma metodologia inovadora que ensina pessoas com mais de 50 a jogar e a programar os próprios games, estimulando o raciocínio lógico, memória, criatividade e integração intergeracional. A história dele é incrível, começa com o cuidado com o avô e está detalhada aqui.

Outra que nasceu das inquietações de um filho sobre o acompanhamento da rotina de cuidados da mãe, de 84 anos, é a Gero360.

A intenção de Leônidas Porto de participar mais ativamente desta rotina, sem interferir na autonomia e na independência da mãe, o levou a se aprofundar nas necessidades de outros idosos e a buscar alternativas para o bem-estar do “adulto maduro” e para a tranquilidade de suas famílias.

A necessidade virou projeto. O projeto conquistou pessoas. Estas pessoas formaram uma equipe e, juntas, estão unindo conhecimento, experiência em diferentes áreas do saber e tecnologia para impactar positivamente a rotina dos mais de 25 milhões de idosos no Brasil e de suas famílias.

A startup desenvolve soluções tanto para o segmento B2C quanto para o B2B.  No B2C, o aplicativo visa organizar a rotina do idoso com autonomia, alertando-o para temas relevantes como horário de atividades, medicamentos, medições vitais, etc. e ainda conectando-o com quem desejar (família, cuidadores e amigos). No B2B, a inovação fica por conta de sistema para gerenciamento de estoques de medicamentos de ILPIs (Instituições de Longa Permanência) e assemelhados.

Gero 360, ISGame e Plug And Care não são as únicas a usarem a longevidade para impulsionar a inovação no Brasil. Espero trazer outras histórias mais, que nos façam refletir e resistir quando os problemas ganharem aquelas dimensões desproporcionais.

O poder da economia prateada digital

Retrato do consumidor sênior realizado pela Hype60+ em parceria com a Mind Miners  mostra que nossos idosos estão cada vez mais digitais, comportamento esse que já influencia na decisão de compra. Hoje 85% desse público tem no Google a principal ferramenta de pesquisa na hora da aquisição de um produto. E as compras pela internet já somam 47%.

A pesquisa Hábitos de Consumo dos 50+, porém, revela que a maioria dos entrevistados (57%) se sente invisível para o mercado. Trata-se de uma parcela de quase 15% da população brasileira – o Brasil possui quase 30 milhões de pessoas acima dos 60 anos – que buscam atendimento específico.

“As marcas perceberam essa onda, mas não tiveram tempo de se planejar ainda e não sabem como incluir essa parcela da população nos seus negócios”, diz a coordenadora da pesquisa e co-fundadora do Hype60+, Layla Vallias. “Há grandes oportunidades para as empresas entenderem e atenderem melhor esse segmento que só cresce no País”.

O Hype60+ é um núcleo formado por um grupo de profissionais de marketing especializados no consumidor sênior e que juntos, ajudam empresas e organizações a desenvolverem melhores produtos, serviços e experiências para o público maduro.

Sem estereótipos

Layla destaca que os 50+ estão longe do estereótipo do velhinho de bengala ou tricotando sentado numa cadeira de balanço que fazem parte do imaginário popular. “Em meados século passado chegar a maturidade parecia um milagre, hoje ela é um novo ciclo cheio de oportunidades e isso se reflete nos hábitos de consumo”, afirma.

Daí o termo Economia Prateada, que surgiu no Japão – país com maior número de idosos no mundo – na década de 1970, e se espalhou pela Europa, a começar pela França. “Hoje se houve muito falar sobre ‘silver economy’ e ‘gray dollar’ nos Estados Unidos também”, conta Layla. Na prática, é a economia alimentada pelos consumidores com 60 anos de idades ou mais. Os grisalhos, em bom português.

Em 2010, a quantia gasta por essa faixa etária foi de 8 US$ trilhões. A previsão é de que alcance US$ 15 trilhões até 2020. Um imenso mercado, de acordo com o Movimento Mundo Prateado.

Um sinal dessa tendência é indicado pelo artigo publicado pelo The Fiscal Times de 2015 que chama atenção para o fato de a famosa Selfridges londrina  lançar uma campanha orientada aos consumidores grisalhos, pela primeira vez naquele ano. Suas vitrines, antes sempre ocupadas por jovens, abriram espaço para os sonhos de consumo bancados pela economia prateada. “É o reconhecimento de que eles agora são protagonistas no mercado”, avalia Layla.

Conectados ao mundo digital

Os consumidores brasileiros desta faixa são igualmente ávidos por bens e serviços que aumentem sua qualidade de vida e sejam desenhados levando em consideração suas necessidades.  De acordo com a pesquisa, que analisou o que os maduros mais consomem e do que sentem falta, os sites de notícias (85%) e redes sociais (83%) são os principais meios utilizados pelos 50+ para se manter informados. Veículos tradicionais como o jornal e televisão tem perdido espaço na busca por informação.

O serviço mais consumido, no geral, é a TV paga, mas isso pode mudar por faixa etária. Para quem tem entre 50 e 59 anos, serviços de entretenimento, como Netflix e Spotify são os mais acessados, enquanto para quem tem mais de 60 anos mobilidade e saúde figuram nos serviços mais procurados.

Apontou ainda que Educação está entre as prioridades: 55% dos 50+ sentem falta de cursos no geral (fora línguas), seguido de vestuário e roupas adequados a sua idade (47%). Para 42% faltam alimentos que atendam necessidades específicas, enquanto serviços de turismo e cursos de idiomas/ intercâmbio aparecem com (37%) e (34%), respectivamente. As soluções para adaptação/ acessibilidade da casa foram apontados por 32% dos entrevistados e produtos de beleza por 30%.

De acordo com o estudo, alimentação (46%) e plano de saúde (39%) são as principais despesas pessoais citadas pelos entrevistados. Os gastos com a casa representam 67% da renda e 19% são destinados aos gastos pessoais.

Das 863 pessoas de todo o país entrevistadas, 73% afirmaram ter casa própria, 14% moram em casa alugada. Outros 7% moram em casa própria em pagamento e 6% em moradia emprestada ou cedida. Os 50+ estão vivendo cada vez mais sozinhos, seja por viuvez, ninho vazio ou separação. No entanto, 33% moram em duas pessoas, em geral o cônjuge e são responsáveis pelas próprias compras.

É um retrato que revela o tamanho do desafio das empresas para incluir esse público na sua estratégia de negócio.