Pessoas não têm prazo de validade

Francisco Olavarría Ramos, autor do manual didático “El Micro Edadismo lo vamos jubiliar”, escreveu que o preconceito em relação à idade gera exclusão, baixa autoestima, problemas de saúde e abuso.

E por se tratar de discriminação cada vez mais evidente, que se soma a outras como crença, raça ou gênero, cabe a todos nós combatê-la.

Aliás, cada um de nós é uma vítima potencial da marginalização sentida à medida que os anos passam. O chamado idadismo ou etarismo, como preferem alguns, é uma construção social e está escancarado na mídia e nas nossas relações, inclusive de trabalho. Ainda hoje enfrentamos o envelhecer como um fardo e isso se estende para o ambiente corporativo.

Por isso, lidar com a aceitação dentro de nós mesmos pode ajudar nessa conscientização coletiva, desmantelando estereótipo de que o velho é feio, inútil ou ruim. Precisa ser um despertar geral da sociedade, pois é um preconceito que nos uniformiza e nos relega à indiferença pela invisibilidade. Até mesmo para os acadêmicos atuais é desafio acrescentar e lidar com a questão, assim como fizeram com racismo, sexismo, homofobia e aporofobia, entre outros.

Apesar de todo o esclarecimento ainda somos pegos alimentando o monstro do idadismo mesmo sem querer, por isso esse alerta para tomar cada vez mais cuidado para combatê-lo. O desafio é mudar a cultura resultante do envelhecimento como processo trágico e transformá-lo em algo natural.

Como provocar transformações?

Essa mudança de paradigma em direção a um envelhecimento autônomo, pleno, satisfatório e heterogêneo requer muito ativismo com pequenas medidas, como questionar o cânone da beleza tradicional associada aos jovens, apostar no currículo cego, promover programas para avaliar a experiência e talento sênior no mundo dos negócios, optar por notícias otimistas quando seus protagonistas são mais velhos ou incluir no código penal a idade como um fator agravante em crimes de ódio.

Combater o idadismo significa não só desafiar estereótipos, mas visões arraigadas que nos impedem de celebrar a diversidade e as diferenças que nos caracterizam como seres humanos. Combatendo a discriminação fomentamos novas formas de convívio social, incluindo as interações baseadas no respeito e na solidariedade entre gerações e, claro, de inclusão intergeracional.

No mercado de trabalho, por exemplo, isso requer de nós também a construção de uma carreira autogerida que acompanhe as tendências globais do mercado, com a flexibilidade necessária para mudar constantemente. Afinal, os 60+ de hoje estão apenas na metade da vida e terão um longo caminho a percorrer num mundo cada vez mais fluído. É tempo suficiente pra aprender, desaprender, contribuir, empreender, ou seja lá o que for.

Nesse contexto de alta mobilidade – de pessoas, das empresas e até da própria estrutura do conhecimento –, é importante pensar no conceito de aprendizagem contínua, o chamado lifelong learning. E as novas tecnologias, se acessíveis e mais amigáveis, podem ser importantes ferramentas para isso, nos ajudando na construção de uma versão revisada, ampliada e melhorada de nós mesmos. Afinal, pessoas não têm prazo de validade.

Este artigo foi originado a partir de uma reunião a convite da SAE Brasil entre Rachel Cardoso, jornalista e gerontologista, Flávio Padovan, especialista em gestão e sócio da MRD Consulting, e Eduardo Estellita, cofundador do Instituto Diversidade. Confira a íntegra dessa CONVERSA INSPIRADORAConfiança e apoio intergeracional – a base de um mundo conectado

Confronto com novos desafios ajuda a manter a saúde do cérebro

Durante os Jogos Olímpicos em Tóquio, no Japão, o caso da ginasta norte-americana, Simone Biles, que desistiu de competir por causa de um desiquilíbrio emocional causou polêmica e chamou atenção para o que já é considerada a próxima pandemia: os transtornos mentais. Há um certo preconceito quando o assunto são doenças neurodegenerativas e psicológicas, mas a saúde da mente é questão de política pública. Hoje, a maior parte das pessoas sofre de algum transtorno desse tipo. E, com o aumento da população idosa, o quadro de incidência de demências deve se agravar. A boa notícia é que dá para prevenir.

Dados de estudos epidemiológicos realizados em seis países da América Latina, incluindo o Brasil, demonstram os casos de demências atingem mais de 7% dos idosos. É uma taxa considerada alta por pesquisadores e especialistas. No entanto, segue tendência mundial; nos países europeus, fica entre 5% e 10%. O que chama a atenção é que o percentual cresce muito à medida que sobem as faixas de idade na velhice. Ou seja, o índice de demência, que é de 2,9% em pessoas de 65 a 69 anos, pula para 33% a partir dos 90 anos, quando um em cada três pode desenvolver doenças neurológicas.

Mas que medidas podemos tomar para proteger nosso cérebro já que se tratam de deficiências muitas vezes invisíveis?

Fatores de risco são diversos

Para se ter uma ideia, a Síndrome de Burnout atinge cerca de 32% dos trabalhadores brasileiros, o equivalente a 33 milhões de pessoas, segundo pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que analisou o impacto da pandemia e do isolamento social na saúde mental de profissionais essenciais. O que tem levado a outro problema que é o abuso de bebidas alcoólicas.

Outro dado alarmante vem da Organização Mundial da Saúde, que dá conta de mais de 11 milhões de pessoas no Brasil com depressão. Estima, ainda, que até 2030, essa será a doença mais comum no País.

Todos são fatores considerados de risco para a incidência de doenças como o Alzheimer. Estudos mostram que figuram com destaque – isolados ou combinados: a diabetes, a hipertensão e a obesidade na meia idade, o sedentarismo, a depressão, o tabagismo e o baixo nível educacional.  Vale aqui destacar que o Alzheimer é apenas um dos diversos tipos de demência. Há ainda a vascular, a de Parkinson, a senil, a frontotemporal, a de Pick, a com corpos de Lewy, e, por último, mas não menos grave, por álcool.

As freiras de Notre Dame

Então, é claro que tudo isso conta no prontuário de cada um, mas o melhor indício de como proteger nosso cérebro vem de uma pesquisa histórica, realizado por David Snowdon, professor de neurologia na Universidade de Kentucky. Conhecido como Estudos da Freiras de Notre Dame, foi realizado em 1986 com quase 700 irmãs que doaram seus corpos à Ciência.

O que fez este grupo de participantes da pesquisa tão especial foi a semelhança particular com a qual todas tinham levado suas vidas – nenhuma delas fumava, nenhuma bebeu excessivamente, nenhuma teve parceiros e todas tiveram uma rotina significativa. No mundo da ciência, para se ter tantos participantes com aproximadamente as mesmas variáveis de controle é uma verdadeira dádiva de Deus, e quase impossível de replicar.

A lição mais surpreendente do estudo é que as freiras que usaram seus cérebros várias vezes por dia para ler, escrever, pensar e analisar – eram menos prováveis a sucumbir à doença de Alzheimer. A conclusão que se tira é que as pessoas que se estimulam intelectualmente e buscam aprendizado constante terão uma melhor chance de afastar a demência.

Então, o que você está esperando para começar a exercitar sua mente?

Não pense que vai demorar para sentir os primeiros impactos. A partir dos 35 anos, nossa velocidade de processamento diminui, então algumas pessoas podem perceber já por volta dessa idade os primeiros sinais de esquecimento ou demora para se lembrar de alguma informação

É por isso que não se pode deixar a mente de fora da rotina de exercícios. Vale palavras cruzadas, sudoku, xadrez e outros jogos que provoquem o intelecto, incluindo o videogame. Mas se você já está habituado a alguma dessas atividades, busque outras.

Aquele friozinho na barriga

Preservamos o cérebro por mais tempo quando somos confrontados constantemente com novos desafios. Sabe aquele friozinho no estômago associado ao medo do novo, ao que é inerente a novas possibilidades? É disso que se trata!

Aprender sempre. Eis a melhor fórmula para reverter a perda cognitiva. Isso vai garantir agilidade na adaptação não só a essas alterações provocadas pelo envelhecimento, mas também pelas mudanças de um planeta em constante transformação. Afinal, todos os dias somos atropelados pelas notícias sobre o futuro na era da revolução tecnológica e, por isso mesmo, é melhor que a nossa mente esteja apta e bem aberta para enfrentar esse novo mundo.

É questão de sobrevivência, mas é também questão de sanidade mental.

Leia também: Depressão é a principal causa de suicídio entre idosos

 

 

5 ações para combater o efeito psicossomático da pandemia

Nem precisa ser idoso para sentir os efeitos psicossomáticos do distanciamento social. Todo mundo, em algum grau, tem algum tipo de dificuldade em lidar com a pandemia.  Mas ao menos um fator parece ser unânime para piorar a quarentena imposta: a quantidade de conteúdo inútil que invade feito praga o isolamento.

Se não é o bombardeio macabro do noticiário, é a tsunami de láives, que já pode até ser aportuguesada porque venhamos e convenhamos ganharam aquele toque over-verde-amarelo que só a gente sabe dar. Outro dia mesmo vi o anúncio de uma láive “ao vivo”.  Oiiiii?

Um amigo postou que tinha a impressão que a láive era a nova paleta mexicana. Para quem não lembra o tal sorvete gourmet virou febre e houve uma onda de investimentos em paleterias, que depois, claro, não vingaram.

Não se trata aqui de virar mais uma fiscal de rede social alheia, menos ainda de criticar o mundo, porque tudo que a gente não precisa neste momento são de mais reclamações vãs. Então, que tal promover algo que valha no meio desse enorme entulho digital?

Sem grandes pretensões, destaco 5 ações positivas que têm feito meus dias dentro da caixa melhores.

#Para reorganizar o trabalho

O FalaMaturi é um papo via Zoom realizado semanalmente com o pessoal da MaturiJobs, que reúne um grupo de maduros em busca de novas formas de trabalho, mas que encontraram online apoio para trocar ideias e sentimentos durante a pandemia.  Eu participo de alguns encontros, realizados todas as sextas, e tem sido incrível.

#Para ajudar quem precisa

O Ribon é um aplicativo de doações pelo qual você não precisa necessariamente colocar a mão no bolso. Ao baixar o app e se cadastrar, o usuário recebe uma boa notícia por dia e, a cada notícia lida, ganha 100 ribons, moedas virtuais que podem ser doadas para projetos sociais, graças a fundações parceiras. Por lá, é possível acompanhar e entender o impacto social do gesto no mundo.

Twitter solidário_Ah! Me chamou atenção ainda a solidariedade encontrada em redes como Twitter, geralmente cheia de esculhambação, bate-boca e politicagem.  Tive a oportunidade de acompanhar o caso de uma senhora que comentou a dificuldade em receber o auxílio emergencial, necessário para o leite da neta naquele momento.  

No mesmo instante, dezenas de anônimos se articularam para contribuir. Várias pessoas pediram sua conta e os comprovantes de depósitos começaram a ser compartilhados. Valores simbólicos, mas que encheram meu coração de esperança.  Incrédulos dirão que é golpe. Pode ser. Minha consciência está tranquila.

# Para manter a sanidade mental

Existem diversos grupos de apoio psicológico no Whatsapp que muito tem ajudado. Eu, por exemplo, participo de três: Saúde Mental Cercanias, Cuidando de Idosos, e um sobre Budismo. É muito grupo, né minha filha? Já dizia o meme de Dráuzio Varella, mas tem gente que realmente precisa. Eu dou uma espiada e percebo como as conversas fazem diferença para algumas pessoas. Então, não é inútil.

O que me fez perder um pouco a motivação no caso dos grupos foi que o coordenador pedia para descrever tal sentimento em uma palavra e adivinhem? Isso mesmo! Todo um rosário desfiado.  Preciso de um divã só pra mim! O que acabei encontrando nas publicações de amigas como as da psicóloga Mara Lúcia Madureira. Ela escreve alguns artigos que ajudam a manter a sanidade mental.

#Para reforçar o sistema imunológico

Sempre gostei de praticar atividades esportivas.  E tenho certeza de que o estilo de vida faz toda diferença para o envelhecimento ativo, mas tive de me readaptar durante a quarentena.  Com a redução dos treinos, eu investi no que passei a chamar de imunização natural. Um reforço ao sistema imunológico baseado em plantas, frutas e legumes.

Criei sucos ótimos e reduzi o vinho porque não é o primeiro e nem será o último fim do mundo. Não adianta achar que quarentena é uma eterna “láiiive” de sertanejo e encher a cara. Um dia acaba e o preço a pagar na retomada é alto.

#Para aprender coisas novas

Já estava cursando uma pós na modalidade EaD, mas com avaliações presenciais. Com a pandemia, as provas passaram a ser online. E dezenas de outros cursos foram disponibilizados gratuitamente para quem tem habilidade com os ambientes virtuais de estudos.

Nem sempre é fácil se adaptar, principalmente para os mais velhos. Mas é possível aprender coisas novas. Veja o caso da italiana Lucy Pollock, de 97 anos, que criou um canal de receitas no YouTube, e tem feio o maior sucesso. Ou conheça o Mapa de Iniciativas 60+ em tempos de coronavírus.

De mais a mais, com pandemia ou sem ela, sempre é tempo de descobrir novos hobbies e até mudar de carreira. Mas tenho pra mim que a palavra de ordem do momento é prudência. Não adianta nada fazer três cursos ao mesmo tempo e ficar louca para dar conta de tudo e tentar se manter altamente produtiva.

Não é hora. O mundo não precisa de produtividade neste momento. Talvez precise de uma pausa. Por que não? O ócio pelo ócio também pode ser importante nas nossas vidas.

Que esse tempo sirva para que a gente perceba essas pequenas coisas que podem fazer diferença no cotidiano na pós pandemia. Não acho que a gente vá sair muito melhor dela, mas não custa tentar, não é mesmo?

Encontre cursos gratuitos para fazer durante a pandemia.

Crônica de uma resiliência anunciada

Por Adi Leite *

Estou me sentindo pressionada, me disse uma amiga.

Você não se sente?

Estamos envelhecendo.

Ninguém me trata mais de “você”.

É sempre “senhora”. 

Com licença senhora? 

Senhora, posso ajudar? 

Sem contar quando algum engraçadinho com aquela cara de, porra vou ter que dar o lugar prá essa velha, não ousa oferecer o lugar no metrô.

Hahahahahahaha.

Não é prá rir não. É triste.

O que mais me incomoda?

Hum, estar  envelhecendo incomoda mais.

Você já percebeu que até as palavras usadas estão mudando?

Inovação, disrupção, impacto e infinitas outras, parecem ter saído de uma caixa escondida embaixo da cama de um escritor de dicionários frustrado. De repente alguém descobriu e resolveu libertá-las e aí virou essa loucura, todo mundo fica repetindo. Parece coisa de criança, sabe?

Não.

Não? Sabe quando criança aprende uma palavra e fica repetindo o dia inteiro?

Meu filho ficava repentindo ombedi, ombedi, ombedi, ombedi, e ninguém sabia o que era, um dia andando na rua ele aponta para um ônibus e fala ombedi.

Agora parece a mesma coisa. Disrupção prá lá, impactar prá cá. 

E o saco é que temos que aprender isso para não parecermos ignorantes.

Aprendendo coisas novas?

Humpf! Prá que eu preciso aprender coisas novas se eu estou ficando velha?

Meu corpo mudou. Meu cabelo mudou. 

A maneira como meu corpo se relaciona com o mundo mudou. A maneira como o mundo se relaciona com o meu corpo também mudou.

Não, não estou triste com isso.

Estou com medo.

Vira e mexe algum amigo me diz que eu preciso me reinventar. 

Já fiz isso algumas vezes nos últimos cinco anos. 

Desisti da última reinvenção no meio do caminho.

Me disseram que eu tinha que ser mais resiliente.

RESILIENTE?

WHATAHELL????

O que eu ia fazer que desisti no meio?

Me disseram que eu deveria ser influencer digital.

E fazer um esforço desumano para ter um milhão de pessoas me seguindo.

Surtei. Prá que ter um milhão de pessoas me seguindo? 

Nunca gostei disso. Nunca gostei de dar satisfação da minha vida para ninguém. Já pensou que horror. Um milhão de pessoas te seguindo, sabendo tudo que você come, com quem você se encontra e além de tudo podendo opinar a respeito?

Credo, que horror!

Não quero ser influencer digital.

Será que não dá pra ser apenas eu?

Só quero escrever sobre o que penso e gosto, afinal, escrever foi a maneira com que eu construí a minha vida pessoal, financeira e profissional, pelo menos até agora.

Essa coisa de influencer me faz pensar que nunca mais poderei ser livre.

Não quero contar para meus seguidores o que eu estou comendo. Acho no mínimo deselegante.

Se eu estou em crise? 

Na verdade estou pensando sobre a passagem de tempo, só isso.

Quer dizer, não é só isso.

Esses dias em uma rede social vi um texto que oferecia uma forma de lidar com o envelhecimento em dez lições.

Desconfiei. Mesmo assim fui conferir. 

Minha desconfiança subiu cerca de mil por cento.

Como pode haver uma fórmula pré-determinada para lidar com a passagem do tempo?

Uma fórmula em dez lições?

Vivi até agora  cinquenta e cinco anos e não sei se dez lições fariam alguma diferença nesse momento da minha vida.

Não, não estou desacreditando o autor do texto. Sorry.

É que na verdade, o mundo e a vida ficaram tão complexos, mas tão complexos que não consigo acreditar que seguindo uma cartilha eu consiga lidar com essa pressão.

Que pressão? Você não percebe? 

Envelhecer sendo seguido por um milhão de influencers oferecendo  fórmulas mágicas de sucesso. 

Hummm, não dá.

Não, não sou contra. Mas, prá mim não dá.

O que você vai fazer então?

Prá ser sincera, comecei uma pesquisa sobre o significado da palavra RESILIÊNCIA.

O que eu achei?

Faz sentido.

Fiquei viajando que esta palavra poderia ter um formato.

Formato?

Sim, eu poderia ficar repentindo como meu filho fazia: Ombedi, ombedi, ombedi.

No meu caso, resiliência, resiliência, resiliência e que poderia fazer isso imaginando uma porta aberta para apontar meu dedo.

*ADI LEITE é um amigo querido, jornalista, repórter fotográfico, autor da foto que ilustra essa crônica, e diretor da Reativação Insights e Desenvolvimento Humano.

Movimento para inclusão do idoso no mundo digital ganha força

Todo dia quando encontro minha mãe ela reclama de algo no smartphone porque não sabe mexer direito. O fato é que ela fuça pra caramba e acho isso bom. Além de distrair-se com o WhatsApp, o ato estimula suas funções  cognitivas como memória, velocidade de resposta e raciocínio. E isso já é comprovado cientificamente.

Mas antes da minha mudança aqui pra perto, ela sequer tinha acesso a internet. E além de pegar no seu pé pela alimentação e prática de atividade física, a estimulei a desbravar esse mundo novo de possibilidades, como acessar o internet banking para controlar o seu orçamento.

Embora tenha sido difícil no começo (e ainda é), é um dever da gente ajudar nessa transição. É claro que nem todo mundo tem paciência e eu mesma já perdi a minha zilhões de vezes, mas já há um movimento inteirinho destinado a inclusão dos 60+ nesse admirável mundo digital. O Senior Geek tá aí pra isso é a prova de que muita coisa bacana pode render a partir dessa boa vontade.

“Acreditamos que tecnologia serve para conectar e não para excluir. Ajudamos os 60+ a desenvolver habilidades no mundo digital de forma simples e divertida por meio de cursos, workshops e bate-papos”, conta o idealizador do projeto, Dudu Balochini, da Totalidade Produtora e Consultoria.

Sinal de que o movimento tem dado resultado vem do Google, que elegeu a Senior Geek como startup zone de 2019. Trata-se de um programa realizado no Campus de São Paulo em que o próprio Google oferece mentoria a iniciativas como a de Balochini.

Foi lá que aconteceu o encontro do qual participei no finalzinho de abril. Os assuntos tratados foram os mais diversos. As pautas incluíram desde a postura adequada para usar celular e o papel do influenciadores seniores, até o potencial do mercado prateado e a telemedicina.

Batizado Business for Senior, B2S, os negócios digitais para e idealizados por maduros têm ganhado espaço em todos os cantos. No final de abril também, a Vila Mariana, o bairro que me abrigou por mais de duas décadas em São Paulo, acolheu também o primeiro hub de inovação do Brasil especializado no público sênior.

Para quem está no limbo dos 50

De acordo com os sócios do projeto, um trio de professores egressos da ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing, a NEXTT 49+  chega para auxiliar profissionais em transição de carreira e até mesmo aposentados que desejam empreender, investindo em um negócio próprio.

Um público que está em crescente ascensão na sociedade brasileira e que anda desassistido, seja como empreendedor, seja pelo próprio mercado, que lentamente vem descobrindo seu enorme potencial.

Embora não tenha acesso aos benefícios dos 60+, é um grupo que padece de atendimento. Os 49+ representam cerca de 50% da renda bruta familiar e não encontram produtos e serviços desenvolvidos especialmente para seu perfil.

E das 2,6 milhões empresas criadas no País no ano de 2018, 34,2% delas tem por trás pessoas acima dos 50 anos, de acordo com o Sebrae – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. É aí que a NEXTT 49+ pode ajudar, com metodologia desenhada para gerar valor e oportunidades para startups, envolvendo grandes empresas e investidores, em uma iniciativa que vai além de um local compartilhado de trabalho.

Além dos empreendedores, a NEXTT 49+ também vai atender executivos seniores que precisam se adaptar ao mercado de trabalho e às transformações digitais e, ainda, empresas de qualquer porte que desejam criar produtos ou serviços para o público maduro.

Tecnologia como aliada da longevidade

A terceira edição do Simpósio de Envelhecimento Ativo da USP – Universidade de São Paulo, é outra iniciativa que este ano dedicou dois painéis inteirinhos para o assunto ao tratar da revolução tecnológica como aliada da longevidade.  Realizado hoje, 16 de maio, o evento reúne profissionais da saúde, estudantes e pesquisadores interessados na área da longevidade.

De acordo com o professor Egídio Lima Dórea, coordenador do Programa de Envelhecimento Ativo da USP, estamos vivendo uma revolução da longevidade que é fundamentada pelo aumento significativo da população idosa mundial. E pela ruptura de vários padrões relacionados ao idoso e do seu papel na sociedade.

“É de fundamental importância que seja criada uma cultura de saúde e bem-estar na maturidade, que inclua, pelos brasileiros, a adoção de hábitos mais saudáveis e atitudes preventivas para que se possa chegar a idades mais avançadas em boas condições física, mental, psicológica e espiritual”, destaca.

As palestras foram desenvolvidas tendo como base o conceito dos quatro pilares – saúde, segurança, participação e aprendizado continuado – desenvolvidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2002, quando lançou o alerta “Envelhecer bem deve ser prioridade global” ao constatar que a população de 60 anos será maior do que os menores de cinco anos em 2021.

O número de idosos cresceu 18% em cinco anos, superando a marca dos 30,2 milhões em 2017, segundo pesquisa nacional realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. As mulheres são maioria expressiva nesse grupo, com 16,9 milhões (56%), enquanto os homens idosos são 13,3 milhões (44%). Outro estudo, realizado pelo Sistema Estadual de Análise de Dados – Seade, aponta que a população idosa do Estado de São Paulo representa 14,8% dos 44 milhões de habitantes.

Importante destacar que quando se tem boa vontade sempre dá pra ajudar. O nosso papel é incluir aqueles que estão mais próximos. E nessa hora é preciso uma geropedagogia que eduque o idoso para ele seja o protagonista do próprio envelhecer.

Faça sua parte!

Deixo como exemplo o caso do estudante de Direito Alexandre Drabecki, de Curitiba. Ele criou um tutorial para a avó da namorada aprender a usar o WhatsApp no primeiro smartphone da senhorinha.

Desenhado a mão, o manual traz os ícones da rede social e explica o significado de cada um em detalhes. Os comandos vão desde como abrir o aplicativo no celular até ouvir e gravar áudios.

As pessoas curtiram a postagem em que ele conta o feito e logo começaram a pedir para compartilhar o material disponibilizado por ele aqui.

Que tal ensinar algum amigo ou parente mais velho também?

Com Proxxima e Jornal da USP.