Pessoas não têm prazo de validade

Francisco Olavarría Ramos, autor do manual didático “El Micro Edadismo lo vamos jubiliar”, escreveu que o preconceito em relação à idade gera exclusão, baixa autoestima, problemas de saúde e abuso.

E por se tratar de discriminação cada vez mais evidente, que se soma a outras como crença, raça ou gênero, cabe a todos nós combatê-la.

Aliás, cada um de nós é uma vítima potencial da marginalização sentida à medida que os anos passam. O chamado idadismo ou etarismo, como preferem alguns, é uma construção social e está escancarado na mídia e nas nossas relações, inclusive de trabalho. Ainda hoje enfrentamos o envelhecer como um fardo e isso se estende para o ambiente corporativo.

Por isso, lidar com a aceitação dentro de nós mesmos pode ajudar nessa conscientização coletiva, desmantelando estereótipo de que o velho é feio, inútil ou ruim. Precisa ser um despertar geral da sociedade, pois é um preconceito que nos uniformiza e nos relega à indiferença pela invisibilidade. Até mesmo para os acadêmicos atuais é desafio acrescentar e lidar com a questão, assim como fizeram com racismo, sexismo, homofobia e aporofobia, entre outros.

Apesar de todo o esclarecimento ainda somos pegos alimentando o monstro do idadismo mesmo sem querer, por isso esse alerta para tomar cada vez mais cuidado para combatê-lo. O desafio é mudar a cultura resultante do envelhecimento como processo trágico e transformá-lo em algo natural.

Como provocar transformações?

Essa mudança de paradigma em direção a um envelhecimento autônomo, pleno, satisfatório e heterogêneo requer muito ativismo com pequenas medidas, como questionar o cânone da beleza tradicional associada aos jovens, apostar no currículo cego, promover programas para avaliar a experiência e talento sênior no mundo dos negócios, optar por notícias otimistas quando seus protagonistas são mais velhos ou incluir no código penal a idade como um fator agravante em crimes de ódio.

Combater o idadismo significa não só desafiar estereótipos, mas visões arraigadas que nos impedem de celebrar a diversidade e as diferenças que nos caracterizam como seres humanos. Combatendo a discriminação fomentamos novas formas de convívio social, incluindo as interações baseadas no respeito e na solidariedade entre gerações e, claro, de inclusão intergeracional.

No mercado de trabalho, por exemplo, isso requer de nós também a construção de uma carreira autogerida que acompanhe as tendências globais do mercado, com a flexibilidade necessária para mudar constantemente. Afinal, os 60+ de hoje estão apenas na metade da vida e terão um longo caminho a percorrer num mundo cada vez mais fluído. É tempo suficiente pra aprender, desaprender, contribuir, empreender, ou seja lá o que for.

Nesse contexto de alta mobilidade – de pessoas, das empresas e até da própria estrutura do conhecimento –, é importante pensar no conceito de aprendizagem contínua, o chamado lifelong learning. E as novas tecnologias, se acessíveis e mais amigáveis, podem ser importantes ferramentas para isso, nos ajudando na construção de uma versão revisada, ampliada e melhorada de nós mesmos. Afinal, pessoas não têm prazo de validade.

Este artigo foi originado a partir de uma reunião a convite da SAE Brasil entre Rachel Cardoso, jornalista e gerontologista, Flávio Padovan, especialista em gestão e sócio da MRD Consulting, e Eduardo Estellita, cofundador do Instituto Diversidade. Confira a íntegra dessa CONVERSA INSPIRADORAConfiança e apoio intergeracional – a base de um mundo conectado

Prontos para encarar a longevidade com independência financeira?

Rebecca Bloom é uma londrina com um péssimo hábito. É uma consumidora compulsiva. Apesar de ser jornalista especializada em mercado financeiro, não consegue controlar as próprias finanças. Qualquer coincidência é mera semelhança! Endividada até a alma, ela vive fugindo dos credores e criando fórmulas mirabolantes para pagar as contas. Esse é o enredo do livro  “Os Delírios de Consumo de Becky Bloom”, de Sophie Kinsell (Record, 2018), que também inspirou um filme.

E se as (os) Beckys da vida chegassem aos 50 com o mesmo comportamento?

É algo a se pensar já que o custo de vida, a partir de certa idade, tende a aumentar. E o que fazer para recuperar o tempo perdido e manter certa qualidade de vida após os 65, quando a baixa capacidade de gerar renda via trabalho declina? É do desejo de encontrar respostas para essa equação que nasceu a Bolso50+, startup ainda em fase de validação, mas que deve compilar dados interessantes sobre o comportamento financeiro dos maduros.

Para isso, seu fundador, Uri Levin, egresso da área de Investiment Bank, está à frente do projeto que especializa a gestão financeira para os maduros.  Assim, ele oferta uma primeira análise gratuitamente para quem deseja se organizar. “A ideia é criar uma base de dados para um aplicativo que ajude essa parcela da população a planejar um futuro mais tranquilidade”, conta.

É, de fato, algo que requer atenção.  Como já tratado aqui no artigo Longevidade do brasileiro implica num desafio econômico maior, é um planejamento essencial para não ficar dependente da ajuda de familiares, de amigos e até do próprio Estado. Assim, quanto antes se começar um programa de poupança, melhor.

Sabemos que é complicado guardar dinheiro com uma renda que, às vezes, mal cobre os custos mensais. E há de se levar em conta ainda que não são poucos os casos em que os papéis se inverteram e colocaram o aposentado como o único arrimo da família, diante do atual mercado de trabalho. Por isso, a ideia de Uri traz certa luz ao fim do túnel, ao encontrar brechas no orçamento, mesmo enxuto, para reduzir despesas fixas, além da educação para mudar os hábitos.

De grão em grão

Um exemplo clássico que ele cita, e que eu testei na prática, é a revisão do plano de celular. Ligar para as operadoras de telecomunicações, sempre exigiu muita paciência e certo jogo de cintura. Imagina, então, para quem desconhece o atendimento feito via Inteligência Artificial, que, na prática, ainda deixa muito a desejar diante das benesses todas prometidas pela tecnologia. Na minha experiência, a negociação com a operadora, resultou em maior velocidade de internet e redução de 50 reais na mensalidade. Ou seja, em 12 meses terei poupado 600 reais.

Mas para cortar gastos desnecessários é preciso, antes de tudo, detectá-los. É assim também com a nossa saúde financeira. Ao realizar essa avaliação, a gente se surpreende com o impacto que certos gastos desnecessários causam no orçamento.  

E tem muita coisa que dá para se abrir mão ou apenas deixar para depois.  Um jeito de, aos poucos, mudar aquele comportamento que ainda guarda resquícios de uma cultura de hiperinflação. Além disso, faz muito pouco tempo que as pessoas começaram a conscientizar sobre a velocidade da transição demográfica e se questionar sobre o que fazer com as dezenas de anos a mais de vida.

Acredito que pensar a respeito da longevidade envolve também uma maior consciência dos impactos e dos custos sociais e ambientais de tudo que consumimos no nosso dia a dia. Pode parecer pouco se analisado isoladamente, mas quando computado ao longo de uma vida é muito significativo.

O consumo consciente é um instrumento de bem-estar e não um fim em si mesmo. Parte da premissa de que devemos consumir para viver mais e não viver mais para consumir. É importante que os idosos, como consumidores, tenham claro o poder que tem ao fazer suas escolhas.

Longevidade do brasileiro implica num desafio econômico maior

Mesmo sem ter recebido educação financeira, meus pais sempre souberam poupar. Ao contrário de mim, que ainda hoje conto com a ajuda deles em várias frentes. E olha que me especializei em Economia, hein! Mas o fato é que nunca consegui lidar bem com o dinheiro e percebo que a minha geração – assim como as mais contemporâneas – padecem deste mesmo mal. Trago este tema porque as discussões em torno da reforma da Previdência despertam para a importância de cuidar bem da saúde financeira enquanto há tempo.

É algo fundamental para se envelhecer com alguma qualidade de vida. Porque ninguém será realmente independente se continuar a contar só com o Estado e a família na velhice.

Atualmente apenas 3% dos brasileiros aposentados conseguem se sustentar com recursos próprios, segundo estudo apresentado durante o Seminário Como Investir, do qual participei. O baixo percentual é justamente consequência da tal falta de educação financeira. Um problema que pode comprometer as conquistas das próximas gerações.

O alerta foi dado pelo economista e escritor Aquiles Mosca, do BNP Pariba Assent Management. Ele foi um dos palestrantes do evento, que aconteceu no dia 25, após o encerramento do 10º Congresso ANBIMA de Fundos de Investimentos.

“A baixa taxa de poupança do brasileiro costuma ser justificada por ganhos insuficientes, mas a culpa não é da renda e sim do gasto.  Estamos vivendo mais e é preciso aprender a gerir bem as finanças durante a vida produtiva porque isso implica num desafio econômico maior para todos, não só para o governo”, disse.

Protagonismo para assumir o controle

O economista Martin Iglesias, do Itaú-Unibanco e vice-presidente do Comitê de Educação para Investidores da ANBIMA, concorda. Para ele, o primeiro passo para assumir o controle financeiro se dá com mudança de hábito.  “É preciso protagonismo”, disse. Assim, o primeiro gasto do mês deveria ser com a poupança. Só depois o custo de vida deve se adequar ao restante do orçamento.

A estratégia para criar um orçamento adequado foi destacada pelo escritor Gustavo Cerbasi, especialista em Inteligência Financeira. Ele demonstrou a importância de se manter um planejamento em que as despesas possam variar. “Um orçamento fixo não me dá margem de manobra caso ocorra algum imprevisto”, disse.

E imprevistos acontecem. Para lidar com eles, a Monja Coen sugeriu a prática da respiração consciente. Uma dinâmica postural que ajuda na reflexão e na tomada de decisões. “Não é errado obter lucro, mas é preciso avaliar para quê eu obtenho e como eu vou investir o que ganhei.”

E, então? Você  se considera um bom gestor de recursos? Sabe poupar? Melhor ainda: sabe gastar?

Se a resposta for sim, sinta-se parte de uma minoria. Sete em cada dez brasileiros não fazem reserva, mostra pesquisa recente da Serasa Experian. Ainda segundo o estudo, metade dos brasileiros desconhece as vantagens de guardar dinheiro. “Na história recente do país passamos por diversas crises econômicas e isso contribui para esse quadro”, avaliou o especialista Bruno Papi, fundador da escola de investimentos Criando Futuro.

Ele recorda que há algumas décadas apenas houve um confisco na caderneta de poupança, o investimento preferido da população. Por isso pouca gente confia nas instituições financeiras. E houve ainda quem precisasse abrir mão dos recursos guardados pelo desemprego.

O outro motivo é a cultura. “O brasileiro médio é naturalmente imediatista. Ele não quer abrir mão do prazer presente para obter um ganho futuro maior. Isso só mudará com bastante esforço dos educadores financeiros e com a mídia contribuindo para essa divulgação”, afirmou.

Custos maiores após os 50 anos

A situação piora para a população na faixa de 50+, que costuma poupar menos ainda. Isso porque hoje em dia é bem comum os filhos morarem com os pais e tornarem as contas mais altas do que os ganhos, além dos próprios gastos aumentarem com saúde e moradia.

Papi destacou ainda a importância de se poupar em todas as faixas etárias. “Quem começa primeiro sai na frente – e isso significa que quem tem de 50 anos para cima precisa planejar com mais cuidado”, afirmou.

Saia do lugar e dê o primeiro passo

Mas nunca é tarde para começar a guardar dinheiro. Por pior que seja o cenário será melhor poupar o que conseguir do que deixar nas mãos do acaso. “Atualmente encontramos em corretoras e pequenos bancos opções bem decentes, com baixo valor de investimento e segurança, como no Tesouro Direto ou em CDBs [certificados de débito bancário]. São bons primeiros passos para iniciar uma poupança”, sugere.

Os 3 principais desafios para guardar dinheiro são:

#Segurança

Entender os mecanismos financeiros e quais são as aplicações que funcionam melhor para você e seu objetivo, além de saber onde pode ou não haver perdas.

#Informação

Existem milhares de consultores e conteúdos na internet, além dos meios tradicionais, como os gerentes de bancos e as corretoras. É preciso compreender o básico para filtrar o que é confiável e evitar cair em armadilhas, inclusive da própria instituição financeira ou do assessor.

#Disciplina

Manter o foco e evitar gastos desnecessários não é fácil em nenhuma idade. Você precisa ter isso em mente e evitar sabotadores, porque vão surgir vários nessa nova jornada.

A maneira como cada pessoa lida com o seu dinheiro é muito particular. Daí a importância de fazer um planejamento!

Textos escritos originalmente para os portais da ANBIMA e do Instituto da Longevidade Mongeral Aegon.

Saiba mais em Sobrevivência da aposentadoria pede remédio amargo.

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Sobrevivência da aposentadoria pede remédio amargo

Os sistemas de seguridade econômica não nasceram como os conhecemos hoje e precisam continuar se transformando para garantir sua longevidade. Conheça a história da aposentadoria para saber por que uma reforma previdenciária é vital. E veja quem tem direito de pedir revisão do benefício.

Os sistemas de seguridade econômica precisam continuar evoluindo. No decorrer do tempo, ganharam abrangência e benefícios, como conta a socióloga Inês Trost, ao Portal Plena *, numa breve história da aposentadoria.

É preciso entender esse histórico, para acompanhar as necessidades de mudanças nas leis atuais, em virtude de problemas relacionados ao déficit da Previdência Social. Um rombo que beira os R$ 270 bilhões e têm levado os vários governos do País a criarem novas regras, em busca de maior equilíbrio para as contas públicas.

Mas você sabia que essas constantes alterações das leis também dão aos cidadãos o direito de revisarem suas aposentadorias? Conforme a advogada Tonia Galleti, professora e coordenadora do Departamento Jurídico do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical, a cada 10 concessões verifica-se entre 7 e 8 com erros. E isso está ligado a vários fatores, que vão desde má-fé até incompetência de quem presta o serviço.

O começo de tudo

No passado, os recursos que as pessoas tinham para proporcionar-lhes sustento em qualquer fase da vida eram patrimônio, trabalho, família e caridade. Sem essas opções, em casos de vulnerabilidade – como velhice, invalidez, deficiência, viuvez, orfandade, entre outros –, poucas eram as chances de sobrevivência.

Este quadro começou a mudar nos últimos 150 anos com a criação de sistemas públicos de seguridade econômica que funcionam como um seguro. Ou seja, cada indivíduo faz contribuições para um fundo e assim adquire o direito de receber um ou mais benefícios quando preencher certos pré-requisitos.

Lá atrás, na Idade Média, existiam nas cidades da Europa as Corporações de Ofício, ou guildas. Elas reuniam artesãos da mesma profissão, como ferreiros, tecelões e padeiros, entre outros, com propósitos, acima de tudo, econômicos. E também reservavam uma pequena parte de seus fundos para amparar os inválidos, viúvas e órfãos entre seus associados.

Já na Inglaterra medieval eram as paróquias as responsáveis por assistir os inválidos e órfãos com recursos pagos pelos donos de terras ou arrendatários. Também as fraternidades surgiram nesta época a partir das guildas.

Com o advento da Revolução Industrial os movimentos de trabalhadores ganharam força, sobretudo, para melhorar as péssimas condições de trabalho. Mas também para assegurar alguma renda aos casos de extrema necessidade gerados por invalidez ou  morte do chefe da família. Nos Estados Unidos foi a Guerra Civil (1861-65) que deu origem ao primeiro programa de assistência a mutilados, viúvas e órfãos de guerra.

Privilégio para poucos no século XIX

O direito à aposentadoria e a uma renda decorrente dela começou a tomar forma na segunda metade do século XIX, e se aplicava somente a algumas categorias profissionais privilegiadas. Na Alemanha, o primeiro sistema de aposentadoria, instituído na Baviera, é de 1805, e foi criado para atender funcionários públicos.

Algumas grandes empresas também ofereciam renda a seus trabalhadores, mas a aposentadoria continuava inacessível à maior parte da população. Somente em 1889 o chanceler Von Bismarck decretou um sistema mais abrangente de seguridade econômica e social que, porém, só beneficiava aqueles de baixa renda e a partir dos 70 anos (idade que na época poucos atingiam).

No Brasil, a primeira iniciativa para se criar uma aposentadoria com renda vitalícia data de 1888, quando foi regulamentado o direito para empregados dos Correios. Contudo, somente a partir de 1923, com a aprovação da Lei Eloy Chaves, o País adquiriu um marco jurídico para a atuação do sistema previdenciário, que na época era composto pelas Caixas de Aposentadorias e Pensões – CAPs.

A Lei Eloy Chaves tratava especificamente das CAPs das empresas ferroviárias, pois seus sindicatos eram bem mais organizados e possuíam maior poder de pressão política. O objetivo inicial era o de apoiar esses trabalhadores durante o período de inatividade.

Essa situação sofreu alterações ao longo da década de 1930, quando Getúlio Vargas assumiu o poder. Ele reformulou o sistema e criaram-se Institutos de Aposentadoria para diversas categorias profissionais (ferroviários, bancários, comerciários), que somente em 1964 foram unificados no INPS – Instituto Nacional de Previdência Social – abrangendo trabalhadores rurais e urbanos.

INSS é insustentável em longo prazo

Foi em 1990 que o INPS se transformou no atual INSS  – Instituto Nacional do Seguro Social –, durante a gestão do então presidente Fernando Collor de Melo. O INSS funciona como uma organização pública prestadora de serviços previdenciários para a sociedade brasileira. E, como tantas outras entidades governamentais, enfrenta problemas. Inúmeros são os motivos que decretarão sua falência em longo prazo.  E não vamos entrar neles desta vez.

Mas todo esforço para driblar tais problemas tem resultado em constantes mudanças das leis por parte dos mais variados governos. Um cenário que garante aos cidadãos o direito de revisarem suas aposentadorias. “Qualquer pessoa pode requerer a análise do processo por um especialista em Direito Previdenciário”, diz Tonia Galleti.

Ela destaca que ao menos metade dos 200 mil associados do Sindicato Nacional dos Aposentados já passou por revisão, sendo que em 80% foram detectados erros, muitos deles banais e até inexpressivos, como um índice lançado errado num curto período. “Às vezes, a correção pode mudar o valor de cálculo em R$ 50, R$ 80, o que pode parecer pouco, mas é um dinheiro que faz toda diferença para os beneficiários”.

Legislação complicada atrapalha

A maioria dos casos é detectada apenas por especialistas devido à tecnicidade do assunto, sendo possível passar despercebidos até mesmo pela própria equipe do INSS. “Falta mão de obra qualificada, mas também existem casos de dolo”, alerta Tonia.

Um exemplo: em duas ocasiões – dezembro de 1998 e janeiro de 2004 – o governo federal elevou o teto do INSS, por meio de emenda constitucional, sem que esses valores fossem incorporados às aposentadorias e pensões de quem já recebia o benefício. Em setembro de 2010, julgando um recurso extraordinário, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o novo teto deveria ser adotado para todos os aposentados e pensionistas. Mas foi preciso ajuizar ação civil pública para a conquista.

O INSS, por meio de sua assessoria de imprensa, não confirma as estatísticas do sindicato e informa que no mês de setembro deste ano, concedeu 437.925 benefícios e teve 6.848 requerimentos de revisão.  “Ou seja, a proporcionalidade entre pedidos de revisão e benefícios concedidos é de 1,56%%, conforme dados apurados em 19 de outubro”.

Caminhos para o futuro

Apesar da proposta do governo Temer não ter decolado mais por questões políticas do que sociais, é essencial entender que quaisquer reformas nas regras previdenciárias, devem ser realizadas de forma planejada e após um amplo debate social, econômico e político. Principalmente numa época de crise institucional como a que atravessa o País.

A elevação da idade mínima para a aposentadoria é uma medida talvez necessária do ponto de vista atuarial. “É preciso levar em conta que o brasileiro está vivendo mais”, escreve o advogado Murilo Aith, especialista em Direito Previdenciário e sócio do escritório Aith, Badari e Luchin Advogados.

Ao mesmo tempo é uma medida complicada socialmente, pois a maior parte da população economicamente ativa não consegue permanecer no mercado de trabalho até os 65 anos. Isso porque tem dificuldade de manter um emprego formal, manter as contribuições ao INSS e o nível salarial.

Nesse sentido, existe um projeto de lei que cria o Regime Especial para o Trabalhador Aposentado (Reta),  que visa facilitar a contratação de idosos com mais de 60 anos. A ideia é permitir a contratação de aposentados por hora, sem o custo de pagar a Previdência Social, o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) e outros encargos, e sem vínculo empregatício. A estimativa é que 1,8 milhão de idosos entrem no mercado de trabalho nos próximos dez anos.

Aith destaca ainda que temos uma desigualdade social que requer cautela. Numa mesma cidade, como São Paulo, a expectativa de vida é de 55 anos na periferia e nos bairros de classe média alta essa expectativa pode chegar a 80 anos. Por isso é tão importante  analisar e questionar os candidatos para saber quais são suas ideias e propostas para a Previdência Social no País.

Fenômeno global

É preciso observar também que o fenômeno do envelhecimento da população não é algo pontual, que só exige mudanças no sistema brasileiro. A falta de sustentabilidade atropela países como o Chile, que não tem previdência pública.

Apontada como modelo pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), a privatização da Previdência Social chilena, promovida pelo general Augusto Pinochet na década de 1980, continua vigente e cobrando um preço cada vez mais elevado. Mas o colapso do sistema tem ganhado maior visibilidade nos últimos dias à medida que o arrocho no valor das pensões e aposentadorias se reflete no aumento do número de suicídios.

Conforme o Centro de Estudos de Velhice e Envelhecimento são índices mórbidos, que crescem ano e ano, e refletem a “mais alta taxa de homicídios da América Latina”.  Leia aqui.

Como pedir revisão de aposentadoria?

  1. O primeiro passo é estudar o caso e descobrir se você tem direito a algum tipo de revisão: coletiva ou individual. Não é necessário esperar nem um dia se houver dúvidas. Há um prazo de 10 anos para contestar.
  2. O segundo passo é, em posse da carta de concessão da aposentadoria, memória de cálculo, ou relação de contribuição (todas podem ser obtidas na Previdência Social), entrar com uma ação judicial no INSS no Juizado Especial Federal ou Vara Previdenciária, e esperar.
  3. O terceiro passo, em alguns casos, é recorrer, se seu pedido de revisão não for concedido. Muitos pedidos podem ser negados em primeira instância, tornando necessário que a pessoa recorra para a segunda instância, ou até instâncias superiores.

*O Portal Plena é parceiro do Casa de Mãe.

Leia também Depressão é a principal causa de suicídio entre idosos.

Sapato velho também pode percorrer uma nova estrada

Em vez de falar de problemas (e, acreditem, não são poucos) vamos falar de soluções? Ao longo do tempo em que tenho me dedicado a escrever sobre a longevidade, descobri inúmeras iniciativas que não só propõem respostas positivas ao envelhecimento como ressignificam essa fase da vida.  O Lab 60+ é uma delas. E acabo de me associar ao movimento. Não, eu não tenho 60 anos. Mas vou chegar lá. Espero! E, afinal, trata-se de uma conversa da qual todos nós devemos fazer parte.

No decorrer do tempo pretendo apresentar a vocês todas essas iniciativas que tenho tido o prazer de conhecer e que me abriram os olhos para enxergar que um par de sapato velho pode sim percorrer uma nova estrada.  Hoje eu trago o Lab 60+ para falar do que tem sido feito em prol da revolução da longevidade porque sempre admirei e valorizei o empreendedorismo. Mais do que isso: sempre sonhei empreender e nesse movimento há diversas pessoas que fizeram da aposentadoria o pontapé inicial para finalmente realizar seus sonhos.

Além do dominó e do bingo

Novamente trago o exemplo de Casa. Meu pai, embora não tenha se capacitado tanto, ilustra perfeitamente como se manter ativo é vital para o bem-estar físico e emocional, além de contribuir para melhorar a qualidade de vida da família quando a aposentadoria reduziu seu poder aquisitivo. Só parou para cuidar da minha mãe quando a vida assim o exigiu. E estava pronto.

Como ele, hoje no Brasil, cerca de 650 mil idosos estão atuando estrategicamente, além do dominó e do bingo. Calcula-se que por volta de 3,1% dos empreendedores brasileiros têm mais de 60 anos e, com o aumento na qualidade de vida, o número de empresários nesta faixa etária não vai parar de crescer.

Empreender depois dos 50 anos é um caminho sem volta para milhares de pessoas ao redor do planeta. Os fatores que contribuem para isso são muitos: aumento da longevidade, desemprego, aposentadoria ou mesmo realização pessoal estão entre os principais.

Os números impressionam. A pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2015 registrou que 30% dos empreendedores em estágio inicial têm entre 45 e 64 anos. No caso de negócios já estabelecidos, esse número sobe para 59%.

De acordo com o Sebrae, depois dos 60 anos pode ser, literalmente, a melhor idade para iniciar um novo negócio. Isso porque os idosos esbanjam mais saúde e disposição do que muitos jovens e, se eles tiverem atualizando-se ao longo do tempo, a experiência e a maturidade vão garantir muitos pontos positivos para o empreendedorismo.

Ferramentas naturais

Questões relacionadas à aposentadoria, como “O que eu vou fazer durante o dia?” podem se transformar em poderosos estimulantes. É possível encontrar na maturidade e na experiência de vida características essenciais ao empreendedorismo, como conhecimento (ter o saber), habilidade (saber fazer) e atitude (querer fazer), o famoso CHA.

Se você ainda tem dúvidas ou não sabe por onde começar a ajudar seu idoso, o Lab 60+ pode ser o primeiro passo. O movimento realiza anualmente um encontro entre pessoas e instituições para debater as possibilidades de viver e contribuir de forma ativa para a sociedade após os 60.

Protagonismo do idoso

“O protagonismo é fundamental no desenvolvimento de um mundo que respeite a todos; um mundo de cuidado recíproco. Devemos agir como indivíduos que pensam como coletivo, construindo uma realidade que traduza os ganhos e benefícios de envelhecer.”, diz o Manifesto do Lab 60+.Há ainda muitos cursos dedicados para essa faixa etária e literatura que podem ajudar nesse caminho. Separei aqui duas opções: o curso Empreendedorismo na Maturidade e o livro O Empreendedorismo na Maturidade. Mas as possibilidades são infinitas e vale lembrar que sempre é possível iniciar qualquer curso independentemente da idade. E trilhar qualquer caminho.