Maturidade que inspira inovação

Estive sumida e não atualizo o Casa de Mãe faz um tempinho.  Mas juro que foi por uma boa causa. Fui buscar aprendizado, me atualizar e trocar ideias com gente que pensa diferente. Sair da minha bolha. E esse movimento é vida!

Se movimentar é necessário até mesmo na solidão para se confrontar consigo mesma. Mesmo em silêncio, sozinha, em busca de reforma íntima, é preciso suar muito para alcançar equilíbrio, no trato com a diversidade dos fatos, de pessoas e de situações.

E, em tempos tão sombrios como o atual, faço minhas as palavras de Paulo Freire. “É preciso esperança. É preciso esperançar. E esperançar é se levantar, é construir, é não desistir.”

É por isso que mesmo podendo atualizar o blog, não o fiz. Faltou-me inspiração para coisas realmente relevantes, do meu ponto de vista, é claro. Ia ser só mais conteúdo num mundo já repleto de informação inútil. E ia ser só mais um canal sem a minha identidade.

“Casa de ferreiro, espeto de pau”, muitos dirão. Mas não acredito nesse ditado. O exemplo é sempre o melhor caminho. E uma palavra pode mudar tudo. Mudar uma palavra pode mudar a vida de alguém. Está tudo integrado: pensamento, vibração, palavra e atitude. Somos seres múltiplos e plurais.

E aí está a dificuldade. Escrever por escrever não faz mais sentido.  Eu acredito que cada palavra transmite uma frequência que pode te elevar ou te derrubar.  E é justamente por acreditar no que prego que fui buscar conhecimento e, consequentemente,  elevação.

Social Media Week e o eterno aprendizado

Participei de diversas atividades do Social Media Week, que esse ano abriu espaço para a Economia Prateada. Sim, havia palestra e palestrante para nossos longevos! O que me deixou bastante feliz.

Também li alguns livros, tomei uns bons vinhos com amigos e ouvi histórias. Não tem coisa melhor… Principalmente se você enfrenta dificuldades em lidar com a rotina de pais idosos e com a própria vida. Não é fácil para ninguém, porque os problemas vão tomando proporções descomunais quando não se está sereno.

Em busca de inspiração também estive falando com alguns empreendedores, que têm impulsionado a inovação no Brasil ao buscar soluções para melhorar nossa perspectiva de vida diante da longevidade. Entre eles encontrei gente bacana, como a Mônica Perracini e seus três sócios.

Eles criaram uma plataforma de conteúdo para ajudar a melhorar a qualidade de vida dos cuidadores familiares de idosos. Só quem passa pelas dificuldades de tomar decisões todos os dias sabe o quanto a informação se torna um ativo dos mais valiosos. Sempre foi, mas o que esse time fez foi reunir tudo num único lugar. Conteúdo de qualidade e com respaldo de especialistas. Confere aqui  que vale muito a pena.

Um baita exemplo de como tecnologia e inovação são aliadas de quem cuida e de quem é cuidado. “A ideia é criar um market place com fornecedores capazes de suprir todos os tipos de necessidades, além de manter uma rede de compartilhamento de experiência”, conta Mônica.

A tecnologia e a inovação têm proporcionado a criação de uma ampla gama de produtos e serviços cada vez mais customizados para consumidores de faixas etárias mais avançadas. Por apostar em novos modelos de negócios, as startups têm tirado melhor partido das oportunidades sinalizadas pelo mercado 60+.

Foi assim que nasceu a ISGAME, uma escola de games inovadora que fortalece a saúde mental. E cá entre nós, a gente sabe como isso é importante.

Lá, o Fabio Ota desenvolveu uma metodologia inovadora que ensina pessoas com mais de 50 a jogar e a programar os próprios games, estimulando o raciocínio lógico, memória, criatividade e integração intergeracional. A história dele é incrível, começa com o cuidado com o avô e está detalhada aqui.

Outra que nasceu das inquietações de um filho sobre o acompanhamento da rotina de cuidados da mãe, de 84 anos, é a Gero360.

A intenção de Leônidas Porto de participar mais ativamente desta rotina, sem interferir na autonomia e na independência da mãe, o levou a se aprofundar nas necessidades de outros idosos e a buscar alternativas para o bem-estar do “adulto maduro” e para a tranquilidade de suas famílias.

A necessidade virou projeto. O projeto conquistou pessoas. Estas pessoas formaram uma equipe e, juntas, estão unindo conhecimento, experiência em diferentes áreas do saber e tecnologia para impactar positivamente a rotina dos mais de 25 milhões de idosos no Brasil e de suas famílias.

A startup desenvolve soluções tanto para o segmento B2C quanto para o B2B.  No B2C, o aplicativo visa organizar a rotina do idoso com autonomia, alertando-o para temas relevantes como horário de atividades, medicamentos, medições vitais, etc. e ainda conectando-o com quem desejar (família, cuidadores e amigos). No B2B, a inovação fica por conta de sistema para gerenciamento de estoques de medicamentos de ILPIs (Instituições de Longa Permanência) e assemelhados.

Gero 360, ISGame e Plug And Care não são as únicas a usarem a longevidade para impulsionar a inovação no Brasil. Espero trazer outras histórias mais, que nos façam refletir e resistir quando os problemas ganharem aquelas dimensões desproporcionais.

Um senhor mercado

O déficit da Previdência Social despertou no Brasil o debate sobre questões relacionadas ao envelhecimento. Mas essa é só a ponta do iceberg de uma parcela da população tida, muitas vezes, como fardo para a economia. “É preciso não só entender, mas viver o envelhecimento com naturalidade em toda sua diversidade”, diz Simone Jardim, embaixadora da Aging 2.0, organização global com sede em São Francisco, nos Estados Unidos, que promove o fortalecimento de startups focado em produtos e serviços inovadores para o público 50+, ao comentar que encarar a idade avançada demanda uma mudança cultural do próprio idoso.

Isso porque, amparado pela maior expectativa de vida, o número de brasileiros acima de 65 anos deve praticamente quadruplicar até 2060, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE. Assim, a população com essa faixa etária chegará a mais de 58 milhões ou quase 27% do total no período.

Um público que, segundo pesquisa do Data Popular, tem renda média até 40% maior sobre a renda média nacional. E que movimenta em torno de  R$ 1,58 trilhão, equivalente ao consumo de duas Holandas. “Mesmo assim, além da indústria da doença, não se vê praticamente nenhuma outra investindo em produtos específicos”, diz o empresário Nilton Molina, presidente do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon.

Trata-se de uma entidade criada com objetivo de contribuir com ações na área do trabalho, de cidades e mobilização social para propor soluções em torno da questão da longevidade.  A partir do instituto surgiu o Movimento Real Idade, que reúne apoiadores de todos os segmentos da sociedade e do governo, em torno do tema, a fim de discutir a rápida mudança demográfica no Brasil e aprofundar a percepção das oportunidades e desafios provocados por esse processo.

Na avaliação de Molina, embora a indústria absorva o potencial econômico das pessoas idosas, é importante notar que o padrão de consumo é alterado à medida que se envelhece.  Em famílias onde há pelo menos 50% de idosos, despesas com saúde e cuidados pessoais e alimentação são maiores comparativamente com outras famílias. “Não creio que isso seja ignorado pelas empresas, mas o ponto é: elas buscam conhecer melhor o consumidor idoso e desenvolver produtos que atendam seus interesses e necessidades?”

O fato de 45% dos entrevistados ter indicado dificuldades para encontrar produtos adequados, segundo uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), mostra que essa movimentação ainda é tímida.

Velho conhecido

O processo de envelhecimento da população é algo de conhecimento público, o que falta é passar à ação. “Quando empresas adotam posições que evidenciam sua preocupação e interesse na temática, como no caso do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon, isso chama a atenção.”

E os desafios não são poucos. Passam pelo investimento necessário em entender as reais necessidades e desejos desse público até à forma de conceber e desenvolver produtos específicos, coisa que já acontece em países desenvolvidos. A França e a Alemanha têm políticas industriais específicas para estimular a chamada economia da longevidade.

A soma das atividades econômicas geradas pela compra de produtos e serviços pelos americanos acima de 50 anos e a movimentação subsequente motivada por esses gastos representava 46% do PIB dos Estados Unidos em 2012, e espera-se que esse número chegue a 52% em 2032. “Essa força não ocorreria sem a existência de um conhecimento maior sobre o segmento 50+, nem sem investimento em desenvolvimento de produtos especializados”, diz Molina.

Mudança cultural

Mesmo lentamente, uma rede de negócios inovadores com foco em produtos e serviços pensados para atender consumidores de idade mais avançada começa a evoluir no Brasil. A proposta é transformar as visões estereotipadas que a sociedade brasileira ainda tem sobre as pessoas mais maduras, como considerá-las “velhas” demais para trabalhar ou iniciar um negócio próprio, praticar esportes radicais ou voltar à sala de aula. É que pensa e pratica o empresário Thomas Case (na foto de divulgação que abre o texto), de pouco mais de 80 anos.

Após a venda da Catho, plataforma de vagas de empregos na internet, Case fundou em São Paulo, em 2009, a Pés Sem Dor. A empresa que produz palmilhas ortopédicas sob medida nasceu em consequência de um problema próprio. Praticante de atividade física sete dias por semana, as dores nos pés e nos joelhos o fizeram buscar soluções para manter a rotina esportiva e deram o pontapé inicial para uma empreitada hoje em franca expansão, com 15 pontos de vendas. “Eu poderia parar, mas minha missão na vida é trabalhar”, diz sorrindo.

Segundo Case, o sucesso se deve a dois fatores: investimentos na educação dos funcionários e em tecnologia. Todos os 50 colaboradores da Pés Sem Dor recebem bolsas para suas graduações, MBAs, cursos técnicos ou línguas estrangeiras. Com parceiros na Inglaterra, Alemanha e China, o empresário viaja com frequência à procura de novas tecnologias.

“O doutorado na Universidade de Michigan, nos EUA, me ajudou na recente parceria com a Vibmed, que desenvolve scanners 3D”,conta. Sediada na China, a Vibmed foi fundada por Wei Shi, que estudou na mesma universidade. Por meio da precisão de scanners impressoras 3D, o empreendedor que trabalha 12 horas diárias promete devolver o dinheiro aos clientes, caso as dores nos pés e nas pernas não sejam eliminadas.

Outro que propõe respostas positivas e inovadoras para a longevidade é o engenheiro Mario Solari, de 62 anos. Ele vem se dedicando ao projeto Idade Livre, uma startup voltada para o turismo na maturidade.  “O turismo é uma consequência da busca pelo bem estar”, afirma.

Empreendedor aguçado, ele cursou pós-graduação em Marketing Digital e Comércio Eletrônico, mantém os negócios em engenharia e ainda encontra tempo para praticar atividade física e se aventurar na venda direta de uma nova marca de nutracêuticos no Brasil, a Jeunesse. “Quem se considera idoso aos 60 vive em outra época”, diz empolgado com o primeiro roteiro de turismo de experiência que acaba de sair do forno. Um tour para degustação de puro malte escocês.

Texto originalmente publicado na Revista Gestão Empresarial.