É possível se abrir ao amor nos tempos de Tinder?

“A essência de uma pessoa é o amor e a vida só existe quando o amor se movimenta”, diz o psiquiatra Sérgio Felipe de Oliveira, doutor em Neurociências e pesquisador na área da Psicobiofísica.  A afirmação faz sentido para muita gente – e, ao que parece, também para a escritora Isabel Allende, 75 anos, que já declarou publicamente estar com o coração aberto ao amor.

Mas o que é se abrir para o amor em tempos de Tinder e de relações líquidas, em que nada é feito para durar? A idade conta nesse processo?

Na prática,  amor não escolhe idade. A experiência e o tempo fazem com que assuma formas diferentes. As emoções tresloucadas e carnais da juventude dão lugar a uma versão mais amadurecida, que se reflete num relacionamento em que há mais tolerância e prazer na companhia do outro.

É disso que fala a autora de obras como A Casa dos Espíritos. Allende vive uma espécie de lua-de-mel com o novo namorado, o advogado americano Roger Cukras, com quem divide o mesmo teto há pouco tempo. Ela estava separada havia dois anos do também advogado Willie Gordon, com quem permaneceu casada por 28 anos.

O romance com o ex acabou, mas inspirou outro romance: o livro Muito além do Inverno, lançado ano passado. “Por que termina o amor? Será que se pode continuar amando depois de tanto tempo? Escrevi movida por essas inquietações”, declarou ela ao jornal “O Estado de S. Paulo”.

Depois, contudo, conheceu outro homem. “Mesmo com o livro já terminado, me vi tomada por outra questão: como é namorar aos 75 anos? Descobri que é o mesmo que namorar aos 17, só que com uma sensação de urgência. Não tenho tempo mais para a pequenez da vida, para jogos estúpidos”, completou.

Ponto final pode ser recomeço

“Colocar o ponto final num relacionamento não significa que você não está mais apta a se relacionar”, diz a psicanalista Débora Damasceno, diretora da Escola de Psicanálise de São Paulo.

Na avaliação dela, quanto mais tempo de convívio com alguém maior a facilidade de abrir o coração para um novo amor. “É um fator que conta, pois quem mantém um relacionamento longo sabe perfeitamente as dores e as delícias de compartilhar a vida”, diz. “Hoje em dia o discurso em voga é o do benefício da solidão, mas no fundo tudo que se quer é se abrir ao amor”.

E na prática isso significa dar vazão ao rumo natural das coisas, já que a capacidade de amar permanece conosco enquanto estamos vivos. “É a própria pulsão da vida”, acrescenta Débora, para quem mesmo as experiências ruins trazem sabedoria.

Ruptura para abrir novos caminhos

Estar aberto ao amor significa também não aceitar o que impõe a estrutura da sociedade, uma pressão que pode paralisar os sentimentos, de acordo com ela. “Somos condicionados a agir de certo modo, mas quando não se corresponde ao ambiente em que se vive há uma ruptura que tende a abrir o caminho para outras pessoas que não tinham coragem de fazer o mesmo”.

Ao declarar publicamente que estava aberta ao amor Isabel Allende fez esse papel, diz Débora. “Muitos de sua idade não tinham coragem e seguiram seu exemplo”, completa a especialista.

“Os sentimentos não mudam, apenas as formas de aproximação, especialmente depois do advento da internet. Hoje, a conquista é mais fácil e rápida, mas raramente profunda. Antes, havia o que chamávamos da química de uma paixão, o envolvimento do casal. Agora, os jovens permanecem adolescentes durante mais tempo, portanto, não querem longos comprometimentos”, declarou a própria Allende.

Concorda com ela o psicólogo Luiz Francisco Jr, life coach e professor da Fadisp, para quem uma das coisas boas da longevidade é que não há mais preocupação com as expectativas alheias.  “É um período possível de se experimentar uma redução da ansiedade, uma liberdade maior para aproveitar a vida, possibilitando assim atitudes que antes eram consideradas impossíveis”.

Bentinho não tinha Facebook

Agora, em tempos de Tinder, nada mal dar uma boa checada nas redes sociais dos potenciais parceiros. Tá certo que ninguém está livre de desilusões ao encontrar companhia pelos meios tradicionais.

Mas pensa bem!

Dom Casmurro, um clássico da literatura universal, não existiria nos tempos modernos. Se o Machado de Assis tivesse um celular nas mãos a inspiração seria outra. Tenho certeza!

O Bentinho nunca concederia o benefício da dúvida à Capitu se pudesse acessar a internet e vasculhar a sua vida no Facebook ou no Instagram. Com certeza alguma prova da traição estaria lá. Escancarada.

Checar para não se decepcionar

É por isso que, em parte, sou obrigada a apoiar os “stalkeadores”. Stalkear é uma gíria do idioma português, baseada na palavra inglesa stalker, que significa literalmente perseguidor.

A palavra costuma ser usada para se referir ao ato de espionar ou perseguir as atividades de determinada pessoa nas redes. O que você consegue descobrir por ali cruzando dados é assustador…

Quem ainda não viu a série You? Ou Dirty John, inspirado em caso real?

Aí eu te pergunto: até que ponto uma traição virtual pode ser considerada infidelidade? Pra mim, traição é traição! A intenção faz o ladrão. É desleal com o outro! Seja no mundo real ou no virtual.

E vocês o que acham? Há limites para as relações virtuais? 

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Estou me tornando a minha mãe. E tenho orgulho disso!

Eu não sei ao certo quando isso aconteceu.  O momento em que me tornei a minha mãe. É claro que não foi uma transformação completa, mas quando me olho no espelho vejo muito dela. Não estou falando de aparência não, embora tenha herdado muitos traços também. Falo de atitude, comportamento mesmo. Eu tenho orgulho disso e nem me importo mais.

Sabe por quê?

Pensando bem, se ela não fosse como é eu não seria eu quem eu sou.

Ela me deu bons exemplos nas grandes questões da vida. Naquelas que realmente importam.  Graças aos princípios dela construí meu caráter e minha índole. Minha essência boa foi cultivada e é isso que importa.

Porque as pequenas coisas a gente tira de letra, né?

E a cada dia que passa eu entendo mais minha mãe. Entendo mais as atitudes dela, compreendo melhor cada não e cada sim que ouvi ao longo da minha vida ao seu lado. Era tudo aos moldes dela, dentro de seus limites daquele momento.  

Acho que é mais fácil perceber isso quando se tem filhos.  Eu não tenho, mas essa proximidade com os bons velhinhos me fez me colocar no lugar deles várias e várias vezes.

Eu fico imaginando um filho meu chegar em casa com mais uma tatuagem no braço, por exemplo. Ou me contando que fumou maconha.  Mesmo que eu não retaliasse, faria um drama absurdo…

Olha eu aí sendo igualzinha a minha mãe!

Seria exatamente o que ela faria comigo.  Só que as coisas mudam. Os tempos são outros e hoje talvez ela até tivesse uma atitude diferente. O que requer de mim outra postura também diante da minha mãe.

Vai saber se logo mais ela não me aparece com uma tatuagem ou um piercing por aqui! Vai saber…

Esses velhinhos andam tão modernos!  Porque ela também mudou e está toda diferentona. Pra “frentex”, como ela diz agora de posse de seu aplicativos e fazendo bom uso da internet. Então , o lance é pegar leve.

Mas tem coisas que não mudam mesmo. De jeito nenhum.  Nunquinha. Esses dias me peguei pensando em quais atitudes eu me pareço mais com a minha mãe. Não achei uma só não, mas uma lista de comportamentos que provam que estou igualzinha a ela. Quer ver?

# A louca da localização

Peço pros amigos mandarem mensagem quando chegam em casa. E pros filhos também! Bendito Whatsapp, né gente? Imagina ter de ficar ligando pra todo mundo pra ter algum sinal de vida? Porque era assim na época da mamãe…

# Vai sempre fazer frio

Digo pra todo mundo levar uma blusa pra sair. Todo mundo mesmo! Virou meio mania, sabe? Outro dia o filho de uma amiga ia pra balada e me peguei recomendando ao garoto levar um casaco… Oh my God!

# Ai minhas manias…

Tenho hábitos estranhos como separar duas buchas para lavar louças: uma delas só para os copos. E deixo isso anotado para quem quiser ver. Não ouse misturar as duas. Tenho a impressão de que o copo não ficará bem limpo. TOC? Que seja!

# Gentileza gera gentileza

Não me conformo com falta de gentileza.Taí uma coisa que não faço questão de mudar. Tem de ser gentil sim! Seja homem ou mulher. Minha mãe sempre prezou pelas pequenas gentilezas como abrir a porta do carro pra ela. E eu também.

# Mas quem é mesmo?

Troco nomes. Eu sei que isso é imperdoável, mas não é por mal. E os nomes nem costumam ser parecidos. Chamo Marta de Solange e assim por diante. Não sei de onde tiro isso. Cismo que a pessoa tem cara de Marta mesmo chamando Solange e aí lascou-se.

# Sem memória

Repito a mesma história um monte de vezes. Repito e repito e repito. Sempre como se fosse a primeira vez. E fico surpresa quando o ouvinte não faz cara de surpresa. Por que será, né?

E vocês? Já pararam pra pensar quais são suas semelhanças com as suas respectivas?

Texto originalmente publicado em Dominique.

Sem velhos tabus, sexualidade se aprimora na maturidade

O envelhecimento é um  processo indutivo de transformação individual nas esferas física, mental e social. Tais mudanças tendem a afetar a expressão da sexualidade e forma como lidamos com ela. A boa notícia é que pode ser para melhor, conforme declarou Jane Fonda, de 79 anos, na estreia do filme “Nossas Noites”, no festival de cinema de Veneza. “Quando se trata de amor e sexo, envelhecer é uma coisa boa”, disse a atriz, que queria que a cena picante com o par Robert Redford, de 81 anos, durasse mais.

O longa-metragem é uma adaptação do livro de Kent Haruf e conta a história de um casal de viúvos que faz um acordo para superar a solidão.

Quem me deu a dica cinematográfica foi a pedagoga N.S., de 64 anos, para quem diferentemente do conceito de sexo, puro e simples, a sexualidade engloba muito mais. “É libido, energia de vida, que leva a fantasiar, desejar, amar, expressar afeto, apaixonar-se, inclusive por nós mesmos.”

Tudo está, segundo ela, relacionada à autoestima. “É um círculo virtuoso: passei a me cuidar mais e a fazer mais sexo”, conta. “Quanto mais regular, melhor fica.”

O primeiro casamento aconteceu aos 21 anos, quando os filhos vieram, mas foi na segunda união, aos 45 anos que ela diz ter descoberto o amor e realizado a sexualidade plenamente. “O autoconhecimento te dá mais liberdade para aceitar o seu corpo e direcionar o parceiro, que precisa estar na mesma sintonia”, diz.

No caso do homem idoso, a ereção demora a estabelecer-se duas a três vezes mais. “Mas uma vez obtida conserva-se mais tempo sem necessidade de ejaculação. Importa salientar também que para cada década regista-se uma diminuição progressiva na resposta sexual. Contudo, nunca se verifica o seu completo desaparecimento”, segundo os relatórios Masters & Johnson, editados originalmente nos anos de 1966 (A Resposta Sexual Humana) e 1970 (A Inadequação Sexual Humana).

Os relatórios produzidos nos Estados Unidos tiveram repercussão mundial e foram elaborados a partir de uma minuciosa investigação científica das respostas fisiológicas e anatômicas da sexualidade masculina e feminina. Os autores, em decorrência, utilizaram esses conhecimentos para a formulação de técnicas e tratamento em terapia sexual utilizadas até hoje por profissionais da área clínica.

Menopausa pode ser aliada

Outro ponto abordado é a questão da reposição hormonal na menopausa. “É como um renascimento, pois minha libido voltou juntamente com a lubrificação”, explica. “Isso tem de deixar de ser um tabu para a mulher e para o homem, que precisa ser compreensivo e mais parceiro nessa fase da vida.”

A psicóloga Margherita Cassia Mizan, de 57 anos, concorda. Para ela, a menopausa foi um alívio.  “Veio como sinônimo de liberdade porque eu pude exercer minha sexualidade de forma plena sem me preocupar com gravidez, que era um temor para minha geração”, conta.

Atualmente no terceiro casamento, ela fez mestrado em Gerontologia e lida diariamente com situações que mostram que a erotização continua a existir, apesar da desqualificação do corpo da mulher que tende a se anular com o envelhecimento.

“Sexo faz parte da vida e é tão natural que chegamos ao ponto de vivenciar, principalmente entre mulheres, a homossexualidade em centros para idosos”, diz. “Não que elas sejam homossexuais, mas ficam no estado de homossexualidade pela falta de acesso ao sexo oposto.”

É justamente para quebrar estereótipos que a jornalista Denise Ribeiro, que não gosta de se mensurar pela idade, planeja criar uma comunidade – presencial e na internet – para discutir a sexualidade na maturidade.

Inicialmente batizado KD VC, o site lançado durante a Virada da Maturidade, cujo tema da última edição foi qualidade de vida. “A prática sexual é um dos indicadores de qualidade de vida e a gente tem como proposta discutir alguns temas tabus para a maioria da população como masturbação, ejaculação precoce e relação virtual”, diz.

Questão cultural

Com três filhos e dois netos, adepta do poliamor, Denise acredita que o problema vai além da idade. “É cultural e precisa ser desnudado”, afirma. “Estou separa há 16 anos e minha vida sexual é muito mais ativa agora, com o marido alheio”, brinca.

Para ela, o que mudou é que conseguiu enxergar que não existe um grande amor, mas sim grandes amores. “Precisamos reconstruir os códigos morais e os modelos com essa nova geração madura.”

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