Desconstruindo o colágeno

A busca para manter uma aparência jovem leva cada vez mais pessoas a consumirem colágeno como se fosse o elixir mágico da beleza. E, de fato, ele tem sua importância. Mas será que é usado da maneira correta? E qual é sua parcela de culpa no processo de envelhecimento?

Não existe receita pronta e generalizada na prescrição nutricional para repor todas as perdas que ocorrem com o passar dos anos. Um programa alimentar e a suplementação precisam ser individualizados e reavaliados regularmente, de acordo com o estilo de vida de cada um. Mas a busca para manter uma aparência jovem leva cada vez mais pessoas a consumirem colágeno como se fosse o elixir mágico da beleza.

De fato, o colágeno é de extrema importância para a saúde ao garantir força e mobilidade para diferentes partes do corpo. “Trata-se de um composto de proteínas presente na estrutura humana, mas que deixa de ser produzido gradativamente com o passar dos anos”, explica a dermatologista Adriana Caldas, professora da Faculdade de Medicina Estadual de São José do Rio Preto.

Sua produção é realizada por células chamadas fibroblastos e sua  principal função é dar suporte e sustentar a estrutura da pele, prevenindo a flacidez e o aparecimento de rugas. “Além de deixar a pele mais firme e bonita, o colágeno também é importante para a função de sustentação das células, atua na cicatrização e contribui para a integridade e o funcionamento normal dos ossos, músculos e cartilagens”, completa a nutricionista Adriana Lima, da Clínica Fares.

De repente 30

Mas a derrocada começa cedo:  a partir dos 30 anos a produção pelo organismo cai, em media, 1% ao ano. E depois dos 50 anos a perda é mais acelerada, principalmente nas mulheres.

O médico Jardis Volpe, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, explica que é possível identificar que o processo começou porque o contorno do rosto muda. As rugas aparecem e as bochechas e pálpebras parecem cair.

Não à toa, produtos com colágeno já abarrotam as gôndolas dos supermercados. Há opção para todos os gostos e bolsos: balas, capsulas e bebidas prometem rejuvenescer, hidratar, purificar e até aliviar o estresse. Só que funcionam em pouquíssimos casos.

“Na maioria das vezes não há uma dosagem suficiente para fazer com que você rejuvenesça, principalmente para aqueles pacientes com idade mais avançada”, afirma o dermatologista.

Alimentação é coadjuvante

Tanto Adriana quanto Jardis destacam que para que o colágeno seja bem aproveitado, é preciso  associá-lo com uma alimentação balanceada porque o organismo precisa de outros nutrientes para que o efeito seja eficiente.

“É necessária a participação de zinco, cromo, silício, selênio, cobre, das vitaminas A , E e C além de vitaminas do complexo B, como a piridoxina, a biotina e o ácido pantotênico”, explica a dermatologista. E, em cada pessoa, essa necessidade é diferente.

É possível ainda encontrar colágeno em alimentos de origem animal como carnes e gelatinas. O que ainda não está comprovado é se ele pode ser absorvido apenas pelo seu consumo.

Principais tipos e suas funções

Existem pelo menos 16 tipos de  colágenos, mas o tipo I e tipo II são os mais utilizados nas reposições.

O colágeno tipo I representa 90% do total do nosso corpo. Ele fornece estrutura para a pele, ossos, tendões, cartilagem fibrosa, tecido conjuntivo e dentes. Recomenda-se o uso de 10g por dia junto com as refeições e com um alimento rico em  vitamina C

O tipo II é feito de fibras frouxamente empacotadas e é encontrado na cartilagem elástica, que servem de “almofadas” para as articulações. É indicado para doenças como osteoartrite de origem autoimune e artrite reumatoide. Recomenda-se 40 mg por dia em jejum .

Contesto Meryl, mas não quero parecer a Marta

Minha amiga Rosa Bapstistella* deu um depoimento incrível sobre nossas escolhas no processo de envelhecimento. Ou a falta delas. Fazia todo sentido trazê-lo para reflexão nessa Casa.  O que ela nos conta é que não há fórmula contra a idade; um dia, inevitavelmente ela chega. Alguns estão dispostos a fazer qualquer coisa para retardar o relógio, enquanto outros não temem as rugas e entendem que as fases da vida podem ser bacana do seu jeito. Sem perder o humor. Confira!

“À beira dos 70 anos, preciso contar verdades sobre o processo de envelhecimento da pele, para que não se iludam. (E só vou falar da pele, sosseguem.) Está rolando nas redes sociais depoimento atribuído à Meryl Streep do tipo “Que ninguém tire as rugas da minha testa, obtidas pelo assombro diante da beleza da vida; ou da minha boca, blá, blá, blá…, ou a bolsa sob meus olhos, formadas pelas lágrimas…”

Tudo bobagem.

A esta altura da vida, digo pra vocês que não é nada confortável descobrir novas rugas, olheiras pesadas, manchas amareladas a cada olhada no espelho. Se eu soubesse de procedimento e/ou intervenção que melhorasse tudo isso sem esticar minha cara feito papel filme, deixando-me tão artificial como a Barbie ou tão bicuda como Marta Suplicy, mas claro que eu toparia.

Marta Suplicy

Já pensou apagar o bigode chinês? Eliminar todas aquelas malditas ruguinhas em torno dos olhos? E levantar minhas bochechas sem deixar com aquele aspecto de bolinhas de pingue-pongue em cada lado do rosto (vide foto de Meryl)? A testa lisinha? Desde que não fosse um dr. Bumbum, lógico, faria na boa.

Alguns aspectos da “melhor” idade (aliás, melhor para quem, cara pálida?) são de chatice ímpar, mesmo para uma pessoa ativa como eu. Já não chega aposentadoria, banco azul, cartão obrigatório para ocupar vagas em estacionamento – onde tem aquela figurinha simpática, arcada com bengala, estampada no chão????

Imagina se vou olhar no espelho e me conformar: ah,tudo bem, é tão gratificante olhar esta ruguinha bonitinha aqui neste canto que adquiri quando meu ex-marido me botou chifres deste tamanho; ou ah, como é bom ver minha testa franzidinha desde que a simpática Iris Walquiria me demitiu do Estadão; ah, como é bom notar a multiplicação destas manchinhas enferrujadas no meu rosto e colo porque tive tantos dissabores com “amigos” e subordinados!!! As olheiras, ah, gente, as olheiras devo às dolorosas perdas que sofri…

Tá doido? Pirou? Marcas da vida, dores e delícias que vivi estão aqui, bem dentro do meu coração, são minha história. Na realidade, a pele mostra que envelhecemos, pronto, não tem jeito! Pode esticar, NÃO TEM JEITO…

Pode usar cremes riquíssimos em vitamina C, D, H, I, J, L. NÃO TEM JEITO… Um botox aqui, um preenchimento ali, laser na cara toda, plástica, colágeno, fio de ouro, Nefertiti. NÃO TEM JEITO…

Melhora, mas daí a pouco, volta tudo. Envelhecemos, sem volta, está na cara, LITERALMENTE. Nada tenho contra procedimentos dermatológicos, ao contrário. Sabe como é, dar aquele tapinha mais ou menos pra ficar mais alegrinha por alguns dias, vá lá. Mesmo porque, vocês já entenderam que não tem jeito. Agora, dizer que aceito tudo na boa, que cada ruga é um troféu … Tô fora. Sorry, Meryl!”

*Rosa Baptistella é jornalista