O perigo mora dentro de casa

Mortes por queda quadruplicaram em São Paulo na última década, se aproximando do número de homicídios. Os dados, do Boletim Epidemiológico Paulista, divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde, não são novos, mas juntamente com a comoção causada pela morte do apresentador Gugu Liberato, aos 60 anos, abrem oportunidades para o debate sobre um grave problema de Saúde Pública.

É que a queda está entre as principais responsáveis pela morte da população idosa e também pode ser causada por sintomas de DCNTs (Doenças Crônicas Não Transmissíveis), caso das cardiorrespiratórias, do câncer e da depressão. Aparentemente não foi esse o caso de Gugu. O apresentador teria apenas tomado uma decisão errada ao subir em um local perigoso.

Mas mesmo que estivesse em perfeita condições físicas e cognitivas, por que negligenciar os riscos? Gugu era celebridade, mas quantos anônimos não seguem os mesmos passos? E, assim como ocorreu com ele, a própria casa quase sempre é a principal armadilha. 

Nem precisa se aventurar muito. A simples passagem de um cômodo a outro pode se tornar um problema, provocando tombos que causam óbito ou danos irreversíveis. Por isso, identificar previamente os fatores de risco pode contribuir muito para a prevenção. São duas as causas que costumam provocar acidentes:

#Intrínsecas

Quando se relacionam com as transformações fisiológicas do envelhecimento, patologias específicas ou mesmo uso de medicamentos. Exemplos: postura inadequada, doença de Parkinson, osteoporose e depressão.

#Extrínsecas

Quando correspondem ao ambiente de interação do idoso. Exemplos: superfícies escorregadias; calçados não adaptados; iluminação inadequada; escadas sem corrimões; banheiros não adaptados.

Casa segura

Em decorrência das causas extrínsecas, surge por volta dos anos 2000 a arquitetura para a maturidade. E profissionais como Cybele Barros, autora do projeto arquitetônico Casa Segura, são cada vez mais requisitados para desenvolver políticas públicas. O trabalho dela foi aprovado pelo Ministério da Saúde e passou a fazer parte do Programa de Atenção Integral à Saúde do Idoso.

História parecida tem a arquiteta Flávia Raniere. Após adaptar diversos projetos, ela se especializou no envelhecimento da população.  “Os avanços tecnológicos e arquitetônicos vêm se tornando grandes aliados na rotina desse público”, acredita.

Para ajudar a entender a importância de uma casa segura, Flávia mapeou alguns fatores que parecem bobos ou irrelevantes, mas trazem chances de machucados ou tombos. Veja quais são:

#Falta de luz adequada

Conforme a idade avança, a visão também envelhece e sofre degeneração. Usar óculos é bastante comum, mas mesmo assim, não impossibilita a limitação visual. Sem enxergar clara e nitidamente, há mais chances de tropeçar, escorregar e bater em móveis.

A solução

Exagere no número de pontos de luzes. Quanto mais, melhor. Abuse de pendentes, arandelas, abajures, luminárias de mesa e spot de piso, que aumentam a iluminação de paredes, escadas e corredores. Para esses pontos de apoios, prefira opções com dimer, que permite o ajuste gradual da intensidade da luz. Para quem puder investir, um sistema de automação pode ser instalado para quando a pessoa se levantar do sofá ou da cama no escuro, uma luz de vigília no piso é acionada, ajudando a se localizar e se deslocar, por exemplo, até o banheiro.

#Quinas

Com o tempo, a derme, camada intermediária da pele, perde elasticidade, hidratação e oleosidade. Isso resulta em uma pele mais fina, frágil e mais vulnerável a machucados, infecções e doenças em geral. Uma simples esbarrada nas quinas dos móveis pode machucar a pele mais delicada. E um simples machucadinho pode se tornar um grande problema.

A solução

Aposte nas quinas arredondadas. Por não terem as temíveis pontas, não ocasionam lesões mais graves. Se não puder trocar o móvel, em lojas de produtos para casa é possível encontrar adaptadores de silicone, que são facilmente acoplados nas quinas tradicionais e fazem o serviço.

# Pisos e tapetes

Escorregar no chão liso e tropeçar em tapetes são acidentes comuns em qualquer casa. Onde moram pessoas mais velhas, com a mobilidade já comprometida, esses acontecimentos são mais recorrentes. Um piso escorregadio e tapetes mal posicionados podem causar mais do que uma simples queda.

A solução

Pisos emborrachados e vinílicos antiderrapantes, por exemplo, dificultam as quedas. Eles são encontrados em várias padronagens e cores. Os tapetes têm uma função importante de acústica e limitação de espaço e não precisam ser eliminados, apenas usados de maneira estratégica. Alinhe-os com o piso, sem desnível, e só os posicione em lugares que garantam a segurança, por exemplo, cobrindo todo o piso da sala.

#Móveis não adaptados

Camas altas demais ou baixas demais exigem um esforço que nem todo mundo tem quando atinge certa idade. Cadeiras com rodinhas podem virar e derrubar quem estiver sentado. Bancadas baixas impedem o encaixe de uma cadeira de rodas. Quando os móveis de uma casa não são adaptados para quem mora nela, viver ali vira um tormento. Além de riscos à saúde, compromete a mobilidade do morador.

A solução

Opte por elementos com contraste, cores vibrantes e formas diferentes. Assim, os objetos da casa ficam mais visíveis e fáceis de serem desviados.

E então? Com toda essa informação disponível já dá para tomar alguma precaução, não é?

Saiba mais:

Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa

Manual de prevenção de quedas da pessoa idosa

Saúde da pessoa idosa: prevenção e promoção à saúde integral

Autor: Rachel Cardoso

Sou jornalista e filha única. Aficionada por Esporte e Saúde. Em mais de 20 anos de carreira fiz reportagens sobre diversos temas. Atualmente, colaboro com diversos canais digitais, todos ligados a temas deste Brasil Sênior. Também sou sócia-diretora na Tot Conteúdo Digital. Graças a esse histórico, pude mudar a direção da minha vida e estar perto dos meus pais para acompanhar o processo de envelhecimento deles. Esse blog é consequência disso. Escrever é uma paixão!

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