Qual a primeira vez que te inspira ?

O ‘mito de mulherão da porra’ vem daquela mulher independente, que viaja sozinha, faz o que bem entender, paga suas contas, se contenta com a própria companhia, curte a vida do jeito que quer…

Nada parece lhe abalar, ela é inteligente, competente, boa profissional. Tem também um corpão e isso não tem nada a ver com magreza, pois ela se acha linda do jeito que é. Enfim, nada lhe tira a paz de espírito.

Agora fala sério.

Que mulheres se encaixam completamente no padrão ali em cima descrito? Isso é mito.

Até as divas que nos inspiram têm dias de cão.

Imagina a Fernanda Montenegro, do alto de seus bem vividos 89 anos, e tendo de lidar com a repercussão do ataque de um imbecil feito o Roberto Alvim.

Pois é. Nenhuma mulher é todo dia tão forte assim. Nenhum ser humano é assim.  Tem dia que a gente só se sente mesmo um nadica de nada nesse mundão. E não tem problema.

De vez em quando, isso acontece.  

“Vai chorar, vai sofrer, e você não merece. Mas isso acontece”,  já cantava lindamente Cartola!

Num momento delicado como o atual pode ser que isso aconteça com mais frequência. Muitas mulheres ainda estão atravessando a ponte entre o cuidar e o assumir suas vidas nas próprias mãos. E nem sempre é fácil desconstruir conceitos errôneos sobre gênero e –  sobretudo idade – ao longo desse percurso.  

Todo esse estigma ainda pesa muito mais na trajetória feminina e não é papo de mulherzinha. Estudos comprovam, conforme já discutimos aqui em Na questão de sobrevivência as mulheres são o sexo mais forte.

Virando o jogo

Mas ao decidir mudar essa situação, muitas de nós criaram novos negócios e formas alternativas de empreender; trocaram de marcha e turbinaram a carreira, fazendo a diferença para si e para a sociedade.

Tanto é assim que pela primeira vez, a Forbes lança a lista “50 over 50”,  para reconhecer mulheres que inspiram com mais de 50 anos. Uma tendência num mundo que envelhece a passos largos.

E foi inspirada nessa iniciativa que comecei a pensar em como, em pleno 2020, ainda é importante chacoalhar a sociedade para o Dia Internacional da Mulher. Então, fiz uma lista de primeiras vezes que vão sempre me inspirar a mudar e a transgredir quando necessário. 

Ah, só para lembrar, nem todos os feitos importantes precisam estar à altura de uma dupla como Ester Sabino e Jaqueline Goes de Jesus, cientistas que lideraram o sequenciamento do coronavírus. Uma das últimas coisas que fiz pela primeira vez, por exemplo, e extremamente marcante, foi dar banho na minha mãe no hospital. 

Não que não tivesse feito outras coisas libertárias como colocar um piercing aos 40; ou correr a primeira maratona em Roma aos 42; e por aí afora. É que nada se compara àquele momento. 

Uma ocasião que para ela deve ter sido muito constrangedora e, talvez até humilhante (nunca falamos sobre), mas foi capaz de ressignificar minha existência.   Foi ali que decidi voltar para perto e estreitar meus laços familiares, dando vazão a um novo papel de filha e de mulher.

Fácil nunca é. Transformar-se envolve riscos e sempre haverá perdas e ganhos.  O que importa mesmo é que apesar de todos os dias de cão, a nossa coragem de desbravar, explorar, desobstruir não esmoreça.

Confere, então, as primeiras vezes desses mulherões!

#Pela primeira vez, uma mulher realizou o sonho de ser mãe aos 61 anos no interior do Brasil

#Pela primeira vez, Olodum desfilou sob comando de uma mulher

#Pela primeira vez, uma mulher foi empossada presidente do TST

#Pela primeira vez, uma bisavó centenária bate o recorde mundial de natação

#Pela primeira vez, a Grécia elege uma mulher como presidente

#Pela primeira vez, uma mulher é aceita em academia naval do Japão

#Pela primera vez, uma mulher leva o Nobel de Física

E você? Qual foi sua última primeira vez?

Quem vai definir sua versão centenária?

Meu humor é como uma montanha russa e se altera ao longo do meu dia. Imagina então como é esse processo durante toda a nossa existência. Existem crônicas, romances e teses que versam sobre a conexão entre as diferentes fases da nossa vida com os nossos estados de ânimo ou de desânimo. Especula-se que quanto mais velhos somos, mais estamos suscetíveis a apatia ou a depressão. Ou melhor, especulava-se.

Se dependesse só do tempo tudo seria melhor ao alcançar meio século de vida. É o que quer provar o pesquisador americano, Jonathan Rauch. Ele acaba de escrever um livro sobre o assunto, intitulado “A curva da felicidade: Porque a vida melhora após 50”.

O autor elaborou essa teoria a partir de uma série de experiências pessoais, dados de estudos e entrevistas a uma série de economistas, psicólogos e neurocientistas. Entre suas conclusões, destaca que a idade tende a favorecer a felicidade e que a crise da meia-idade não é motivada por nenhum fator em particular.

A passagem do tempo é a única razão, segundo a tese de Jonathan Rauch.

E a pesquisa diz ainda que nosso nível de satisfação cai entre 20 e 30 anos e atinge o nível mais baixo em 40. Agora, saindo da teoria para vida real, conversei esses dias com uma grande amiga, que largou tudo e foi mochilar pela Europa. Tema desta Casa na semana passada.

Rita Bragatto, minha amiga, é jornalista, psicanalista e montanhista. Vive com uma mochila e uma bicicleta pelo mundo. Acumula somente experiências, como ela mesma se descreve

Foi quando contei à RitaBragatto, jornalista e psicanalista, que assina o blog #AVidaChama – que seria a personagem perfeita se tivesse passado dos 50. Ela ponderou que só faltava um ano pra isso. Mas que também se sentia tão disposta quanto antes, apenas menos ansiosa com a vida.

Eu refletia sobre nossas ansiedades e urgências que ficaram para trás (e porquê não contar as experiências de menores de 50? ) quando me cai no colo o artigo da Eliane Brum, “Me chamem de velha”. Trata justamente desse policiamento com termos considerados pejorativos como velha, melhor idade e terceira idade…

E o que dizer então da quarta idade?  

Sim, ontem no banco, descobri que o termo se refere aos 80+, que passam a ter prioridade sobre os jovens 60+.

Neste jovem País de cabelos grisalhos ainda estamos aprendendo a lidar com a longevidade. E a única coisa que consegui concluir disso tudo é que não se pode classificar quem somos nem por termos, como coloca a Eliane, tampouco por números. Assim, 49+, 50+, 60+, 80+, também não define uma pessoa. Decidi adotar “maiores de”.

Foi quando me bateu aquela dúvida…

Quem vai se atrever a descrever a mulher de cem anos?

Depois da Mulher de 30, de Honoré de Balzac, as tais balzaquianas, grupo de mulheres maduras, o Mário Prata nos apresentou sua versão da mulher de 40.

A coisa evoluiu tanto que o próprio Prata pulou quatro décadas e escreveu sobre a mulher de 80.

Chegamos aos cem. E agora?

Eu tenho visto exemplos incríveis. E não se limitam às mulheres.  São também homens, como Moacyr Nunes Barroso. Mineiro, cujo torresminho feito na hora  e o carteado são os maiores prazeres.

Outra mineira de cem anos que serve de inspiração é a Laura de Oliveira, que bateu recorde de natação na sua categoria ao nadar a distância de 50 metros peito em 2m49s4.

Eu sempre me perguntei como seria chegar aos 50. Mas nunca antes na história desse País eu me imaginei aos cem.

Já parou para pensar que podemos todos chegar a um século de existência?

E como você quer que seja sua existência? Acho que é isso que vai determinar a satisfação ou a insatisfação.

Só sei que o que menos me importa é como vão me classificar. Velha, maior de idade, melhor idade, terceira ou quinta idade…Vai se saber até onde chegaremos, não é mesmo?

O que me importa de fato é estar lúcida para tomar as rédeas da minha vida sem pirar muito. E com autonomia e independência para ir e vir. Já terá sido um grande feito.