Sem remédio

Aqui em Casa enfrentamos um sério problema do descontrole no uso de fármacos. Embora eu tente alertar e manter tudo em ordem não há muito remédio para conscientizá-los de que é preciso uma mudança de comportamento.  Não raro, meu pai deixa de tomar o que devia. Ou toma duas vezes a mesma medicação. Falta de memória, ele alega… Também já usou colírio para desentupir o nariz. Esses são só alguns exemplos da batalha que é organizar a rotina dos idosos.

Minha mãe, por sua vez, toma em média 10 comprimidos ao dia. E junta tudo numa caixinha de sorvetes. Não há controle, inclusive, sobre a data de validade. E aí enfrentamos outro perigo que coloca em risco a vida de terceiros.

Por desconhecimento, o descarte de medicamentos vencidos ou sobras é feito por grande parte das pessoas no lixo comum ou na rede pública de esgotos, o que pode causar a contaminação da água e do solo, provocando sérios danos ao meio ambiente. Além disso, atinge públicos vulneráveis, como aqueles que manejam resíduos nos lixões.

Agente de intoxicação

Números do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) indicam que os remédios ocupam no Brasil – sétimo país do mundo em venda de medicamentos – desde 1996, o primeiro lugar entre os agentes causadores de intoxicações.

Embora os efeitos sobre o meio ambiente ainda sejam pouco conhecidos, há preocupação especial em relação aos antibióticos, aos estrogênios e a algumas substâncias da quimioterapia, como os imunossupressores.  Para o ser humano, um dos principais problemas está no desenvolvimento de bactérias resistentes a antibióticos, devido à exposição a eles no ambiente.

Quanto aos estrogênios, hormônios ligados ao desenvolvimento de características femininas, o temor tem a ver com o potencial das substâncias para afetar o sistema reprodutivo de organismos aquáticos, como os peixes. Já os quimioterápicos requerem atenção diferenciada pela possibilidade de produzir mutações genéticas.

Descarte correto

Assim, o ideal é que o descarte seja feito em pontos de coleta específicos, conforme obrigatoriedade da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), para serem posteriormente encaminhados à destinação final ambientalmente correta, prevista pela norma ABNT NBR 16457:2016, complemento a um acordo setorial que a indústria costura e que deve regulamentar todo o processo de logística reversa.

Dessa iniciativa do setor, nasceu o Programa Descarte Consciente administrado pela Brasil Health Service (BHS), especializada na gestão de logística reversa para descarte ambientalmente correto de medicamento.   “Existem hoje 750 pontos instalados por todo o país”, diz Antonio Carlos da Silva Pedro, diretor da BHS.

No portal do programa é possível encontrar de forma didática informações como o tipo de produto que pode ser depositado nas estações e, inclusive, localizar o endereço do posto de coleta mais próximo de casa.  “Já incineramos perto de 200 toneladas de fármacos desde o início do programa em 2010, mas cerca de 20% do que se consome ainda é descartado incorretamente”, avalia Pedro.

Na dúvida, o ideal é procurar o posto de saúde da cidade, que serve como escape.

FONTES: eCycle, Fiocruz, FecomercioSP, BHS

A dor dos outros

Não se preocupe.  Um dia você vai sentir a sua. A ocorrência de algum tipo de dor, e com maior frequência, torna-se algo cada vez mais comum com o passar dos anos.  Isto é um processo natural, previsível e inevitável, conforme explica a gerontóloga Neusa Pellizzer.

De acordo com ela, o processo de envelhecimento traz como consequência, em diferentes graus, a degeneração das estruturas do organismo. “Da mesma forma que surgem as rugas e cabelos brancos, ocorre o envelhecimento dos tecidos e estruturas dos órgãos e sistemas internos. Como consequência disso, podem surgir processos dolorosos relacionados aos sistemas musculoesquelético e neurológico”.

Sem idade

Pode-se dizer que as dores decorrentes de processos agudos, inflamatórios, podem ocorrer em qualquer idade. “Se o organismo já estiver mais comprometido por comorbidades [doenças que predispõem o paciente a desenvolver outras doenças]”, diz.

As dores relacionadas a processos degenerativos, entretanto, estão relacionadas ao envelhecimento e podem se tornar crônicas. Aí é que mora o perigo porque esse fator pode levar à redução da qualidade de vida e até à depressão.  São muito comuns as dores musculares e articulares, as neurites e polineurites, entre outras. “A maior parte dos processos dolorosos na velhice será provocada por doenças crônicas”.

Mente sã, corpo são

Mas esse processo se dá de maneira diferente para cada pessoa, e depende diretamente da qualidade de vida, segundo o psicólogo  Roberto Debski, especialista em Acupuntura e Homeopatia. Aqueles que cuidam da saúde tendem a sentir menos dor e ser menos afetados pelo inevitável processo de envelhecimento.

“Para controlar as doenças crônicas é preciso manter o corpo e a mente em movimento, cultivar os relacionamentos afetivos e redes de apoio social, amizades e família, além da espiritualidade”, diz Debski.

Mudança de hábito

Grande parte dos fatores de risco ao adoecimento são os chamados fatores modificáveis, ou seja, são influenciados pelos nossos hábitos e comportamentos, concorda Neusa.

Ela destaca que o fator emocional pode potencializar e/ou desencadear os episódios de dor. “O impacto na qualidade de vida pode ser muito grande, pois limita a capacidade funcional, levando os pacientes à redução de atividades, associado ao comprometimento da autoestima, num círculo vicioso contínuo e progressivo”.

Dentro de casa

Tenho acompanhado esse processo com a minha mãe. Ela convive com uma dor no joelho que a incapacita de ter uma vida normal. A cirurgia para a implantação de uma prótese foi adiada por causa da necessidade da troca da válvula do coração. E nesse caminho, ela foi acometida por uma infecção hospitalar que a deixou quatro meses no hospital entre a vida e a morte.

Ela sobreviveu, mas a nossa vida nunca mais foi a mesma.Um dos fatores que provocaram a minha volta foi o estado em que meu pai ficou após esse episódio.

Muito da dificuldade que ambos enfrentam em se recuperar está na dificuldade em mudar velhos hábitos. Eles são muito resistentes as mudanças e às transformações do mundo. Meu pai foi criado na roça com mais 12 irmãos e teve uma vida meio selvagem, mas nunca se esforçou muito para evoluir.

É complicado porque ao tentar alertá-los sou interpretada como a filha má. A implicante que não tem paciência ou amor  pelos pais. Se os deixasse se matar aos pouquinhos eu seria uma filha melhor?

O livro “Triumphs of Experience” (Triunfos da Experiência, em tradução livre), resultante do mais longo estudo realizado sobre o assunto na Universidade de Harvard, demonstrou que há alguns fatores fundamentais para o envelhecimento saudável.

São eles: parar de fumar, beber álcool moderadamente (o álcool foi um dos fatores de maior perda de qualidade de vida, doenças e problemas familiares), controlar o peso, fazer atividade física regularmente, manter a mente ativa, viver relacionamentos afetivos saudáveis, e aprender a gerenciar o estresse.

São essas pequenas mudanças que podem fazer grandes diferenças no enfrentamento do tempo com independência e qualidade de vida.