Porque o tempo, o tempo não para

Não faz muito tempo eu indiquei aqui três eventos imperdíveis para 2019. Mas este Brasil Sênior ganha cada vez mais destaque e tem muita, muita coisa legal mesmo rolando. Tudo para promover a inclusão entre gerações e o envelhecimento ativo.  

Num momento crítico para o País, no qual o atual governo dá um passo atrás ao extinguir o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, é importante destacar iniciativas da sociedade civil em prol da transição demográfica.

E qualquer mobilização nesse sentido é louvável porque nosso futuro é velho, sim!

Entre as novidades que trago quero destacar o lançamento do Papo de Velha Moderna. Trata-se de um canal criado pela amiga Sueli Gonçalves, em parceria com Mimi Matti, que chega para discutir as dores e as delícias de ser uma 50+ nesses tempos atuais. Dá uma espiada no que elas dizem!

Na mesma linha, outras empoderadas 50+ se uniram para criar o Dominique. No ar há quase 4 anos, o projeto abre espaço para as mulheres contemporâneas partilharem  suas histórias. Como descreve sua fundadora Eliane Nahas: “Dominique vem para representar muitas mulheres.  Ela é um personagem ficcional, mas conta histórias de verdade, que poderiam ter acontecido com você ou com sua amiga.”

E afinal, essas super poderosas estão hiper produtivas em todos os sentidos e sem muitas daquelas limitações impostas pela vida da jovem mulher.

Plataforma para conectar empresas aos profissionais 50+

Outra iniciativa que comprova a produtividade dos maduros  é o Maturi Fest 2019, primeiro festival do empreendedorismo 50+ do Brasil. O evento tem as mãos de Mórris Litvak, do MaturityJob. Uma plataforma que nasceu para unir esses profissionais 50+ às empresas. Interessados podem se inscrever aqui.

A partir da próxima segunda-feira, dia 6 de maio, durante três dias, a cidade de São Paulo vai realizar a V Conferência Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa, promovida pelo GCMI- Grande Conselho Municipal do Idoso, e presidida por Marly Feitosa, com apoio da Coordenação de Políticas para Pessoa Idosa, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, no Palácio das Convenções do Anhembi.

A participação é aberta para todas as pessoas idosas da cidade, mas a organização está trabalhando com a previsão de presença de mil pessoas, sendo que 830 delas de idosos e trabalhadores do setor, da sociedade civil escolhidas em encontros regionais, nos territórios das 32 subprefeituras, 120 vagas do governo e 50 para convidados.

O tema da conferência municipal será o mesmo da 5ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, prevista para ser realizada em Brasília, em novembro de 2019: Os Desafios de Envelhecer no Século XXI e o Papel das Políticas Públicas, que já foi debatido em mais de 300 conferências em todos os Estados, desde o final do ano passado.

Destaco ainda o 3º Simpósio da USP – Rumo ao envelhecimento ativo, promovido pela Universidade Aberta da Terceira Idade (UATI), e coordenado pelo médico Egídio Lima Dórea. Ano passado eu participei e foi incrível. Muito aprendizado.

Este ano ele acontece no dia 16 de maio e traz um painel inteirinho sobre envelhecimento e tecnologia. Confere a programação!

Pra provar que velhice e tecnologia tem tudo a ver participei na sexta, dia 26 de abril, do Senior Geeks, no Campus do Google, em São Paulo. A proposta é usar a toda a parafernália tecnológica para conectar e não para excluir, ajudando os 60+ a desenvolver habilidades no mundo digital de forma simples e divertida, por meio de cursos, workshops e bate-papos. Uma iniciativa tão legal que ganhou aval do Google Startup Zone.

Também fui convidada a participar de um novo grupo de discussão batizado de Estação LongeVIDAde Ativa, pela Terezinha Augusta Carvalho, mestre em Gerontologia. Mais adiante prometo fazer uma relação dos grupos que discutem o envelhecimento no Facebook para quem tiver interesse, além de escrever mais sobre tudo que aprendi no Senior Geeks. Foi fantástico.

Gente, é tanta coisa incrível que tenho receio de esquecer…

É o caso do webnar – seminário online em vídeo, gravado ou ao vivo, e que geralmente permite a interação da audiência via chat – do Lab60+ com um pessoal bacanérrimo, capitaneado pelo Sérgio Serapião. Além da já citada anteriormente Virada da Maturidade, entre 11 e 14 de abril, um baita sucesso como sempre.

Em sua 4a edição, o evento se consolida como o primeiro e maior festival que promove o protagonismo dos idosos, com experiências e atividades gratuitas, celebrando uma vida socialmente mais ativa, com qualidade, independência, conforto e segurança.

Ufa!  O tempo não para mesmo. E não é que o ano já está quase na metade? Isso me lembra um poema, que eu adoro. Quero me despedir com ele. Até a próxima!

Tem horas que é caco de

vidro

Meses que é feito um

grito

Tem horas que nem

duvido

Tem dias que eu acredito.

Leminski

Com informações do Jornal da 3ª Idade.

Estudar para fortalecer a gerontologia no Brasil

Não são poucos os sinais de que até os países mais desenvolvidos enfrentam dificuldades para lidar com o envelhecimento. Reportagem recente da BBC mostra que aposentados japoneses têm cometido pequenos delitos em busca de abrigo nos presídios, onde recebem três refeições por dia e não tem nenhuma conta a pagar. O resultado disso é que quase um terço dos presos agora têm mais de 60 anos. E esse é apenas um aspecto das mudanças que ocorrem a partir da transição demográfica que atravessamos.

O fato é que nossa longevidade, associada à redução das crianças, implica em transformações profundas em todas as frentes. Assim, compreender o impacto global de um Brasil mais idoso será essencial para seu desenvolvimento.

Agora, se não é fácil administrar nem a família, imagina uma população que deve chegar a quase 65 milhões de pessoas em 2050, três vezes mais do que em 2010, segundo o IBGE.

É por isso que resolvi voltar aos bancos escolares para cursar Gerontologia. Mas e o Jornalismo? Calma lá! Dá para conciliar as duas coisas.

E, com certeza, serei bem mais útil para a sociedade adquirindo conhecimento para atender a demanda da população idosa, visto que o fortalecimento da área por aqui é vital para o País.

Você conhece a UNA-SUS?

Bom, tudo isso para contar que enquanto pesquisava as ofertas de cursos encontrei muita informação bacana. Também me matriculei na Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde pra sentir se daria conta dos estudos. Já ouviu falar da UNA-SUS?

Trata-se de uma plataforma que disponibiliza conhecimento e atualização para diversos profissionais gratuitamente. E da qual eu recebi hoje o certificado do curso Envelhecimento da População Brasileira – 2019.  

Espero sinceramente que esse seja apenas o primeiro de muitos!

Embora nesta Casa eu tenha aprendido muito com a convivência de dois maduros – como agora são chamados os idosos -, entender a gestão da longevidade, do ponto de vista teórico, é essencial para tomada de decisões que afetarão minha vida futura. E, de quebra, é uma baita ginástica para minha mente.

Musculação para o cérebro

Porque não é só corpo que precisa se exercitar, não! E estudar, seja lá qual for o assunto, é musculação para o cérebro.

Se você exerce o papel de cuidador na família, super recomendo os cursos a distância da UNA-SUS para entender melhor esse contexto.  O sistema foi criado em 2010 para atender às necessidades de capacitação e educação permanente dos profissionais que atuam no SUS. Mas extrapolaram essa barreira.

E hoje há opções para qualquer profissional. Mesmo os maduros interessados em conhecer melhor esta fase da vida podem acompanhar sem grandes dificuldades alguns programas na plataforma.

É importante pra todo mundo porque a gestão do envelhecimento demanda compreensão das mudanças do corpo; avaliação das condições psicológicas e sociológicas; conhecimento dos direitos humanos; além da percepção do impacto que a arquitetura de um ambiente causa no indivíduo.

Essas e outras questões são da alçada de um gerontólogo, que é bem diferente de um geriatra. A Geriatria, por sua vez, é uma especialidade médica que estuda doenças ligadas ao envelhecimento.  

“Costumam achar que gerontólogo é dentista ou médico, além de confundirem com geriatria”.

Eva Bettine, presidente da Associação Brasileira de Gerontologia

Eva trabalhava com tecnologia da informação (TI) quando decidiu, por volta dos 50 anos, que começaria uma nova carreira.  Assistindo à televisão, viu uma reportagem sobre os novos cursos da USP e se interessou por Gerontologia. “Acredito que a área tem o papel social de atender à demanda da população idosa, que antes não tinha muita qualidade de vida. Era como se a morte fosse ludibriada com as inovações médicas, mas não havia um ganho real”, conta.

Diversas áreas do saber

Sempre esteve claro para o professor Henrique Salmazo, da pós-graduação em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília, a necessidade de investir nos estudos para consolidação da carreira como ciência e profissão. “Hoje, não se trata de demanda apenas de profissionais da Saúde”, diz.

Os interessados pelo curso, assim como esta que vos escreve, pertencem a diversas áreas do saber, incluindo economia, direito, psicologia, serviço social, entre outros.

Salmazo decidiu a carreira por uma questão muito afetiva: “Meus avós representam sabedoria, escuta e acolhida. Cuidar deles, para mim, era um privilégio”. Durante a graduação, teve oportunidade de participar da criação da Liga Acadêmica de Gerontologia e da Associação Brasileira de Gerontologia, onde ocupa o cargo de vice-presidente.

Em seu mestrado, realizado na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, teve o desafio de implantar e coordenar a Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) no município de São Paulo. Depois, ajudou na implantação de centros-dia para idosos e nos grupos de trabalho que debatiam a regulamentação do exercício profissional do bacharel em Gerontologia.

“Creio que todos nós somos formadores de opinião para que o envelhecimento seja um processo assistido, orientado e bem cuidado”, afirma Salmazo, que está trabalhando em três projetos científicos na área.

Aprender para empreender

Jullyane Marques fez sua graduação e mestrado na USP. Agora, atua como diretora operacional e co-fundadora de uma empresa de cuidadores e home care, a Onix – Gestão de Cuidado ao Idoso. “Tudo o que o familiar não pode fazer, a gente faz. Desde acompanhar a pessoa idosa em passeios até pensar em como melhorar o ambiente domiciliar para aqueles que são mais dependentes”, conta.

Neste cenário, o gerontólogo cumpre papel de gestor que visualiza, ao menos, três pontos de vista: paciente, família e cuidador. “O papel da empresa também pretende evitar a opressão de um desses em relação ao outro. Para isso, a comunicação é um fator primordial”, explica.

Ela destaca que o gerontólogo sugere o encaminhamento do cuidado e supervisiona a situação, enquanto o cuidador cumpre uma tarefa mais operacional. Um grande desafio para ambos, entretanto, pode ser no entendimento da família com relação ao trabalho que estão exercendo.

“Algumas famílias ficam receosas com a presença de um gerontólogo em meio ao ambiente familiar. Não entendem que, para melhorar a qualidade de vida do paciente, temos que entender a situação por completo”, explica Jullyane.

Uma carreira, muitos caminhos

A cuidadora Tânia Maria Menezes de Oliveira acompanha Nazareth há quatro anos. A rotina de 12 horas compreende banhos, refeições e passeios. “Com 95 anos de idade, por conta da velhice natural, ela está precisando cada vez mais de cuidados. Tem dias em que ela está, assim como hoje, um pouco mais sonolenta, mas em outro está conversando bastante.

Tânia fez um curso de cuidados à saúde do idoso, no qual aprendeu a parte técnica da profissão. A escolha foi feita devido a uma identificação com idosos e de amor ao cuidado com o outro.

Tiago Nascimento Ordonez trabalha como coordenador do Centro de Convivência Municipal da Pessoa Idosa (CCMI) de Diadema. Ele elabora atividades que acontecem no local e pensa em políticas públicas na área. Uma de suas funções preferidas é organizar intervenções que abordam conceitos de intergeracionalidade.

“É importante para romper com estereótipos, por exemplo, o de crianças acharem que só existem idosos lentos e doentes. O intuito é relembrá-las de que uma pessoa idosa já foi uma criança antes”, afirma.

Quanto à gestão de políticas públicas para a pessoa idosa, Ordonez acredita que o Brasil está caminhando para isso. Ele fez uma especialização em Estatística e utiliza esse conhecimento para argumentar e realizar os projetos do equipamento público com base em dados reais: “fornece maior credibilidade”.

Ele estudou na segunda turma do curso de Gerontologia da EACH. Enquanto estava na graduação, teve a oportunidade de ajudar na implantação da Universidade Aberta à Terceira Idade da USP, no campus da zona leste de São Paulo, onde estudava. O convite foi feito pela professora Meire Cachioni, coordenadora do projeto.

De acordo com ele, é um pouco similar ao trabalho que realiza atualmente, no sentido de desenvolver grupos de encontros com temas que “agregassem para o bem-estar da pessoa idosa, além da Universidade servir como um centro de convivência social.” Ordonez se interessou por Gerontologia exatamente por ser uma profissão que permite o contato humano a partir de um papel de gestor.

Função estratégica

Tamiles Mayumi Miyamoto trabalha em uma operadora de saúde com foco em pessoas idosas. Ela é responsável por elaborar um plano de gestão da saúde do idoso. Uma de suas principais ferramentas são os indicadores de especialidade médica. “Faço um trabalho de analista de dados, o intuito é olhar de forma integrada aquilo o que está acontecendo com a pessoa idosa”, conta.

Um gerontólogo não precisa, necessariamente, ter contato direto com o paciente. É uma função mais estratégica. Ela ressalta que a formação compreende o entendimento do processo do envelhecimento e isso pode envolver muitos cargos diferentes dentro de uma mesma profissão.

Antes de fazer parte da operadora de saúde, Tamiles trabalhava em um núcleo de convivência do idoso. “Era uma ONG vinculada ao setor público. Nela, eu realizava um papel de gerenciamento de pessoas idosas e por isso tinha bastante contato com elas. Foi algo que trouxe bastante aprendizado, bem como o que faço agora no mundo corporativo”, conta.

Tamiles decidiu fazer Gerontologia na USP por ter uma preocupação com os idosos tanto no quesito psicológico quanto social. “Muito advém da vivência no dia a dia, como em transporte público, shoppings e mercados. É notável que a população idosa está cada vez maior.”

Informações de cursos pelo portal da UNA-SUS.
Com informações do Portal Plena e do Jornal da USP.