Efeitos colaterais, do modo off, em 2021

A avalanche de dados e informações que nos soterram todos os dias tem tornado mais frequente a necessidade de pausas. A tecnologia nos deu mais tempo, inclusive de existência, mas será que esse tempo a mais tem sido aproveitado para melhorar nossa qualidade de vida? É notável ao redor, que as pessoas estão sendo cada vez mais vítimas de crises de ansiedade e de uma busca infinita por produtividade. Óbvio que não existe qualidade de vida sem dinheiro, mas será que não dá mesmo para viver com menos?

Neste 2021 que começa todo torto me obriguei – pelos limites do próprio corpo – a me desconectar e entendi que nada foi aprendido ou compreendido com a pausa imposta pela tal da pandemia. O mesmo pode ocorrer com o envelhecimento.

Tem gente que não aprende nada. E não adianta querer ser reflexo do que se vê desse movimento todo que aflora na internet. Garotos-propaganda existem desde que o mundo é mundo. Só ganharam um nome pomposo agora: influencers. Isso não muda nada. Mais do que ser reflexo é preciso reflexão. E isso requer pausa.

Por isso, minha promessa de ano novo é gastar meu tempo mais devagar. Menos rede social e mais social na rede. De balanço. De preferência com um bom livro desses que não seja de autoajuda, mas que tanto me ajudaram nos meus dias off, como as batalhas quixotescas; a distopia da República de Gilead, o realismo fantástico de Macondo.

Foi nessa cadência de pensamento que veio à mente dois casos reais, de conhecidos, que devem se tornar objetos de estudos, e que me inspiraram a trazer à tona algo que pouco vejo. Não que não admire a revolução prateada e todo o ativismo que a longevidade e os maduros promovem principalmente online por conta da pandemia.

Mas é preciso banir estereótipos e ter em mente que nem todo velhinho é legal. Nem sempre a velhice será uma coisa bacana, bela e produtiva. Trata-se aqui de entender que é um processo construtivo.

Que em 2021 todo ativista do envelhecimento se lembre também das famílias que se desestruturam e precisam de apoio diante de idosos que perpetuam o mal que carregam dentro de si. Não é porque a idade chega que a pessoa de repente fica boa.

Não acredito em redenção só pelo correr dos anos.

E quando é a família a agredida? Apesar de ser muito gratificante oferecer cuidados, essa entrega também tem efeitos negativos. Que ações podem amenizar o estresse e consequente problemas de saúde, isolamento, cansaço e frustração que levam a uma sensação de desesperança e exaustação, impelindo ao desgaste de quem cuida e chegando até aos maus tratos da pessoa idosa?

Então, a longevidade é um processo que requer cuidado desde sempre?  Exato. E a gente que se cuide para não se tornar um daqueles velhos gagás e ranzinzas, e não transformar a vida da família num inferno. Basta parar de olhar um pouco para fora e para os outros e olhar para dentro de si para perceber que nem cem anos podem mudar certas coisas.

Eu andei meio perdida, confesso, com tanta tarefa, sem saber quais eram minhas prioridades, mas de uma coisa eu tive certeza durante meu modo off. Eu não quero ser uma velha desqualificada em prol do domínio da velocidade e das redes sociais. Nem tampouco apegada a quinquilharias sem valor. O desapego começa agora.

Outra coisa. Gente ruim existe. Jovem ou velha. E gente imbecil e fútil também. A internet está aí de prova, escancarou essa ferida, e não me deixa mentir.

 

 

 

 

Qual o limite para a interdição judicial?

O envelhecimento da população impõe mudanças e novas necessidades em todas as áreas, inclusive na jurídica. Diante dessa realidade, a Associação Brasileira Do Cidadão Sênior (Abracs), a ATIVEN, e o Aging 2.0 São Paulo, em parcerias com a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e o Programa de Envelhecimento Ativo Universidade de São Paulo (USP), promovem o seminário “Interdição Judicial Da Pessoa Idosa – Proteção Ou Exclusão Social?”.

O número de idosos no Brasil cresceu, em média, 20% nos últimos 5 anos e já ultrapassou a marca de 30 milhões de pessoas com mais de 60 anos em 2017. Segundo o IBGE, a partir de 2039, haverá mais pessoas idosas que crianças vivendo no país.

“É um desafio enorme para a sociedade brasileira, pois estamos envelhecendo rapidamente sem que tenhamos nos preparado adequadamente para viver essa situação”, diz o presidente da Abracs, Mauro Moreira de Oliveira Freitas, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos dos Idosos da OAB do Distrito Federal.

De acordo com ele, os desafios são enormes para os futuros governos e sociedade, pois terão que atender rapidamente demandas de uma importante parcela da população que estará idosa e exigirá serviços e condições especiais de vida que a legislação garante,  mas que ainda hoje não dispomos.

Além disso, o fato da população estar vivendo cada vez mais gera situações desafiadoras na sociedade e na própria família, com as quais não estamos acostumados a lidar. É o caso da probabilidade de ocorrência de doenças típicas de quem vive mais, como a demência.

Com o acelerado envelhecimento da população, cresce exponencialmente a incidência e prevalência de processos demenciais que podem comprometer parcial ou totalmente a função cognitiva global e manutenção das atividades diárias que garantem autonomia e proteção.

A demência, segundo dados de especialistas, pode se apresentar em 5% dos indivíduos acima de 65 nos e em 20% ou mais dos indivíduos acima de 80 anos. É exatamente nesse contexto que entra a necessidade de proteger o idoso com medidas protetivas, como a interdição judicial, que exige uma cuidadosa avaliação clínica e neuropsicológica que autorize embasar medidas judiciais recomendas.

A ideia do seminário é justamente reunir experientes profissionais da área da saúde e jurídica para informar e discutir os requisitos e caminhos necessários para proteger o idoso, em caso de incapacidade parcial ou total para os atos da sua vida civil, por meio da interdição judicial.

“É importante conhecer esse instrumento legal para que não se torne ferramenta de uso inadequado em disputas com outros fins que não o de proteger o idoso”, afirma Freitas.

O evento está marcado para o dia 14 de fevereiro de 2019, das 09:00 às 12:00, no Auditório do Instituto de Energia e Ambiente da USP, na Av. Professor Luciano Gualberto, nº 1289, Vila Universitária.

A abertura será realizada pelo Ministro José Gregori,  ex-Ministro da Justiça e atual Coordenador da Comissão de Direitos Humanos da Universidade de São Paulo – USP.

Informações e inscrições aqui.