Maturidade que inspira inovação

Estive sumida e não atualizo o Casa de Mãe faz um tempinho.  Mas juro que foi por uma boa causa. Fui buscar aprendizado, me atualizar e trocar ideias com gente que pensa diferente. Sair da minha bolha. E esse movimento é vida!

Se movimentar é necessário até mesmo na solidão para se confrontar consigo mesma. Mesmo em silêncio, sozinha, em busca de reforma íntima, é preciso suar muito para alcançar equilíbrio, no trato com a diversidade dos fatos, de pessoas e de situações.

E, em tempos tão sombrios como o atual, faço minhas as palavras de Paulo Freire. “É preciso esperança. É preciso esperançar. E esperançar é se levantar, é construir, é não desistir.”

É por isso que mesmo podendo atualizar o blog, não o fiz. Faltou-me inspiração para coisas realmente relevantes, do meu ponto de vista, é claro. Ia ser só mais conteúdo num mundo já repleto de informação inútil. E ia ser só mais um canal sem a minha identidade.

“Casa de ferreiro, espeto de pau”, muitos dirão. Mas não acredito nesse ditado. O exemplo é sempre o melhor caminho. E uma palavra pode mudar tudo. Mudar uma palavra pode mudar a vida de alguém. Está tudo integrado: pensamento, vibração, palavra e atitude. Somos seres múltiplos e plurais.

E aí está a dificuldade. Escrever por escrever não faz mais sentido.  Eu acredito que cada palavra transmite uma frequência que pode te elevar ou te derrubar.  E é justamente por acreditar no que prego que fui buscar conhecimento e, consequentemente,  elevação.

Social Media Week e o eterno aprendizado

Participei de diversas atividades do Social Media Week, que esse ano abriu espaço para a Economia Prateada. Sim, havia palestra e palestrante para nossos longevos! O que me deixou bastante feliz.

Também li alguns livros, tomei uns bons vinhos com amigos e ouvi histórias. Não tem coisa melhor… Principalmente se você enfrenta dificuldades em lidar com a rotina de pais idosos e com a própria vida. Não é fácil para ninguém, porque os problemas vão tomando proporções descomunais quando não se está sereno.

Em busca de inspiração também estive falando com alguns empreendedores, que têm impulsionado a inovação no Brasil ao buscar soluções para melhorar nossa perspectiva de vida diante da longevidade. Entre eles encontrei gente bacana, como a Mônica Perracini e seus três sócios.

Eles criaram uma plataforma de conteúdo para ajudar a melhorar a qualidade de vida dos cuidadores familiares de idosos. Só quem passa pelas dificuldades de tomar decisões todos os dias sabe o quanto a informação se torna um ativo dos mais valiosos. Sempre foi, mas o que esse time fez foi reunir tudo num único lugar. Conteúdo de qualidade e com respaldo de especialistas. Confere aqui  que vale muito a pena.

Um baita exemplo de como tecnologia e inovação são aliadas de quem cuida e de quem é cuidado. “A ideia é criar um market place com fornecedores capazes de suprir todos os tipos de necessidades, além de manter uma rede de compartilhamento de experiência”, conta Mônica.

A tecnologia e a inovação têm proporcionado a criação de uma ampla gama de produtos e serviços cada vez mais customizados para consumidores de faixas etárias mais avançadas. Por apostar em novos modelos de negócios, as startups têm tirado melhor partido das oportunidades sinalizadas pelo mercado 60+.

Foi assim que nasceu a ISGAME, uma escola de games inovadora que fortalece a saúde mental. E cá entre nós, a gente sabe como isso é importante.

Lá, o Fabio Ota desenvolveu uma metodologia inovadora que ensina pessoas com mais de 50 a jogar e a programar os próprios games, estimulando o raciocínio lógico, memória, criatividade e integração intergeracional. A história dele é incrível, começa com o cuidado com o avô e está detalhada aqui.

Outra que nasceu das inquietações de um filho sobre o acompanhamento da rotina de cuidados da mãe, de 84 anos, é a Gero360.

A intenção de Leônidas Porto de participar mais ativamente desta rotina, sem interferir na autonomia e na independência da mãe, o levou a se aprofundar nas necessidades de outros idosos e a buscar alternativas para o bem-estar do “adulto maduro” e para a tranquilidade de suas famílias.

A necessidade virou projeto. O projeto conquistou pessoas. Estas pessoas formaram uma equipe e, juntas, estão unindo conhecimento, experiência em diferentes áreas do saber e tecnologia para impactar positivamente a rotina dos mais de 25 milhões de idosos no Brasil e de suas famílias.

A startup desenvolve soluções tanto para o segmento B2C quanto para o B2B.  No B2C, o aplicativo visa organizar a rotina do idoso com autonomia, alertando-o para temas relevantes como horário de atividades, medicamentos, medições vitais, etc. e ainda conectando-o com quem desejar (família, cuidadores e amigos). No B2B, a inovação fica por conta de sistema para gerenciamento de estoques de medicamentos de ILPIs (Instituições de Longa Permanência) e assemelhados.

Gero 360, ISGame e Plug And Care não são as únicas a usarem a longevidade para impulsionar a inovação no Brasil. Espero trazer outras histórias mais, que nos façam refletir e resistir quando os problemas ganharem aquelas dimensões desproporcionais.

Compartilhar moradia melhora qualidade de vida

As tradicionais repúblicas deixaram de ser alternativas apenas para estudantes. A população madura tem adotado novas formas de compartilhar residência. Saiba quais são.

O custo de viver sozinho é alto e ainda há o componente da solidão diante do envelhecimento, um quadro que tem levado a população madura a optar pelas chamadas repúblicas. Aquelas mesmas tradicionalmente criadas por estudantes sem recursos para bancar uma moradia individual.  “A tendência é que as pessoas comecem a se agrupar e compartilhar habitação”, diz a gerontóloga Marília Berzins, presidente do Observatório da Longevidade Humana e do Envelhecimento (OLHE).

Desde que exista autonomia para isso pode ser uma alternativa extremamente benéfica, segundo Marília. Tanto é assim que há movimento crescente no mundo para adotar o formato como política pública. Na Espanha, por exemplo, o conceito de cohousing ganhou campanha da Confederação Espanhola de Organizações de Idosos (Ceoma) e da Living Cohousing, empresa social especializada em construir comunidades criadas e dirigidas pelos moradores.

Neste tipo de habitação cada um vive com privacidade em sua casa e compartilha com pessoas de estilo de vida similar ambientes coletivos, como cozinhas e lavanderias, entre outros.  “É uma nova estratégia de moradia que permite criar um ambiente comunitário que se adapte às necessidades atuais e futuras dos moradores”, avalia Marília.

Primeiros passos

No Brasil, o modelo dá seus primeiros passos, como mostra Boletim de Tendência da Construção Civil do Sebrae.  Mas há um longo caminho a ser percorrido. Por aqui, temos dois casos conhecidos, sendo um em Piracicaba, interior de São Paulo. Outro fica em Búzios, região do Lagos, no Rio de Janeiro.  Uma iniciativa que tem à frente a arquiteta Luisa Regina Pessoa, pesquisadora em Saúde Pública.

Não se trata, porém, de uma experiência clássica do sistema. Lá, as casas podem ser privativas (cohousing) ou compartilhadas (coliving), de acordo com as necessidades de cada um. E a própria área onde estão localizadas as dez residências não é um espaço exclusivo para a iniciativa, mas terrenos comprados dentro de um condomínio comum.  “A construção buscou inspiração nos cohousings, ao garantir espaços particulares para os proprietários”, explica.

Luisa conta que a experiência é resultado do seu tempo de trabalho no Abrigo Cristo Redentor, no Rio. Foi quando percebeu que muitos dos 500 atendidos que lá viviam recebiam aposentadoria, mas não tinha como se manter.  “Na idade mais avançada sobem os gastos com remédios e isso, muitas vezes, impossibilita arcar também com alimentação e moradia”, diz. “Esse quadro me fez buscar uma solução”.

Desde 2009, então, Luisa reuniu um grupo de amigos, profissionais liberais, dispostos a planejar o próprio envelhecimento com autonomia.  Com 63 anos, ela conta que a iniciativa aceita pessoas desde a faixa dos 40, interessadas em morar Búzios. Quem tiver interesse é só entrar em contato pelo e-mail luisareginapessoa@hotmail.com.  As fotos que ilustram esse texto é de uma das casas.

Moradores de Búzios

“O próximo passo é encontrar um caminho para aqueles que começam a perder autonomia, com a criação de serviços de cuidadores que atuem coletivamente nesses condomínios”.

República em Santos é exemplo

Embora a privacidade seja menor no formato de república, exemplos como os de Santos mostram que mesmo dividindo o mesmo teto é possível melhorar a qualidade de vida da população idosa.  Lá, a prefeitura criou um serviço por meio da Secretaria de Assistência Social (Seas) para homens e mulheres com mais de 60 anos que vivem em situação de vulnerabilidade social.

Para habitar a República de Idosos, criada em 1995, é necessário que o interessado tenha autonomia e renda fixa até dois salários mínimos (R$ 1.760,00) para pagar um aluguel simbólico, hoje de R$ 150,00. São 29 vagas distribuídas entre três repúblicas.

Também é preciso triagem feita pela equipe técnica da Seção Repúblicas, explica Celiana Nunes, coordenadora da área. “Um dos pré-requisitos é ter independência física e psíquica, não residir com familiares e ser morador de Santos”.

Como se vê, a ideia não é nova, mas tem ganhado corpo o longo dos anos, inclusive no cinema.  O filme “E se vivêssemos todos juntos?”, de 2012, relata a história de um grupo de amigos de longa data que, cansados das regras do asilo, decide empreender uma aventura do tipo.

Se a opção for criar um espaço independente, como no filme, é recomendável planejamento e análise profundos pelo grupo.  Depois das regras estabelecidas é fundamental eleger um líder, alguém que coloque o combinado em prática e ordem na casa. Se não houver liderança o projeto pode estar fadado ao fracasso.

Deu match!

Para facilitar o encontro entre as pessoas certas, nasceu a Morar.com.vc, startup que é uma espécie de Tinder da moradia.  A plataforma conecta pessoas de qualquer idade, com base  em suas características, demandas e afinidades pessoais. A ideia é encontrar parceiros para morar em cohousing ou coliving.

A empresa nasceu da necessidade das empreendedoras Marta Monteiro, de 64, e Veronique Forat, de 61, de se reinventarem profissionalmente.  Aliás, elas se conheceram num workshop destinado a isso. A dupla percebeu, então, algo em comum: energia de sobra e a vontade de continuar trabalhando.

Como contam no site, o projeto identificou uma demanda da própria geração baby boomer, já que a reinvenção da moradia, junto com a do trabalho, será necessária diante dos muitos anos de vida pela frente.

CONFIRA ALGUMAS VANTAGENS DA MORADIA COMPARTILHADA

Convivência entre iguais

Estimula atividades sociais como passeios e cursos. Também possibilita viagens em grupos e conversas no ambiente da casa.

Redução dos custos

Numa república os custos de aluguel, água, luz, internet, faxineira ou empregada podem ser divididos entre as pessoas moradoras no local. A alimentação também pode ser custeada em grupo. Uma pessoa sozinha gasta mais do que duas juntas. E isto não é impossível. Basta planejar todas as compras e solicitar entrega. Com certeza a economia seria surpreendente e evitaria o desconforto de algumas de comer algo na frente de outras sem oferecer.

Apoio médico

Companhias para exames de laboratório e outras necessidades de saída, quando o idoso de fato não pode ir sozinho ou levar acompanhante da família.

Sociabilidade

Se socializar é fundamental para evitar a depressão, problema recorrente da maioria dos idosos que vivem sozinhos, longe de filhos, netos, irmãos e que perderam os amigos por morte.

Com 15 anos, Estatuto do Idoso ainda é ineficiente

Perdi a conta de quantas ligações da Caixa Econômica Federal meu pai, de 76 anos, recebeu com a oferta de um empréstimo consignado de R$ 10 mil. Um assédio a insistência. Importante contar isso porque nem sempre um idoso compreende o que de fato está acontecendo. E nem sempre haverá um cuidador para colocar os pingos nos is, como tive de fazer com a atendente ao telefone, diante da contundência da oferta.

Prestes a completar 15 anos em primeiro de outubro, o Estatuto do Idoso apresenta falhas e tem muito a ser atualizado, principalmente se for levado em conta esse novo consumidor idoso. Por isso, as alterações recentes sancionadas pelo presidente Michel Temer são positivas, mas insuficientes diante do Brasil Sênior que se desenha.

Basta levar em conta que apesar de ainda jovem, essa legislação não previu quando nasceu que os cidadãos fossem alcançar, e ultrapassar, os 80 anos. Com isso se fez necessário mudanças para priorizar as necessidades dos 80+ em relação aos demais idosos.

“Os idosos 80+ são muito diferentes dos idosos 60+. São mais sensíveis, mais vulneráveis, têm mais problemas físicos, têm (ou não) mobilidade reduzida. Em troca, têm mais conhecimentos acumulados e mais pressa em compartilhar esses conhecimentos”, escreve Vovô Neusa, do alto de seus 85 anos.

Favorável à alteração,  Neuza Guerreiro de Carvalho é um dos Talentos da Maturidade, e a responsável pelo Blog  Vovó Neuza. Professora aposentada, memorialista e pesquisadora, ela tem uma incrível agilidade para conduzir esse trabalho. “Estou saudável, integra o quanto se pode ser nessa idade, ativa, ainda entusiasmada e motivada a procurar projetos e atividades”.

As novas regras definidas representam, sem dúvida, um marco legal na proteção de uma parcela da sociedade brasileira representada por Vovó Neusa e cada vez mais numerosa. Mas isso não significa que os direitos definidos são, na prática, respeitados, conforme apurado por Ana Vargas, gestora do Portal Plena. O canal é o mais novo parceiro do Casa de Mãe. O objetivo  ao unir forças é ampliar e melhorar a cobertura sobre o tema proposto.

“O que se percebe é que o Estatuto do Idoso não tem sido eficiente na proteção dos interesses individuais e coletivos dos idosos brasileiros”, diz o advogado Everson Prado, especialista em Direito Contratual e Consumerista da Barbero Advogados.

Para ele, ainda que a legislação atual detenha instrumentos que impeçam os abusos cometidos contra as pessoas mais velhas, é comum o surgimento de casos de infração contra idosos que necessitam da intervenção do Poder Judiciário para que a legalidade se estabeleça. As políticas abusivas de cobrança de planos de saúde para idosos, bem como situações nas quais ocorre o endividamento destes devido a políticas agressivas de concessão de crédito consignado, são alguns exemplos.

Prado destaca que a oferta ‘facilitada’ de crédito aliada à omissão das reais condições do negócio e do fato de que o desconto das parcelas é feito diretamente na folha de benefício previdenciário, são os principais instrumentos usados pelas empresas deste setor para agir de forma abusiva. Não é razoável exigir que o consumidor idoso, dentro de suas limitações, detenha condições mínimas para compreender todas as informações do crédito ofertado, bem como domine os canais de atendimento, cada vez mais dinâmicos e digitais”.

Não à toa, o Estatuto do Idoso se comunica diretamente com as normas protecionistas do Código de Defesa do Consumidor. E é a grande vulnerabilidade dos idosos diante das investidas cada vez mais abusivas das empresas, combinada com a falta de fiscalização,  que contribuem, segundo Prado, para a judicialização dos casos.

Ele cita, como o exemplo, o julgamento decorrido de uma Ação Civil Coletiva que tramitou perante a 11ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais e  que resultou no impedimento de uma prática bastante conhecida por todos nós: a promoção de cartões de crédito via telefone.

Nesta prática muito comum, atendentes ligam para os idosos oferecendo cartões de crédito e estes, munidos de boa fé e ingenuidade, aceitam as propostas feitas e, a partir daí, costumam ficar endividados a ponto de não poderem manter o próprio sustento.

“A ação civil coletiva adveio de denúncia sobre abusividade na concessão de crédito para aposentados e pensionistas com limites superiores em até duas vezes o valor do benefício e com desconto direto em folha de pagamento. Caso flagrante de política agressiva que contribui para o descontrole financeiro dessa fatia da população que demanda atenção especial”, conta Prado.

Por esses e outros motivos, o especialista afirma que o Estatuto doIdoso ainda não alcançou a efetividade esperada.  Veja abaixo os principais pontos desta entrevista:

O Estatuto do Idoso funciona de forma efetiva ou se trata de mais um documento bem intencionado que, na prática, deixa a desejar?

O Estatuto do Idoso, desde sua criação, trouxe importantes avanços na proteção dos interesses individuais e coletivos dos idosos. Acesso ao transporte público gratuito, vagas de estacionamento marcadas, a implementação do benefício assistencial do LOAS [Lei Orgânica de Assistência Social] e a tramitação privilegiada em processos judiciais são exemplos práticos em que o documento alcança alguma efetividade. Todavia, em alguns segmentos específicos, o documento não tem a efetividade esperada, como no caso da exposição exacerbada dos idosos ao crédito facilitado e seus reflexos no cotidiano dessa fatia da população.

Poderia citar algum caso em que sua atuação como advogado beneficiou um idoso que o tenha procurado por ser vítima de algum abuso previsto no Estatuto?

Estamos atuando em um caso em que um casal de idosos teve a contratação de plano de saúde negado em razão da chamada “sinistralidade” e em razão de sua idade avançada.

Quais são os principais abusos cometidos contra os idosos?

Reajuste desproporcional em mensalidades de planos de saúde, cancelamentos de planos de saúde empresarias compulsoriamente após a aposentadoria do idoso e superendividamento do idoso são ocorrências que sempre se repetem.

Em relação ao endividamento, é comum vermos que algumas empresas chegam a ligar insistentemente para idosos/aposentados oferecendo ‘facilidades’ relativas à oferta de crédito e muitos continuam caindo nesse golpe. Não haveria uma maneira legal de impedir isto?

Apesar de um projeto de lei visando beneficiar o consumidor exposto ao assédio típico das empresas desse segmento ter sido aprovado na Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara de Deputados, efetivamente não há uma maneira legal de impedir essa prática. O que ocorre é que os benefícios são pagos por meio dos bancos, que tem acesso a esse tipo de informação e a partir disso passam a classificar o idoso como potencial usuário destes serviços de crédito, sem se preocupar, muitas vezes, com a forma que as condições e a contratação do negócio é disponibilizada.

Em relação aos reajustes abusivos dos planos de saúde: como o idoso deve proceder diante disso. O que ele pode fazer, de forma prática e legal, para não aceitar esse tipo de abuso ?

O idoso tem que verificar se o reajuste encontra-se em acordo com a previsão do órgão regulador, que no caso é a ANS. O reajuste do usuário que superou a faixa dos 59 anos não pode ser superior a seis vezes o valor do usuário enquadrado na primeira faixa do plano de saúde, que é aquele que tem idade de 0-18 anos. Caso se verifique o reajuste desproporcional, o idoso pode fazer reclamação junto ao Procon, procurar a Defensoria Pública ou advogado, bem como realizar denúncia ao Ministério Público para averiguar as irregularidades que detém as prerrogativas necessárias para apurar e levar o caso adiante.

A maior parte dos idosos brasileiros é formada por pessoas de classe média/baixa que, em caso de abusos, não teria como arcar com despesas legais. O que pode ser feito?

Não só em relação aos idosos, mas toda a população hipossuficiente economicamente pode valer-se dos benefícios da assistência judiciária gratuita, antes regulada pela Lei 1.060/50 e atualmente enraizada no Código de Processo Civil, o qual garante à parte a isenção de custas e despesas legais aos cidadãos que fizerem prova dessa condição.

Qual sua opinião sobre alteração realizada no Estatuto ano passado?

A alteração traz entendimento que, dentre a população idosa, também há diferenciação em razão do agravamento do risco de saúde pelo avanço de sua idade e diante disso adotou critério objetivo para tratar as urgências em uma camada da população que já deveria ter, em tese, prioridade de atendimento. Do ponto de vista técnico, apesar de não existir ilegalidade na alteração, o que se demonstra é a ineficiência das instituições em garantir uma prioridade que já deveria estar sendo observada.

Com Portal Plena.

Decifra-me ou te devoro

AEstou hospedada na casa da amiga Patrícia Oliveira que é nutricionista e com quem sempre aprendo muito. Essa estada trouxe à tona um assunto bastante importante, que não depende da idade, mas que pode ficar mais complicado à medida que os anos passam. É que a leitura do rótulo dos alimentos não exige somente uma lupa para enxergar as letrinhas miúdas. Requer também sabedoria para decifrar as entrelinhas.

Como sempre a pauta veio de Casa. Depois de anos de insistência, meus pais se convenceram de que alimentos integrais merecem destaque à mesa. Mas ainda pecam por achar que são  totalmente livres numa dieta para perda de peso. Falta-lhes compreensão sobre o que estão ingerindo. Não são os únicos, por certo, diante da crescente preocupação com a saúde e da busca por hábitos mais saudáveis.

Assim, se ler os rótulos dos alimentos deve ser regra, por trás dessa mudança de comportamento existe outro problema significativo: nem todo mundo compreende o que está escrito.

Estudo feito pelo Disque Saúde, do Ministério da Saúde, aponta que apenas 38% das pessoas que fazem leitura das embalagens entendem as informações. A pesquisa não é recente, mas ainda reflete a realidade, segundo Patrícia, à frente da Nutripon Clínica e Consultoria. “O que as pessoas mais olham é a quantidade de calorias”, diz.

Isso, porém, não é nem de longe o mais preocupante. Para uma alimentação saudável, é preciso observar as informações nutricionais e a relação de ingredientes presentes no produto, ou seja, o que cada um deles faz pelo organismo – de bom e de ruim. “O rótulo é uma forma de comunicação da indústria com o consumidor”, explica.

De acordo com ela, esses dados não são equivalentes ao produto como um todo, e sim de uma porção. E aí é que mora o perigo. Na soma, pode estar oculta uma quantidade prejudicial de substâncias como os açúcares acrescentados, considerados ruins, e os açúcares presentes naturalmente, que não são ruins, mas em excesso comprometem a dieta.

“O grande problema é que o açúcar pode estar com outros nomes, como invertido, mascavo, orgânico, demerara. Além disso, sua forma molecular composta por glicose e frutose aparece em outros componentes, como o xarope de glicose, o xarope de milho, a maltodextrina, a dextrina e o mel”, diz Patrícia.

Ela destaca ainda que se o açúcar aparece em primeiro lugar na lista, o produto certamente conterá porções elevadas desse composto. Explica-se: a ordem em que os ingredientes são apresentados obedece ao seu peso no alimento.

As gorduras trans e a interesterificada – mistura de gordura hidrogenada e óleos vegetais – também são ingredientes que costumam ser camuflados. Isso porque a legislação brasileira abre essa brecha.

No caso da trans, encontrada em gorduras hidrogenadas, em frituras e em alimentos de origem animal, se o produto tiver até 0,2 grama, pode ser declarado como isento. Logo, se o consumidor consumir mais que uma única porção ou mesmo consumir outros produtos declarados como isentos, pode passar da quantidade de 2 gramas diárias permitida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (órgão regulador de medicamentos e alimentos) deu prazo até 2018 para retirar essa gordura dos alimentos. A Europa também trabalha nessa questão por causa da Síndrome Metabólica (conjunto de doenças que aumenta o risco de problemas cardiovasculares), da diabetes e da hipertensão.

A gordura na forma interesterificada não é declarada apesar de trazer enormes prejuízos, como diminuição do HDL (o “colesterol bom”, que retira gordura dos vasos e artérias) e aumento do LDL (o “colesterol ruim”, que deposita gordura nos vasos e artérias).

Outro ponto de observação é que o sódio declarado no rótulo é apenas o presente nos alimentos. O que está embutido em aditivos como corantes, por exemplo, não é discriminado no rótulo.

A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda que adultos consumam até 5 gramas por dia de sal e de cerca de 50 gramas por dia no caso dos açúcares. No entanto, um estudo do Ministério da Saúde mostra que 70% dos brasileiros estão extrapolando esses limites e consomem ao redor de 12 gramas de sal, mais do que o dobro do recomendado.

Patrícia ainda destaca que os alimentos processados receberam sal e açúcar para durar mais. Os ultraprocessados – como refeições prontas, feitas com extratos dos produtos naturais – são abundantes em conservantes.

O que é importante observar na hora de comprar um produto?

– Veja a proporção de nutrientes nos ingredientes, como farinha integral, açúcar e sódio, principalmente em dietas que têm restrição destes alimentos ou nutriente;

– Evite alimentos com corantes artificiais ou muitos aditivos;

– Atente a alimentos light: há uma redução de no mínimo 25% em alguns dos seus ingredientes –gordura, açúcar ou calorias –, mas preste atenção, pois ao reduzir a gordura, por exemplo, pode-se aumentar a quantidade de carboidratos;

– Avalie alimentos diet: destinados para uma população com controle específico de algum alimento ou nutriente, como açúcar, mas que podem ter alto teor de gordura ou outro tipo de carboidrato;

– Pacientes com pressão alta devem observar outros ingredientes que contêm sódio, como ciclamato de sódio, bicarbonato de sódio.

– Pessoas em situações de restrição de glúten, lactose ou alérgenos, como castanhas, devem observar se há informação adicional deles da composição do produto.

Fonte: Nutripon Clínica e Consultoria

O que você tem que saber para comprar sem erro

  • Lista de ingredientes

Devem constar em ordem decrescente, conforme a proporção no produto.

  • Aditivos

Estão listados logo após os ingredientes. São substâncias adicionadas aos alimentos com o propósito de manter ou modificar o seu sabor ou de melhorar a sua aparência.

  • Origem do produto

Deve especificar o fabricante e o local de produção.

  • Prazo de validade.

Deve ter dia, mês e ano.

  • Conteúdo líquido

É expresso em unidades como gramas e mililitros.

  • Lote

Deve estar impresso para que o produto seja rastreado e analisado rapidamente em caso de problema.

  • Informações nutricionais:

Elas devem trazer:

a) Porção do alimento: quantidade que deve ser ingerida, considerando uma dieta saudável. Refere-se à porção indicada na embalagem, não ao peso total do produto.

b) % VD: Percentual de valores diários, indicando o quanto o produto apresenta de energia e nutrientes em uma dieta de 2.000 calorias. As calorias, os carboidratos, as proteínas, as gorduras totais e saturadas, a fibra alimentar e o sódio devem ser obrigatoriamente declarados, exceto quando o produto não tiver algum desses nutrientes. Informações complementares como colesterol, cálcio e ferro, além de vitaminas e outros minerais são opcionais.

  • Instruções sobre o modo apropriado

A embalagem deve trazer como fazer reconstituição, descongelamento ou outro tratamento adequado para consumo do produto.

Políticas públicas têm de levar em conta diferentes modos de envelhecer

O interesse sobre longevidade veio com o processo de envelhecimento dos meus pais, fonte inesgotável de pautas. Muito do que escrevo é por causa deles. E sempre fui crítica em relação ao modo como eles enfrentavam as dificuldades de envelhecer. Nesse processo, muitos preconceitos sobre como o velho tem de se comportar diante da velhice caíram por terra.

Nunca se tratou de preconceito no sentido conservador da coisa, mas de cultivar autoestima e de ter coragem para se transformar diante das mudanças inevitáveis. Acontece que duas leituras desta semana me fizeram refletir sobre como é complicado lidar com a diversidade na velhice. E como é difícil manter a liberdade de se envelhecer como se bem entender, pois nem todo mundo envelhece da mesma maneira.

Entre as inúmeras notícias que têm sido divulgadas sobre a Economia Prateada – aquela movimentada pelos grisalhos –, a mídia dá ênfase aos idosos ativos e com autonomia.  Mas embora estejamos vivendo mais, isso não significa que seja com saúde e qualidade de vida.

É o que mostra pesquisa da Organização Pan-Americana de Saúde, realizada desde 2000: a Sabe (Saúde, Bem-estar e Envelhecimento). A ideia é avaliar como os idosos estão lidando com os desafios da idade em sete centros urbanos, entre os quais Bridgetown (Barbados); Buenos Aires (Argentina); São Paulo (Brasil); Santiago (Chile); Havana (Cuba); Cidade do México (México) e Montevidéu (Uruguai).

O resultado no País reforça a necessidade de uma agenda nacional de saúde pública voltada para o envelhecimento, conforme defende a professora Yeda Aparecida de Oliveira Duarte, do Departamento de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora da Sabe, na coluna de Mariza Tavares, para o G1.

As estatísticas foram apresentadas no XXI Congresso Brasileiro de Geriatria e  Gerontologia, realizado entre 6 e 8 de junho, no Rio de Janeiro. E mostram crescimento do número de idosos com doenças crônicas, assim como aumento do grupo daqueles que não conseguem desempenhar uma ou mais atividade física básica, como alimentar-se ou tomar banho.

Outra grande parcela não consegue realizar ações instrumentais como cozinhar,  usar transporte público ou privado, cuidar de animais de estimação e das próprias finanças.

O que esse estudo desenha é que nem todos envelhecem da mesma maneira. A longevidade não é homogênea. As necessidades vão além do direito à saúde e envolvem a educação de cuidadores e familiares para lidar com isso.

“Não estamos envelhecendo, mas rejuvenescendo”,  contrapõe a pesquisadora do Instituto de Pesquisas Econômicas (IPEA), Ana Amélia Camarano, especialista em envelhecimento populacional, em entrevista para a Folha de S. Paulo.  Para ela,  o conceito de idoso ficou velho.

Sob esse ângulo, os 60+ de hoje não são idosos como os de antigamente. E, mesmo com as rugas e os joelhos doloridos, continuam a ser na velhice quem sempre foram no decorrer de suas vidas. Respeitar essa individualidade faz parte de uma cultura que ainda precisa ser construída.

Universo diverso em Gracie and Frankie

Para quem deseja entender um pouco melhor desse universo diverso, recomendo a série Gracie and Frankie, de Marta Kauffman (a mesma de Friends) e Howard J. Morris.  E fica aqui meu obrigada à Netflix, que detém os direitos autorais da imagem usada acima, pois se aventurar pela narrativa é  o mesmo que receber um abraço.

“Grace and Frankie exalta a fortaleza destas mulheres que encontraram o próprio conforto por meio da adversidade. O que de fora soa como teimosia para elas é na verdade um ato de resistência, no melhor sentido da palavra”, avalia o AdoroCinema.

A trama gira em torno da questão do envelhecimento,  de forma dramática mas com muito humor. Tudo começa quando Grace (Jane Fonda) e Frankie (Lily Tomlin) se veem obrigadas a dividir moradia após seus respectivos maridos Robert (Martin Sheen) e Sol (Sam Waterston) se declararem gays e amantes há 20 anos.

Diga-se de passagem, que todos estão na faixa dos 70, mas as mulheres – sempre tidas como seres mais frágeis – protagonizam a trama. Sem dar spoiler e ainda entretida com a terceira temporada – a estreia da quinta está prevista para 2019 – gostaria apenas de destacar o quão didática ela pode ser para lidarmos com o ageismo.

Muito além da reforma da Previdência

No trato com o envelhecimento, uma questão fundamental, de acordo com a especialista do IPEA, é pensar na velhice desde já e garantir que os idosos do futuro, os novos idosos, envelheçam bem até 2050, quando o número de 60+ mais deve triplicar. Algo só possível com políticas públicas na área de educação, trabalho e renda, além de saúde.

Por isso, conhecer o universo tão bem retratado em Gracie and Frankie pode ajudar a refletir sobre as diferenças na hora de elaborar um projeto para o futuro, que não é linear. Quem me garante que em vez do cartão de estacionamento para idoso eu não vou precisar é de uma boa calçada para circular com uma possante cadeira de rodas?

Reflexões como essas precisam pautar o diálogo da sociedade agora para construção de um caminho que todos nós vamos inevitavelmente trilhar.  Não é o rótulo em relação a essa fase da vida que importa, mas como nos educamos em relação a esse processo para o amanhã, e de que maneira atuamos hoje. É isso que fará a diferença.

Então seja lá qual for o termo adotado – velhice, terceira idade, melhor idade, longevidade, maturidade –, o que importa é que somos seres únicos e precisamos batalhar pelo direito de envelhecer ao nosso modo.  Afinal, como diz a canção Noite Severina, lindamente interpretada por Ney Matogrosso, um ícone da longevidade e da diversidade: “Cada ser tem sonhos a sua maneira”.

OLHE debate abuso contra idosos

O dia 15 de junho marca o Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa. A data foi instituída em 2006, pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Rede Internacional de Prevenção à Violência à Pessoa Idosa. “O objetivo é criar uma consciência mundial, social e política da existência da violência contra a pessoa idosa, e, simultaneamente, disseminar a ideia de não aceitá-la como normal”, diz a assistente social Marilia Berzins, presidente do Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento – OLHE.

Nesse caminho, o OLHE promove no dia 14, na Faculdade de Saúde Pública, em São Paulo, o evento As diversas faces da violência contra a pessoa idosa. Inscrições podem ser feitas a partir do dia 7 aqui.  “É aberto ao público em geral porque é importante entender que muitos sofrem abuso da própria família e, mesmo de fora, não podemos fechar os olhos a esse fato”, informa Marilia, que será uma das palestrantes.

OLHE

Na maioria dos casos, os filhos são os maiores agressores (aproximadamente 60%) e as mulheres são as maiores vítimas (64%). A faixa etária mais atingida é aquela que vai dos 60 aos 69 anos, com 38% dos casos. Os principais tipos são a negligência, violência psicológica e o abuso financeiro; filhos ou netos se apoderam de cartões de benefícios dos idosos e os deixam na penúria.

Relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) publicado na revista Lancet Global Health, revela que um em cada seis idosos é vítima de algum tipo de violência em todo o mundo. Segundo o estudo, 16% das pessoas com mais de 60 anos sofreram algum tipo de abuso. Entre os casos, estão negligência e violência psicológica, física e sexual.

Os dados foram coletados em 28 países e indicam que a violência contra idosos está aumentando. E a OMS destaca que, para os mais de 140 milhões de pessoas idosas no mundo que sofrem com o problema, isso tem um custo individual e coletivo sério.

A organização estima que, em 2050, o número de idosos vai dobrar, chegando a 2 milhões. A grande maioria estará vivendo em países de baixa e média rendas. Se a proporção de vítimas continuar como atualmente, o número de idosos afetados por abusos ou violência pode alcançar 320 milhões até lá, de acordo com o relatório.

Disque 100

A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República mantém à disposição do público o “Disque 100”. Ao chamar, é a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos que receberá e examinará as denúncias e reclamações de atos que envolvam violações ao Estatuto do Idoso. As denúncias poderão ser anônimas ou, quando solicitado pelo denunciante, é garantido o sigilo da fonte das informações.

É a Lei 10.741 que regula e assegura direitos às pessoas maiores de 60 anos.

O poder da economia prateada digital

Retrato do consumidor sênior realizado pela Hype60+ em parceria com a Mind Miners  mostra que nossos idosos estão cada vez mais digitais, comportamento esse que já influencia na decisão de compra. Hoje 85% desse público tem no Google a principal ferramenta de pesquisa na hora da aquisição de um produto. E as compras pela internet já somam 47%.

A pesquisa Hábitos de Consumo dos 50+, porém, revela que a maioria dos entrevistados (57%) se sente invisível para o mercado. Trata-se de uma parcela de quase 15% da população brasileira – o Brasil possui quase 30 milhões de pessoas acima dos 60 anos – que buscam atendimento específico.

“As marcas perceberam essa onda, mas não tiveram tempo de se planejar ainda e não sabem como incluir essa parcela da população nos seus negócios”, diz a coordenadora da pesquisa e co-fundadora do Hype60+, Layla Vallias. “Há grandes oportunidades para as empresas entenderem e atenderem melhor esse segmento que só cresce no País”.

O Hype60+ é um núcleo formado por um grupo de profissionais de marketing especializados no consumidor sênior e que juntos, ajudam empresas e organizações a desenvolverem melhores produtos, serviços e experiências para o público maduro.

Sem estereótipos

Layla destaca que os 50+ estão longe do estereótipo do velhinho de bengala ou tricotando sentado numa cadeira de balanço que fazem parte do imaginário popular. “Em meados século passado chegar a maturidade parecia um milagre, hoje ela é um novo ciclo cheio de oportunidades e isso se reflete nos hábitos de consumo”, afirma.

Daí o termo Economia Prateada, que surgiu no Japão – país com maior número de idosos no mundo – na década de 1970, e se espalhou pela Europa, a começar pela França. “Hoje se houve muito falar sobre ‘silver economy’ e ‘gray dollar’ nos Estados Unidos também”, conta Layla. Na prática, é a economia alimentada pelos consumidores com 60 anos de idades ou mais. Os grisalhos, em bom português.

Em 2010, a quantia gasta por essa faixa etária foi de 8 US$ trilhões. A previsão é de que alcance US$ 15 trilhões até 2020. Um imenso mercado, de acordo com o Movimento Mundo Prateado.

Um sinal dessa tendência é indicado pelo artigo publicado pelo The Fiscal Times de 2015 que chama atenção para o fato de a famosa Selfridges londrina  lançar uma campanha orientada aos consumidores grisalhos, pela primeira vez naquele ano. Suas vitrines, antes sempre ocupadas por jovens, abriram espaço para os sonhos de consumo bancados pela economia prateada. “É o reconhecimento de que eles agora são protagonistas no mercado”, avalia Layla.

Conectados ao mundo digital

Os consumidores brasileiros desta faixa são igualmente ávidos por bens e serviços que aumentem sua qualidade de vida e sejam desenhados levando em consideração suas necessidades.  De acordo com a pesquisa, que analisou o que os maduros mais consomem e do que sentem falta, os sites de notícias (85%) e redes sociais (83%) são os principais meios utilizados pelos 50+ para se manter informados. Veículos tradicionais como o jornal e televisão tem perdido espaço na busca por informação.

O serviço mais consumido, no geral, é a TV paga, mas isso pode mudar por faixa etária. Para quem tem entre 50 e 59 anos, serviços de entretenimento, como Netflix e Spotify são os mais acessados, enquanto para quem tem mais de 60 anos mobilidade e saúde figuram nos serviços mais procurados.

Apontou ainda que Educação está entre as prioridades: 55% dos 50+ sentem falta de cursos no geral (fora línguas), seguido de vestuário e roupas adequados a sua idade (47%). Para 42% faltam alimentos que atendam necessidades específicas, enquanto serviços de turismo e cursos de idiomas/ intercâmbio aparecem com (37%) e (34%), respectivamente. As soluções para adaptação/ acessibilidade da casa foram apontados por 32% dos entrevistados e produtos de beleza por 30%.

De acordo com o estudo, alimentação (46%) e plano de saúde (39%) são as principais despesas pessoais citadas pelos entrevistados. Os gastos com a casa representam 67% da renda e 19% são destinados aos gastos pessoais.

Das 863 pessoas de todo o país entrevistadas, 73% afirmaram ter casa própria, 14% moram em casa alugada. Outros 7% moram em casa própria em pagamento e 6% em moradia emprestada ou cedida. Os 50+ estão vivendo cada vez mais sozinhos, seja por viuvez, ninho vazio ou separação. No entanto, 33% moram em duas pessoas, em geral o cônjuge e são responsáveis pelas próprias compras.

É um retrato que revela o tamanho do desafio das empresas para incluir esse público na sua estratégia de negócio.

Um senhor mercado

O déficit da Previdência Social despertou no Brasil o debate sobre questões relacionadas ao envelhecimento. Mas essa é só a ponta do iceberg de uma parcela da população tida, muitas vezes, como fardo para a economia. “É preciso não só entender, mas viver o envelhecimento com naturalidade em toda sua diversidade”, diz Simone Jardim, embaixadora da Aging 2.0, organização global com sede em São Francisco, nos Estados Unidos, que promove o fortalecimento de startups focado em produtos e serviços inovadores para o público 50+, ao comentar que encarar a idade avançada demanda uma mudança cultural do próprio idoso.

Isso porque, amparado pela maior expectativa de vida, o número de brasileiros acima de 65 anos deve praticamente quadruplicar até 2060, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE. Assim, a população com essa faixa etária chegará a mais de 58 milhões ou quase 27% do total no período.

Um público que, segundo pesquisa do Data Popular, tem renda média até 40% maior sobre a renda média nacional. E que movimenta em torno de  R$ 1,58 trilhão, equivalente ao consumo de duas Holandas. “Mesmo assim, além da indústria da doença, não se vê praticamente nenhuma outra investindo em produtos específicos”, diz o empresário Nilton Molina, presidente do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon.

Trata-se de uma entidade criada com objetivo de contribuir com ações na área do trabalho, de cidades e mobilização social para propor soluções em torno da questão da longevidade.  A partir do instituto surgiu o Movimento Real Idade, que reúne apoiadores de todos os segmentos da sociedade e do governo, em torno do tema, a fim de discutir a rápida mudança demográfica no Brasil e aprofundar a percepção das oportunidades e desafios provocados por esse processo.

Na avaliação de Molina, embora a indústria absorva o potencial econômico das pessoas idosas, é importante notar que o padrão de consumo é alterado à medida que se envelhece.  Em famílias onde há pelo menos 50% de idosos, despesas com saúde e cuidados pessoais e alimentação são maiores comparativamente com outras famílias. “Não creio que isso seja ignorado pelas empresas, mas o ponto é: elas buscam conhecer melhor o consumidor idoso e desenvolver produtos que atendam seus interesses e necessidades?”

O fato de 45% dos entrevistados ter indicado dificuldades para encontrar produtos adequados, segundo uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), mostra que essa movimentação ainda é tímida.

Velho conhecido

O processo de envelhecimento da população é algo de conhecimento público, o que falta é passar à ação. “Quando empresas adotam posições que evidenciam sua preocupação e interesse na temática, como no caso do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon, isso chama a atenção.”

E os desafios não são poucos. Passam pelo investimento necessário em entender as reais necessidades e desejos desse público até à forma de conceber e desenvolver produtos específicos, coisa que já acontece em países desenvolvidos. A França e a Alemanha têm políticas industriais específicas para estimular a chamada economia da longevidade.

A soma das atividades econômicas geradas pela compra de produtos e serviços pelos americanos acima de 50 anos e a movimentação subsequente motivada por esses gastos representava 46% do PIB dos Estados Unidos em 2012, e espera-se que esse número chegue a 52% em 2032. “Essa força não ocorreria sem a existência de um conhecimento maior sobre o segmento 50+, nem sem investimento em desenvolvimento de produtos especializados”, diz Molina.

Mudança cultural

Mesmo lentamente, uma rede de negócios inovadores com foco em produtos e serviços pensados para atender consumidores de idade mais avançada começa a evoluir no Brasil. A proposta é transformar as visões estereotipadas que a sociedade brasileira ainda tem sobre as pessoas mais maduras, como considerá-las “velhas” demais para trabalhar ou iniciar um negócio próprio, praticar esportes radicais ou voltar à sala de aula. É que pensa e pratica o empresário Thomas Case (na foto de divulgação que abre o texto), de pouco mais de 80 anos.

Após a venda da Catho, plataforma de vagas de empregos na internet, Case fundou em São Paulo, em 2009, a Pés Sem Dor. A empresa que produz palmilhas ortopédicas sob medida nasceu em consequência de um problema próprio. Praticante de atividade física sete dias por semana, as dores nos pés e nos joelhos o fizeram buscar soluções para manter a rotina esportiva e deram o pontapé inicial para uma empreitada hoje em franca expansão, com 15 pontos de vendas. “Eu poderia parar, mas minha missão na vida é trabalhar”, diz sorrindo.

Segundo Case, o sucesso se deve a dois fatores: investimentos na educação dos funcionários e em tecnologia. Todos os 50 colaboradores da Pés Sem Dor recebem bolsas para suas graduações, MBAs, cursos técnicos ou línguas estrangeiras. Com parceiros na Inglaterra, Alemanha e China, o empresário viaja com frequência à procura de novas tecnologias.

“O doutorado na Universidade de Michigan, nos EUA, me ajudou na recente parceria com a Vibmed, que desenvolve scanners 3D”,conta. Sediada na China, a Vibmed foi fundada por Wei Shi, que estudou na mesma universidade. Por meio da precisão de scanners impressoras 3D, o empreendedor que trabalha 12 horas diárias promete devolver o dinheiro aos clientes, caso as dores nos pés e nas pernas não sejam eliminadas.

Outro que propõe respostas positivas e inovadoras para a longevidade é o engenheiro Mario Solari, de 62 anos. Ele vem se dedicando ao projeto Idade Livre, uma startup voltada para o turismo na maturidade.  “O turismo é uma consequência da busca pelo bem estar”, afirma.

Empreendedor aguçado, ele cursou pós-graduação em Marketing Digital e Comércio Eletrônico, mantém os negócios em engenharia e ainda encontra tempo para praticar atividade física e se aventurar na venda direta de uma nova marca de nutracêuticos no Brasil, a Jeunesse. “Quem se considera idoso aos 60 vive em outra época”, diz empolgado com o primeiro roteiro de turismo de experiência que acaba de sair do forno. Um tour para degustação de puro malte escocês.

Texto originalmente publicado na Revista Gestão Empresarial.

Aluga-se filhos! E netos.

Quem é que nunca viu em apuros por falta de agenda para levar os pais ou o avós para os médicos ou para a formação social?

Com mais de 14% das pessoas vivendo sozinhas, das quais 44,3% com mais de 60 anos de idade – segundo dados  do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -, e a taxa de desemprego nas alturas, cria-se a equação perfeita para impulsionar uma nova atividade: filhos ou netos de aluguel.

Foi diante desse cenário e em busca de renda extra que engenheiro civil Aloísio Melo, 46 anos, virou neto de aluguel. Não foi diferente com o segurança Everaldo Silva, 48 anos, que criou um blog para vender o serviço de filho de aluguel.

Um na Grande Vitória (ES) e outro na Grande São Paulo (SP), respectivamente, usaram a criatividade para se recolocar no mercado e driblar a crise. E, na essência, oferecem o mesmo serviço: acompanhar o contratante em compromissos e atividades. Para ambos, a ideia surgiu a partir do trabalho como motorista do aplicativo Uber. Nas corridas, perceberam a carência de companhia e de auxílio de parte do público com mais de 60 anos de idade.

Paciência como aliada

Aloísio foi além do acompanhamento. Ao ensinar uma senhora a baixar o app de transporte, percebeu que tinha jeito para ensinar esse público a “decifrar” as novas tecnologias. Passou, assim, a oferecer aulas. É preciso, diz ele, trabalhar no “tempo da pessoa”. “A paciência é minha grande aliada”, garante.

Já a proposta de Everaldo é oferecer transporte diferenciado. “A ideia é acompanhar ao médico, ao supermercado, ao banco ou ao shopping para um momento de lazer, tudo dentro de uma relação de amizade e confiança”, conta.

Não é, dizem eles, que a família não tem interesse em estar no dia a dia. Mas a rotina corrida dos filhos e dos netos nem sempre permite uma brecha na agenda. E filhos e netos de aluguel podem acompanhar nas consultas médicas e até ser parceria em viagem.

Custos e referências

E quanto custa o serviço de netos de aluguel? Nenhum dos dois fala em valores. Dizem que tudo é negociável no contato com os clientes. Há quem cobre por hora. E existe quem feche um preço pelo serviço, aos moldes do já popular marido de aluguel, contratado para fazer pequenos reparos domésticos.

Apesar de ser uma opção para quem precisa de companhia em compromissos, o neto de aluguel ainda é visto por alguns com desconfiança. “Aqui em Marília [interior de São Paulo] não pegou apesar da oferta voluntária”, diz Adriana Cavallaris, 48 anos, outra potencial filha de aluguel “por vocação”.

Os contratantes ainda preferem os serviços de um cuidador, que tem formação na área e é uma atividade regulamentada, opina Claudio Hara, diretor do Centro Dia Angels4U e mestre em gerontologia social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. “Também é difícil mensurar um valor mínimo desse tipo de acompanhamento”, diz. “Talvez por isso ainda tenha se popularizado tão pouco.”

Texto originalmente publicado no Portal do Instituto da Longevidade Mongeral Aegon

A difícil arte de esvaziar malas velhas

O envelhecimento é condição subjetiva e heterogênea, e pode variar de indivíduo para indivíduo. Abordar o tema é abrir um leque de interpretações que se entrelaçam ao cotidiano e a perspectivas culturais diferentes.

Em muitos casos, junto ao processo de envelhecimento, o indivíduo vivencia outras situações, as quais estão relacionadas à própria personalidade. Um dos mais conflitos que tenho enfrentado nesse retorno ao lar dos meus pais é o apego excessivo a pertences que já não tem mais utilidade.

Minha mãe chega a chorar por conta de um monte de panela velha e encardida. Não sei como convencê-la, sem sofrimento, de que aquilo ali não vale nada. E fico com aquela dúvida: até que ponto acumular objetos deixa de ser uma forma de guardar lembranças para se tornar uma doença?

Quem responde é psicóloga Renata Bueno, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC): “É natural que o idoso guarde coisas que funcionem como recordações, que o ajudem a contar a história de sua vida.”

De olho no bem-estar

Ela explica que desde que não interfira no seu bem-estar isso não pode ser tratado como patologia porque é uma maneira de preservar sua memória. “Tem mais a ver com a personalidade de cada indivíduo e isso deve ser respeitado”, diz.

De acordo com ela, a Síndrome de Diógenes só pode ser diagnosticada quando as pessoas acumulam objetos, lixo e até animais em suas casas a ponto de perderem espaço necessário para a higiene própria, dormir ou se alimentar. “No caso de acumulação compulsiva, há isolamento social, diminuição da mobilidade e interferência nas atividades da vida diária, como tomar banho, dormir, comer e limpar”, afirma.

Ajuda de psicólogo

A personal organizer Luara Faria é especialista em organização de residências e conta que, não raro, é preciso atuar acompanhada de psicólogo para conseguir realizar o trabalho. “Os idosos tendem a ser mais metódicos e têm dificuldades em descartar coisas”, avalia.

Mas ela desenvolveu técnicas para atender esse público e dá dicas de como organizar melhor o ambiente.  O primeiro passo é fazer um inventário de tudo que há na casa. Ao catalogar as coisas fica mais fácil demonstrar o que é realmente descartável..

Depois, recomenda uma categorização ou setorização. Ao agrupar as coisas num mesmo setor, o acesso fica facilitado. “No caso de fotografias, por exemplo, separo tudo em álbuns por datas”, explica.

Acessibilidade evita acidentes

Ela destaca que é essencial poder mexer no que se tem e saber onde está. “Tudo tem de estar acessível para evitar acidentes”, diz, reforçando que embora seja o terceiro passo esse talvez seja o mais importante.

Outra dica é organizar os remédios de acordo com os horários e por tipo de necessidade. “É preciso dar autonomia para a pessoa, por isso também é recomendável deixar bilhetes e telefones de urgência sempre à vista.”

Texto originalmente publicado no portal do Instituto da Longevidade Mongeral Aegon.